quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

MOMENTO COM A PALAVRA 19.02.15


Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas 9,22-25
Naquele tempo disse Jesus aos seus discípulos:
22'O Filho do Homem deve sofrer muito,
ser rejeitado pelos anciãos,
pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei,
deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia.'
23Depois Jesus disse a todos:
'Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo,
tome sua cruz cada dia, e siga-me.
24Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la;
e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará.
25Com efeito, de que adianta
a um homem ganhar o mundo inteiro,
se se perde e se destrói a si mesmo?
Palavra da Salvação.

O Evangelho de São Lucas, em especial, mostra a imagem de Jesus como um grande missionário sempre a caminhar com a missão de pregar o Reino de Deus. Aproveitamos esta reflexão própria do evangelho, aproveitemos esse tempo bonito do Quaresma para aprofundamento de nosso discipulado.
A perícope de hoje (capítulo 9) nos situa no momento que antecede a subida de Jesus para Jerusalém. Uma viagem que inicia-se no capítulo 10 do evangelho e se conclui no capítulo 19 na casa do amigo Zaqueu. Será nessa grande viagem que Jesus realizará muitos milagres na vida do povo e pregará, por excelência, o Reino de Deus.
Nesse sentido a pregação do Reino de Deus é mostrada como renúncia e doação na vida do outro. É esta a mensagem que nos apresenta a boa noticia, culminando com o tempo favorável da quaresma. Uma doação expressa na vida e missão de Jesus “Depois Jesus disse a todos: 'Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará’”.
Renúncia, doação, ser presença de Deus na vida do outro. Eis as grandes metas que nos engrandecerá na caminha quaresmal como discípulo e seguidor de Jesus Cristo. A exemplo de Jesus, nós devemos passar por esse mundo não para buscar a satisfação dos nossos interesses e necessidades, mas para deixar de lado tudo o que nos impede de ir ao encontro de nossos irmãos e irmãs que precisam de nós, da nossa presença e do nosso serviço, e que também nos impede de ir ao encontro do próprio Deus para vivermos com ele a sua vida.


quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

PAPA FRANCISCO INICIO DA QUARESMA 2015


Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2015
Terça-feira, 27 de janeiro de 2015
Boletim da Santa Sé
“Fortalecei os vossos corações” (Tg 5, 8)
Amados irmãos e irmãs, Tempo de renovação para a Igreja, para as comunidades e para cada um dos fiéis, a Quaresma é sobretudo um «tempo favorável» de graça (cf. 2 Cor 6, 2). Deus nada nos pede, que antes não no-lo tenha dado: «Nós amamos, porque Ele nos amou primeiro» (1 Jo 4, 19). Ele não nos olha com indiferença; pelo contrário, tem a peito cada um de nós, conhece-nos pelo nome, cuida de nós e vai à nossa procura, quando O deixamos. Interessa-Se por cada um de nós; o seu amor impede-Lhe de ficar indiferente perante aquilo que nos acontece. Coisa diversa se passa conosco! Quando estamos bem e comodamente instalados, esquecemo-nos certamente dos outros (isto, Deus Pai nunca o faz!), não nos interessam os seus problemas, nem as tribulações e injustiças que sofrem; e, assim, o nosso coração cai na indiferença: encontrando-me relativamente bem e confortável, esqueço-me dos que não estão bem! Hoje, esta atitude egoísta de indiferença atingiu uma dimensão mundial tal que podemos falar de uma globalização da indiferença. Trata-se de um mal-estar que temos obrigação, como cristãos, de enfrentar.
Quando o povo de Deus se converte ao seu amor, encontra resposta para as questões que a história continuamente nos coloca. E um dos desafios mais urgentes, sobre o qual me quero deter nesta Mensagem, é o da globalização da indiferença.
            Dado que a indiferença para com o próximo e para com Deus é uma tentação real também para nós, cristãos, temos necessidade de ouvir, em cada Quaresma, o brado dos profetas que levantam a voz para nos despertar.
            A Deus não Lhe é indiferente o mundo, mas ama-o até ao ponto de entregar o seu Filho pela salvação de todo o homem. Na encarnação, na vida terrena, na morte e ressurreição do Filho de Deus, abre-se definitivamente a porta entre Deus e o homem, entre o Céu e a terra. E a Igreja é como a mão que mantém aberta esta porta, por meio da proclamação da Palavra, da celebração dos Sacramentos, do testemunho da fé que se torna eficaz pelo amor (cf. Gl 5, 6). O mundo, porém, tende a fechar-se em si mesmo e a fechar a referida porta através da qual Deus entra no mundo e o mundo n’Ele. Sendo assim, a mão, que é a Igreja, não deve jamais surpreender-se, se se vir rejeitada, esmagada e ferida.
            Por isso, o povo de Deus tem necessidade de renovação, para não cair na indiferença nem se fechar em si mesmo. Tendo em vista esta renovação, gostaria de vos propor três textos para a vossa meditação.
1. «Se um membro sofre, com ele sofrem todos os membros» (1 Cor 12, 26): A Igreja.
            Com o seu ensinamento e sobretudo com o seu testemunho, a Igreja oferece-nos o amor de Deus, que rompe esta reclusão mortal em nós mesmos que é a indiferença. Mas, só se pode testemunhar algo que antes experimentámos. O cristão é aquele que permite a Deus revesti-lo da sua bondade e misericórdia, revesti-lo de Cristo para se tornar, como Ele, servo de Deus e dos homens. Bem no-lo recorda a liturgia de Quinta-feira Santa com o rito do lava-pés. Pedro não queria que Jesus lhe lavasse os pés, mas depois compreendeu que Jesus não pretendia apenas exemplificar como devemos lavar os pés uns aos outros; este serviço, só o pode fazer quem, primeiro, se deixou lavar os pés por Cristo. Só essa pessoa «tem a haver com Ele» (cf. Jo 13, 8), podendo assim servir o homem.
            A Quaresma é um tempo propício para nos deixarmos servir por Cristo e, deste modo, tornarmo-nos como Ele. Verifica-se isto quando ouvimos a Palavra de Deus e recebemos os sacramentos, nomeadamente a Eucaristia. Nesta, tornamo-nos naquilo que recebemos: o corpo de Cristo. Neste corpo, não encontra lugar a tal indiferença que, com tanta frequência, parece apoderar-se dos nossos corações; porque, quem é de Cristo, pertence a um único corpo e, n’Ele, um não olha com indiferença o outro. «Assim, se um membro sofre, com ele sofrem todos os membros; se um membro é honrado, todos os membros participam da sua alegria» (1 Cor 12, 26).
A Igreja é comunio sanctorum, não só porque, nela, tomam parte os Santos mas  também porque é comunhão de coisas santas: o amor de Deus, que nos foi revelado em Cristo, e todos os seus dons; e, entre estes, há que incluir também a resposta de quantos se deixam alcançar por tal amor. Nesta comunhão dos Santos e nesta participação nas coisas santas, aquilo que cada um possui, não o reserva só para si, mas tudo é para todos. E, dado que estamos interligados em Deus, podemos fazer algo mesmo pelos que estão longe, por aqueles que não poderíamos jamais, com as nossas simples forças, alcançar: rezamos com eles e por eles a Deus, para que todos nos abramos à sua obra de salvação.
2. «Onde está o teu irmão?» (Gn 4, 9): As paróquias e as comunidades
Tudo o que se disse a propósito da Igreja universal é necessário agora traduzi-lo na vida das paróquias e comunidades. Nestas realidades eclesiais, consegue-se porventura experimentar que fazemos parte de um único corpo? Um corpo que, simultaneamente, recebe e partilha aquilo que Deus nos quer dar? Um corpo que conhece e cuida dos seus membros mais frágeis, pobres e pequeninos? Ou refugiamo-nos num amor universal pronto a comprometer-se lá longe no mundo, mas que esquece o Lázaro sentado à sua porta fechada (cf. Lc 16, 19-31)?
