Dom Jaime Spengler
O tema escolhido para a mensagem
deste ano é: "Comunicar a família: ambiente privilegiado do encontro na
gratuidade do amor". Trata-se de um tema de grande relevância para a
atualidade. Afinal, a família é o primeiro lugar onde aprendemos a nos
comunicar. É a partir do ambiente familiar que aprendemos a construir contatos
com o mundo.
A comunicação é dimensão
constitutiva do ser humano; ela é vital ao próprio ser humano, enquanto ser em
relação. Essa observação é para nós importante, pois a comunicação não é
simplesmente questão de aparelhos, máquinas, técnicas ou tecnologia. A comunicação
é essencialmente questão de relações humanas; é encontro interpessoal!
Para demonstrar esse dado
fundamental, a mensagem do Papa parte da cena bíblica que descreve a visita de
Maria à sua prima Isabel. Destaca a exultação do encontro entre elas, inclusive
de João Batista ainda no seio materno.
O encontro entre Maria e Isabel
pressupõe acolhida, sorriso, abraço, cordialidade, receptividade, doação, sair
de si, abertura, partilha, solidariedade. São atitudes profundamente humanas!
São gestos e atitudes que comunicam. Assim, somos recordados de que comunicação
tem a ver com proximidade, gestos, palavras, contato, olhares... Comunicamos
quando também acolhemos o que está sendo comunicado: "podemos dar porque
recebemos". Essa reciprocidade é o "paradigma de toda
comunicação".
Comunicação não é simples
transmissão de informações. Comunicação é essencialmente proximidade, contato
corporal. É o que podemos verificar na relação materna: a mãe, através do
cheiro, do contato, do olhar, da ternura, cultiva uma profunda relação com o
fruto de suas entranhas. Esse cultivo determina inclusive todo o
desenvolvimento psicológico da criança. O futuro da criança é também
determinado pela qualidade das relações desenvolvidas no cotidiano entre ela e
os pais!
Há também um outro nível de
comunicação que acontece, por exemplo, na liturgia. A maior expressão de
comunicação na celebração litúrgica é a comunidade reunida em nome do
Crucificado-Ressuscitado - "Ele está no meio de nós"! - para celebrar
o mistério da redenção humana. A comunidade de fé reunida para a liturgia é
também anúncio do reino já presente, no aqui e agora.
Urge redescobrir aspectos
fundamentais da comunicação latentes na celebração litúrgica. Não se trata aqui
de destacar o que se diz e o quanto se diz, o instrumental usado, mas de
resgatar a dimensão do encontro não só entre os membros da assembleia, mas
sobretudo e fundamentalmente o encontro da assembleia com seu Senhor. Por isso,
os gestos que compõem a ação litúrgica trazem a marca do Crucificado-Ressuscitado.
O que vemos, ouvimos, dizemos, cheiramos, tocamos, abraçamos, comemos, o
silêncio que fazemos, a intimidade que cultivamos através da prece, os passos
dados para e no interior do templo, o retorno para nossos lares, tudo está
marcado por dignidade particular.
Assim como o cuidado dispensado
pela mãe ao filho não é algo mecânico, da mesma forma a boa comunicação da e na
ação litúrgica não é resultado da aplicação de "técnicas" mais ou
menos boas. Ela é expressão da experiência fundante do encontro com o Senhor,
que faz novas todas as coisas e relacionamentos.
Em meio a críticas, desafios,
limitações, mas também possibilidades que se apresentam, seja à instituição
família, seja à ação litúrgica, "não lutemos para defender o passado, mas
trabalhemos com paciência e confiança, em todos os ambientes onde diariamente
nos encontramos, para construir o futuro" (Papa Francisco). Sejamos bons
comunicadores!
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