DOMINGO DE RAMOS DA PAIXÃO DO
SENHOR
1ª Leitura - Is 50,4-7
O Senhor Deus deu-me língua
adestrada,
para que eu saiba dizer
palavras de conforto à pessoa abatida;
ele me desperta cada manhã e me excita o ouvido,
para prestar atenção como um discípulo.
O Senhor abriu-me os ouvidos;
não lhe resisti nem voltei atrás.
Ofereci as costas para me baterem e
as faces para me arrancarem a barba;
não desviei o rosto de bofetões e cusparadas.
Mas o Senhor Deus é meu Auxiliador,
por isso não me deixei abater o ânimo,
conservei o rosto impassível como pedra,
porque sei que não sairei humilhado.
Palavra do Senhor.
para que eu saiba dizer
palavras de conforto à pessoa abatida;
ele me desperta cada manhã e me excita o ouvido,
para prestar atenção como um discípulo.
O Senhor abriu-me os ouvidos;
não lhe resisti nem voltei atrás.
Ofereci as costas para me baterem e
as faces para me arrancarem a barba;
não desviei o rosto de bofetões e cusparadas.
Mas o Senhor Deus é meu Auxiliador,
por isso não me deixei abater o ânimo,
conservei o rosto impassível como pedra,
porque sei que não sairei humilhado.
Palavra do Senhor.
O belo cântico do servo sofredor que
nos apresenta o Profeta Isaias. Um texto que vem carregado de significados:
Primeiramente aparece o elemento do servo que se deixa guiar por Deus, “O Senhor Deus deu-me língua adestrada, para que eu saiba dizer
palavras de conforto à pessoa abatida”. Essa condição adquirida pelo Servo só se torna possível graças a sua sintonia, a sua configuração junto a Deus, conforme podemos constatar nessa profecia, “ele me desperta cada manhã e me excita o ouvido, para prestar atenção como um discípulo”. A missão ganha êxito por conta da bonita relação filial do servo com Deus, do discípulo com o Pai. É um cântico que demostra a comunhão profunda com Deus. Esse mesmo Deus vai modelando o seu profeta: ouvido e língua e o profeta, por sua vez, vive na escuta da Palavra, porque não fala as coisas suas, mas aquilo que vem como inspiração da meditação da Palavra de Deus.
palavras de conforto à pessoa abatida”. Essa condição adquirida pelo Servo só se torna possível graças a sua sintonia, a sua configuração junto a Deus, conforme podemos constatar nessa profecia, “ele me desperta cada manhã e me excita o ouvido, para prestar atenção como um discípulo”. A missão ganha êxito por conta da bonita relação filial do servo com Deus, do discípulo com o Pai. É um cântico que demostra a comunhão profunda com Deus. Esse mesmo Deus vai modelando o seu profeta: ouvido e língua e o profeta, por sua vez, vive na escuta da Palavra, porque não fala as coisas suas, mas aquilo que vem como inspiração da meditação da Palavra de Deus.
A missão tem claramente a ver com o anúncio da Palavra. O profeta é o
homem da Palavra, através de quem Deus fala. O profeta tem de estar,
continuamente, numa atitude de escuta de Deus, para que possa apresentar – com
fidelidade – essa Palavra de Deus aos homens. Em segundo lugar, a missão
profética concretiza-se no sofrimento e na dor: o anúncio das propostas de Deus
provoca resistências e perseguição.
Em terceiro lugar, o Senhor não abandona aos que chama. A certeza de que não está só, torna o profeta mais forte do que a dor, o sofrimento, a perseguição.
Em terceiro lugar, o Senhor não abandona aos que chama. A certeza de que não está só, torna o profeta mais forte do que a dor, o sofrimento, a perseguição.
2ª Leitura - Fl 2,6-11
Jesus Cristo, existindo em condição divina,
não fez do ser igual a Deus uma usurpação,
mas ele esvaziou-se a si mesmo,
assumindo a condição de escravo
e tornando-se igual aos homens.
Encontrado com aspecto humano,
humilhou-se a si mesmo,
fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz.
Por isso, Deus o exaltou acima de tudo
e lhe deu o Nome que está acima de todo nome.
Assim, ao nome de Jesus,
todo joelho se dobre no céu,
na terra e abaixo da terra,
e toda língua proclame : 'Jesus Cristo é o Senhor',
para a glória de Deus Pai.
Palavra do Senhor.
Jesus Cristo, existindo em condição divina,
não fez do ser igual a Deus uma usurpação,
mas ele esvaziou-se a si mesmo,
assumindo a condição de escravo
e tornando-se igual aos homens.
Encontrado com aspecto humano,
humilhou-se a si mesmo,
fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz.
Por isso, Deus o exaltou acima de tudo
e lhe deu o Nome que está acima de todo nome.
Assim, ao nome de Jesus,
todo joelho se dobre no céu,
na terra e abaixo da terra,
e toda língua proclame : 'Jesus Cristo é o Senhor',
para a glória de Deus Pai.