            Para receber e fazer frutificar plenamente aquilo que Deus nos dá, deve-se ultrapassar as fronteiras da Igreja visível em duas direções.
Em primeiro lugar, unindo-nos à Igreja do Céu na oração. Quando a Igreja terrena reza, instaura-se reciprocamente uma comunhão de serviços e bens que chega até à presença de Deus. Juntamente com os Santos, que encontraram a sua plenitude em Deus, fazemos parte daquela comunhão onde a indiferença é vencida pelo amor.       A Igreja do Céu não é triunfante, porque deixou para trás as tribulações do mundo e usufrui sozinha do gozo eterno; antes pelo contrário, pois aos Santos é concedido já contemplar e rejubilar com o facto de terem vencido definitivamente a indiferença, a dureza de coração e o ódio, graças à morte e ressurreição de Jesus. E, enquanto esta vitória do amor não impregnar todo o mundo, os Santos caminham conosco, que ainda somos peregrinos. Convicta de que a alegria no Céu pela vitória do amor crucificado não é plena enquanto houver, na terra, um só homem que sofra e gema, escrevia Santa Teresa de Lisieux, doutora da Igreja: «Muito espero não ficar inativa no Céu; o meu desejo é continuar a trabalhar pela Igreja e pelas almas» (Carta 254, de 14 de Julho de 1897).
Também nós participamos dos méritos e da alegria dos Santos e eles tomam parte na nossa luta e no nosso desejo de paz e reconciliação. Para nós, a sua alegria pela vitória de Cristo ressuscitado é origem de força para superar tantas formas de indiferença e dureza de coração.
Em segundo lugar, cada comunidade cristã é chamada a atravessar o limiar que a põe em relação com a sociedade circundante, com os pobres e com os incrédulos. A Igreja é, por sua natureza, missionária, não fechada em si mesma, mas enviada a todos os homens.
Esta missão é o paciente testemunho d’Aquele que quer conduzir ao Pai toda a realidade e todo o homem. A missão é aquilo que o amor não pode calar. A Igreja segue Jesus Cristo pela estrada que a conduz a cada homem, até aos confins da terra (cf. At 1, 8). Assim podemos ver, no nosso próximo, o irmão e a irmã pelos quais Cristo morreu e ressuscitou. Tudo aquilo que recebemos, recebemo-lo também para eles. E, vice-versa, tudo o que estes irmãos possuem é um dom para a Igreja e para a humanidade inteira.
Amados irmãos e irmãs, como desejo que os lugares onde a Igreja se manifesta, particularmente as nossas paróquias e as nossas comunidades, se tornem ilhas de misericórdia no meio do mar da indiferença!
3. «Fortalecei os vossos corações» (Tg 5, 8): Cada um dos fiéis
Também como indivíduos temos a tentação da indiferença. Estamos saturados de notícias e imagens impressionantes que nos relatam o sofrimento humano, sentindo ao mesmo tempo toda a nossa incapacidade de intervir. Que fazer para não nos deixarmos absorver por esta espiral de terror e impotência?
Em primeiro lugar, podemos rezar na comunhão da Igreja terrena e celeste. Não subestimemos a força da oração de muitos! A iniciativa 24 horas para o Senhor, que espero se celebre em toda a Igreja – mesmo a nível diocesano – nos dias 13 e 14 de Março, pretende dar expressão a esta necessidade da oração.
            Em segundo lugar, podemos levar ajuda, com gestos de caridade, tanto a quem vive próximo de nós como a quem está longe, graças aos inúmeros organismos caritativos da Igreja. A Quaresma é um tempo propício para mostrar este interesse pelo outro, através de um sinal – mesmo pequeno, mas concreto – da nossa participação na humanidade que temos em comum.
            E, em terceiro lugar, o sofrimento do próximo constitui um apelo à conversão, porque a necessidade do irmão recorda-me a fragilidade da minha vida, a minha dependência de Deus e dos irmãos. Se humildemente pedirmos a graça de Deus e aceitarmos os limites das nossas possibilidades, então confiaremos nas possibilidades infinitas que tem de reserva o amor de Deus. E poderemos resistir à tentação diabólica que nos leva a crer que podemos salvar-nos e salvar o mundo sozinhos.
            Para superar a indiferença e as nossas pretensões de omnipotência, gostaria de pedir a todos para viverem este tempo de Quaresma como um percurso de formação do coração, a que nos convidava Bento XVI (Carta enc. Deus caritas est, 31). Ter um coração misericordioso não significa ter um coração débil. Quem quer ser misericordioso precisa de um coração forte, firme, fechado ao tentador mas aberto a Deus; um coração que se deixe impregnar pelo Espírito e levar pelos caminhos do amor que conduzem aos irmãos e irmãs; no fundo, um coração pobre, isto é, que conhece as suas limitações e se gasta pelo outro.
            Por isso, amados irmãos e irmãs, nesta Quaresma desejo rezar convosco a Cristo: «Fac cor nostrum secundum cor tuum – Fazei o nosso coração semelhante ao vosso» (Súplica das Ladainhas ao Sagrado Coração de Jesus). Teremos assim um coração forte e misericordioso, vigilante e generoso, que não se deixa fechar em si mesmo nem cai na vertigem da globalização da indiferença.
            Com estes votos, asseguro a minha oração por cada crente e cada comunidade eclesial para que percorram, frutuosamente, o itinerário quaresmal, enquanto, por minha vez, vos peço que rezeis por mim. Que o Senhor vos abençoe e Nossa Senhora vos guarde!

