sexta-feira, 12 de agosto de 2016

A PERFEITA ALEGRIA



Vindo São Francisco certa vez de Perusa para Santa Maria dos Anjos com frei Leão, em tempo do inverno e atormentado pelo fortíssimo frio, frei Leão perguntou-lhe:
Pai, peço-te, da parte de Deus, que me digas onde está a perfeita alegria?
E São Francisco assim lhe respondeu:
Quando chegarmos a Santa Maria dos Anjos, inteiramente molhados pela chuva e transidos de frio, cheios de lama e aflitos de fome, e batermos à porta do convento, e o porteiro chegar irritado e disser:
Quem são vocês?
E nós dissermos:
Somos dois dos vossos irmãos, e ele disser:
Não dizem a verdade; são dois vagabundos que andam enganando o mundo e roubando as esmolas dos pobres; fora daqui!
E não nos abrir e deixar-nos estar ao tempo, à neve e à chuva, com frio e fome até à noite: então, se suportarmos tal injúria e tal crueldade, tantos maus tratos, prazenteiramente, sem nos perturbarmos e sem murmurarmos contra ele (…) escreve que nisso está a perfeita alegria.
E se ainda, constrangidos pela fome e pelo frio e pela noite batermos mais e chamarmos e pedirmos pelo amor de Deus com muitas lágrimas que nos abra a porta e nos deixe entrar, e se ele mais escandalizado disser:
Vagabundos importunos, pagar-lhes-ei como merecem.
E sair com um bastão nodoso e nos agarrar pelo capuz e nos atirar ao chão e nos arrastar pela neve e nos bater com o pau de nó em nó:
Se nós suportarmos todas estas coisas pacientemente e com alegria, pensando nos sofrimentos de Cristo bendito, as quais devemos suportar por seu amor:
Ó irmão Leão, escreve que aí e nisso está a perfeita alegria, e ouve, pois, a conclusão, irmão Leão.
Acima de todas as graças e de todos os dons do Espírito Santo, os quais Cristo concede aos amigos, está o de vencer-se a si mesmo, e, voluntariamente, pelo amor, suportar trabalhos, injúrias, opróbrios e desprezos.
(Excerto dos “Fioretti de São Francisco”, via Contos e Lendas Medievais)
Por Aleteia


quarta-feira, 10 de agosto de 2016

TODOS NECESSITAMOS DA MISERICÓRDIA DO SENHOR


Todo ser humano, uns mais outros menos, tem necessidade de cura interior, isto porque todos temos feridas internas, muitas vezes ocultas, imperceptíveis, mas que podem influenciar de modo muito negativo nosso caráter, nosso comportamento, as nossas vidas, impedindo-nos de:
– Alcançarmos a integridade emocional, ou seja, de vivermos uma vida emocional equilibrada e relacionamentos sadios;
– Crescermos em santidade.
A nossa mente é como um iceberg. Um iceberg é uma enorme montanha de gelo no mar, que aparece muito grande, mas na realidade, grande é à parte que não vemos e que está submersa. Nossa mente tem três níveis, mas é no nível mais profundo, o do inconsciente, que estão armazenados esse acontecimento de nossa vida que nos traumatizaram. Por não sabermos lidar com eles nós os “empurramos” para lá como mecanismo de defesa; porém, mesmo; no inconsciente, eles podem influenciar nossas atitudes, nossas decisões e nossos relacionamentos (com Deus, com o mundo e conosco). Muitas vezes tentamos controlar essas lembranças dolorosas, mas nem sempre conseguimos e elas acabam tomando as rédeas da nossa vontade e as consequências são desastrosas. Por isso temos:
– Explosões de humor;
– Crises de depressões;
– Doenças psicossomáticas:
– Comportamentos destrutivos (alcoolismo, drogas, gula, ativismo, problemas na sexualidade, etc.)
Os efeitos são fáceis de reconhecer, porque são muitas as pessoas que vivem continuamente na tristeza e na angústia; outras se desesperam por qualquer coisa e até chegam a tentar o suicídio. Outras ainda são: pessimistas, tímidas, medrosas, inseguras, instáveis, inquietas, agitadas e insatisfeitas. Enfim, outras há que jamais se libertam dos remorsos de culpas passadas e já não acreditam que Deus as ama. Consideram antes a Deus como a um inimigo, pronto para puni-las. Tais pessoas também desconfiam das outras, mantendo-se afastadas de todos por arrogância e desprezo.
Verificamos essas realidades todos os dias, mesmo em pessoas que se consideram normais e equilibradas, mas que na verdade, são vítimas de desequilíbrios emocionais, causados por traumas que, talvez, já existam há anos.
Há as que tomam calmantes. Essas, porém, só afastam a tensão por um pouco de tempo, sem jamais erradicar a verdadeira causa. Outras afogam suas angústias no álcool, nas drogas ou nos prazeres da carne. Mas, passando o enlevo momentâneo, os problemas voltam com uma força maior e o que é pior, ficam dependentes das drogas, no vício. Outras buscam toda sorte de divertimentos, mas seus males os seguem para onde quer que se dirijam.
Estamos presos às cadeias do passado e sofremos:
– Pelas nossas imperfeições;
– Pelas imperfeições dos outros;
– E vamos ficando confusos, bloqueados, temos dificuldades de nos relacionar com Deus, com os outros e de acreditar e se lançar.
Mas o homem foi criado por Deus, para Deus e necessita de Deus para alcançar a felicidade eterna (seu fim último). Só que todos nós colocamos nossas expectativas nos outros, esperamos dos outros, confiamos nos outros, queremos ser amados pelos outros, os quais são tão imperfeitos e limitados quanto nós. Acabamos por nos sentir rejeitados, magoados, sozinhos e vazios.
Muitas vezes este processo acontece de modo sutil, que nem percebemos, mas nossos corações ficam escuros e vazios. Causa uma desordem nos nossos relacionamentos e os sentimentos de posse vão gerando ciúmes, egoísmo, inveja… E a raiz de tudo está lá nos primórdios de nossa vida, no berço.
Precisamos nos deixar guiar por Deus e não por nossos traumas, mágoas e feridas. Jesus é que é o nosso verdadeiro Senhor e Senhor de nossas vidas, nossa justificativa. Só Ele tem poder para penetrar nas nossas lembranças e transforma-las de trevas em luz(Is 53,4-5)
Mas para que Jesus venha a agir sobre as nossas feridas é preciso querermos. É necessário um ato de vontade de nossa parte para convidá-lo a purificá-las, libertá-las. Precisamos ser libertos para nos tornarmos homens novos e mulheres novas, como Jesus nos chama a ser.
Por Comunidade Shalom via Aleteia