FRANCISCUS PP.

FAZEI PENITÊNCIA


Da Carta aos Coríntios, de São Clemente I, papa
(Cap. 7,4-8,3; 8,5-9,1; 13,1-4; 19,2: Funk 1,71-73.77-79.87) (Sec. I)
Fazei penitência
Fixemos atentamente o olhar no sangue de Cristo e compreendamos quanto é precioso aos olhos de Deus, seu Pai, esse sangue que, derramado para nossa salvação, ofereceu ao mundo inteiro a graça da penitência. Percorramos todas as épocas do mundo e verificaremos que em cada geração o Senhor concedeu o tempo favorável da penitência a todos os que a ele quiseram converter-se. Noé proclamou a penitência, e todos que o escutaram foram salvos. Jonas anunciou a ruína aos ninivitas, mas eles, fazendo penitência de seus pecados, reconciliaram-se com Deus por suas súplicas e alcançaram a salvação, apesar de não pertencerem ao povo de Deus.
Inspirados pelo Espírito Santo, os ministros da graça de Deus pregaram a penitência. O próprio Senhor de todas as coisas também falou da penitência, com juramento: Pela minha vida, diz o Senhor, não quero a morte do pecador, mas que mude de conduta (cf. Ez 33,11); e acrescentou esta sentença cheia de bondade: Deixa de praticar o mal, ó Casa de Israel! Dize aos filhos do meu povo: "Ainda que vossos pecados subam da terra até o céu, ainda que sejam mais vermelhos que o escarlate e mais negros que o cilício, se voltardes para mim de todo o coração e disserdes: 'Pai', eu vos tratarei como um povo santo e ouvirei as vossas súplicas” (cf. Is 1,18; 63,16; 64,7; Jr 3,4; 31,9).
Querendo levar à penitência todos aqueles que amava, o Senhor confirmou esta sentença com sua vontade todo-poderosa. Obedeçamos, portanto, à sua excelsa e gloriosa vontade. Imploremos humildemente sua misericórdia e benignidade. Convertamo-nos sinceramente ao seu amor. Abandonemos as obras más, a discórdia e a inveja que conduzem à morte. Sejamos humildes de coração, irmãos, evitando toda espécie de vaidade, soberba, insensatez e cólera, para cumprirmos o que está escrito. Pois diz o Espírito Santo: Não se orgulhe o sábio em sua sabedoria, nem o forte com sua força, nem o rico em sua riqueza; mas quem se gloria, glorie-se no Senhor, procurando-o e praticando o direito e justiça (cf. Jr 9,22-23; ICor 1,31).
Antes de mais nada, lembremo-nos das palavras do Senhor Jesus, quando exortava à benevolência e à longanimidade: Sede misericordiosos, e alcançareis misericórdia; perdoai, e sereis perdoados; como tratardes o próximo, do mesmo modo sereis tratados; dai, e vos será dado; não julgueis, e não sereis julgados; fazei o bem, e ele também vos será feito; com a medida com que medirdes, vos será medido (cf. Mt 5,7; 6,14; 7,1.2). Observemos fielmente este preceito e estes mandamentos, a fim de nos conduzirmos sempre, com toda humildade, na obediência às suas santas palavras. Pois eis o que diz o texto sagrado: Para quem hei de olhar, senão para o manso e humilde, que treme ao ouvir minhas palavras? (cf. Is 66,2).

Tendo assim participado de muitas, grandes e gloriosas ações, corramos novamente para a meta que nos foi proposta desde o início: a paz. Fixemos atentamente nosso olhar no Pai e Criador do universo e desejemos com todo ardor seus dons de paz e seus magníficos e incomparáveis benefícios.

sábado, 7 de fevereiro de 2015

5º DOMINGO TEMPO COMUM


5º DOMINGO TEMPO COMUM
Leitura do Livro de Jó 7,1-4.6-7
E Jó disse:
1'Não é acaso uma luta a vida do homem sobre a terra?
Seus dias não são como dias de um mercenário?
2Como um escravo suspira pela sombra,
como um assalariado aguarda sua paga,
3assim tive por ganho meses de decepção,
e couberam-me noites de sofrimento.
4Se me deito, penso:
Quando poderei levantar-me?
E, ao amanhecer, espero novamente a tarde
e me encho de sofrimentos até ao anoitecer.
6Meus dias correm mais rápido do que a lançadeira do
tear e se consomem sem esperança.
7Lembra-te de que minha vida é apenas um sopro
e meus olhos não voltarão a ver a felicidade!
Palavra do Senhor.
Os versículos que seguem soam como intervalo reflexivo. Jó antes de procurar o seu diálogo com Deus revela a intensidade de sua dor. Eis aqui nesse pequeno trecho do livro de Jó uma profunda reflexão sobre a sorte do homem, muito mais triste é o sofrimento de Jó. A dor de Jó torna-se mais dura que o próprio cansaço do trabalho, pois não produz um alento, nem de noite nem de dia. parte em busca do verdadeiro rosto de Deus. Numa busca apaixonada, sofrida, Jó descobre um Deus onipotente, incompreensível, que ultrapassa infinitamente as lógicas humanas; mas descobre, também, um Deus que ama com amor de Pai. Jó reconhece sua pequenez e finitude, a sua incapacidade para compreender os projetos de Deus. Ele não pode julgar Deus, nem entendê-lo à luz da lógica dos homens. Ao homem finito e limitado, só resta entregar-se nas mãos desse Deus, incompreensível, mas cheio de amor, e confiar plenamente n’Ele.
Leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios 9,16-19.22-23
Irmãos:
16Pregar o evangelho não é para mim motivo de glória.
É antes uma necessidade para mim, uma imposição.
Ai de mim se eu não pregar o evangelho!
17Se eu exercesse minha função de pregador
por iniciativa própria,
eu teria direito a salário.
Mas, como a iniciativa não é minha,
trata-se de um encargo que me foi confiado.
18Em que consiste então o meu salário?
Em pregar o evangelho, oferecendo-o de graça,
sem usar os direitos que o evangelho me dá.
19Assim, livre em relação a todos,
eu me tornei escravo de todos,
a fim de ganhar o maior número possível.
22Com os fracos, eu me fiz fraco,
para ganhar os fracos.
Com todos, eu me fiz tudo,
para certamente salvar alguns.
23Por causa do evangelho eu faço tudo,
para ter parte nele.
Palavra do Senhor.
A Palavra de Deus, que proporciona um diálogo intimo e profundo com Deus, é o melhor caminho para uma resposta ao sofrimento humano. Nesse trecho o Apóstolo Paulo mostra o seu ímpeto na pregação da Palavra. Ele próprio renunciou muitas vezes aos seus direitos, por causa do amor aos irmãos. Ele como apóstolo, podia reivindicar certos direitos e viver à custa do Evangelho… Mas nunca exigiu nada porque o que o preocupa não são os seus próprios direitos, mas o benefício das comunidades e dos irmãos (cf. 1 Cor 9,1-15).  É precisamente aqui que Paulo explica que anuncia o Evangelho, não por interesse próprio, mas por interesse dos irmãos.
Paulo declara que o anúncio do Evangelho não é, para ele, um título de glória, mas uma obrigação que lhe foi imposta. A partir do momento que encontrou Cristo, foi convocado a evangelizar. Quando alguém encontra Cristo e se torna discípulo, não pode ficar parado, mas tem de dar testemunho. O princípio fundamental que orienta a vida deste homem, apaixonado por Cristo e pelo Evangelho, não é os próprios interesses, mas o amor a Cristo e ao Evangelho. Por amor, ele renunciou aos seus direitos e fez-se “servo de todos”; por amor, ele identificou-se com os fracos, fez-se “tudo para todos”. O que é fundamental, o que é decisivo, o que é absoluto na vida de Paulo é o amor.
+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 1,29-39

Naquele tempo:
29Jesus saiu da sinagoga
e foi, com Tiago e João, para a casa de Simão e André.
30A sogra de Simão estava de cama, com febre,
e eles logo contaram a Jesus.
31E ele se aproximou, segurou sua mão
e ajudou-a a levantar-se.
Então, a febre desapareceu;
e ela começou a servi-los.
32É tarde, depois do pôr-do-sol,
levaram a Jesus todos os doentes
e os possuídos pelo demônio.
33A cidade inteira se reuniu em frente da casa.
34Jesus curou muitas pessoas de diversas doenças
e expulsou muitos demônios.
E não deixava que os demônios falassem,
pois sabiam quem ele era.
35De madrugada, quando ainda estava escuro,
Jesus se levantou e foi rezar num lugar deserto.
36Simão e seus companheiros foram à procura de Jesus.
37Quando o encontraram, disseram:
'Todos estão te procurando'.
38Jesus respondeu:
'Vamos a outros lugares, às aldeias da redondeza!
Devo pregar também ali, pois foi para isso que eu vim'.
39E andava por toda a Galiléia,
pregando em suas sinagogas e expulsando os demônios.
Palavra da Salvação.
Assim como na primeira leitura (retirada do livro de Jó) quando o mesmo se recusa a sucumbir num sistema religioso da época.  Passa de uma teologia da retribuição onde Deus abençoa com benevolência os justos e castiga os maus, parar um diálogo profundo com Deus. Assim também no evangelho, Jesus inicia sua pregação rompendo com o sistema religioso da época.
O inicio do ministério de Jesus, no evangelho de são Marcos, não começa no templo, na grande capital Jerusalém. O ministério de Jesus inicia num povoado, visitando as famílias. A sogra de Pedro é a primeira beneficiária do poder curador de Jesus. Uma vez curada põe-se a serviço. Essa expressão exemplar da mulher curada nos faz lembra aquilo que é colocado na segunda leitura “ai de mim se eu não evangelizar”.
O texto apresenta-nos Jesus agindo na construção do “Reino”. O Evangelho nos mostra três quadros;
I- Na “casa de Pedro”, Jesus oferece a vida nova, curando a sogra de Pedro (pediram por ela – quem pede está em consonância com a misericórdia de Deus). Três pormenores sobressaem;
1 Jesus “aproximou-Se” da sogra de Pedro. A iniciativa de Se aproximar, é sempre de Jesus.
2 Jesus tomou a doente pela mão e “levantou-a”. O contato com Jesus devolve-lhe a vida.
3 A mulher “começou a servi-los”. O contato com Jesus se concretiza no serviço dos irmãos.
II - “a cidade inteira” reunida diante da porta da casa de Pedro e “Jesus” “curou muitas pessoas”. Jesus tem poder para libertar o homem das suas misérias e lhe oferecer uma vida nova e feliz.
A “casa de Simão Pedro” nos propõe – uma representação da Igreja. É aí que Jesus está oferecendo vida em abundância.
III- Jesus num lugar solitário, em oração. A oração faz parte do ministério de Jesus. A oração é, para Jesus, o cume e a fonte da ação.
É na oração que Jesus encontra a motivação para a sua ação em prol do “Reino”; O encontro com Deus é um momento de tomada de consciência dos planos e compromissos daquilo que Deus quer.
Nos “milagres” de Jesus é preciso ver os “sinais do Reino”. São gestos que anunciam o nascimento desse mundo novo, sem exclusão, sem sofrimento, onde todos têm a possibilidade de ser felizes. É isso que Jesus veio fazer, e é essa a missão que os discípulos de Jesus devem procurar concretizar na terra.

“Somos postos de pé para nos colocar a serviço.”
Bom domingo e boa semana a todos!
Um grande abraço Pe. Felipe.