Palavra do Senhor.
Filipos era uma cidade de veteranos romanos do exército; gozava dos mesmos privilégios das cidades da Itália. A comunidade cristã era atenta às necessidades da Igreja. Não era uma comunidade perfeita… a humildade, a simplicidade, não eram valores que compunham a comunidade. Paulo convida os filipenses a encarnar os valores de Cristo.
Cristo
contrasta Adão. Adão reivindicou ser como Deus e lhe desobedeceu e Cristo
responde com a humildade e a obediência ao Pai. A atitude de Adão trouxe
fracasso e morte; a atitude de Jesus trouxe exaltação e vida.
Cristo:
aceitou fazer-Se homem, assumindo com humildade a condição humana, para servir,
para dar a vida, para revelar o amor do Pai. Não deixou de ser Deus; mas
aceitou descer até aos homens, fazer-Se servidor dos homens, para garantir vida
nova para os homens. Esse “abaixamento” – a morte de cruz – para nos ensinar a
lição do serviço, do amor radical, da entrega total da vida. A
obediência aos projetos do Pai resultaram em ressurreição e glória. Paulo faz
um alerta: o cristão deve ter como exemplo esse Cristo, servo sofredor e
humilde, que fez da sua vida um dom a todos.
+ Proclamação do Evangelho de
Jesus Cristo segundo Marcos 14,1-15,47 (Paixão
do Senhor).
REFLEXÃO
Marcos apresenta Jesus como o Messias, enviado por Deus aos homens para
lhes propor o Reino; Jesus o Filho de Deus, para cumprir a missão que o Pai tem
de passar pela morte, mas Deus o ressuscitará. O relato não é uma reportagem jornalística da condenação à morte de
um inocente; mas é uma catequese destinada a apresentar Jesus como o Filho de
Deus que aceita o projeto do Pai, mesmo quando esse projeto passa pela cruz.
Marcos pretende que os crentes concluam, como o centurião romano: “na verdade,
este homem era Filho de Deus”.
A morte de Jesus tem de ser entendida no contexto daquilo que foi a sua
vida. Desde cedo, Jesus apercebeu-Se de que o Pai O chamava a uma missão:
anunciar esse mundo novo, de justiça, de paz e de amor para todos os homens.
Para concretizar este projeto, Jesus ensinou que Deus era amor e que não
excluía ninguém, nem mesmo os pecadores; ensinou que os leprosos, os
paralíticos, os cegos não deviam ser marginalizados, pois não eram amaldiçoados
por Deus; ensinou que eram os pobres e os excluídos os preferidos de Deus.
O projeto libertador de Jesus entrou em choque com o egoísmo, a opressão
que dominava o mundo. As autoridades políticas e religiosas sentiram-se
incomodadas com a denúncia de Jesus: não estavam dispostas a renunciar a esses
mecanismos que lhes asseguravam poder, influência, domínio, privilégios. Por
isso, prenderam Jesus, julgaram-no, condenaram-no e pregaram-no numa cruz. A morte de Jesus é a consequência lógica do anúncio do
“Reino”: resultou das resistências que a proposta do “Reino” provocou entre os
que dominavam o mundo.
A morte de Jesus é o culminar da sua vida; é a afirmação última,
porém mais radical e mais verdadeira daquilo que Jesus pregou com palavras e
com gestos: o amor, o dom total, o serviço. Na cruz,
vemos aparecer o Homem Novo, o protótipo do homem que ama radicalmente e que
faz da sua vida um dom para todos. Porque ama, este Homem Novo vai assumir como
missão a luta contra todas as causas objetivas que geram medo, injustiça,
sofrimento, exploração e morte.
1. Ao longo de todo o processo, Jesus manifesta uma grande
serenidade, uma grande dignidade e uma total conformação com aquilo que se está
a passar. Não se trata de passividade ou de inconsciência, mas de aceitação
serena de um caminho que Ele sabe que passa pela cruz. Marcos sugere, desta
forma, que Jesus está perfeitamente conformado com o projeto do Pai e que a sua
vontade é cumprir fiel e integralmente o plano de Deus, sem objecções ou
resistências de qualquer espécie.
Ä Mateus e Lucas põem Jesus a interpelar diretamente Judas, quando este o entrega no monte das Oliveiras (cf. Mt 26,50; Lc 22,48); mas na narração de Marcos, Jesus mantém-se silencioso e cheio de dignidade diante da traição do discípulo (cf. Mc 14,45-46), sem observações ou recriminações.
Ä Mateus e Lucas põem Jesus a interpelar diretamente Judas, quando este o entrega no monte das Oliveiras (cf. Mt 26,50; Lc 22,48); mas na narração de Marcos, Jesus mantém-se silencioso e cheio de dignidade diante da traição do discípulo (cf. Mc 14,45-46), sem observações ou recriminações.
2. Uma das teses fundamentais do Evangelho de Marcos é que
Jesus é o Filho de Deus (cf. Mc 1,1). Esta ideia também está bem presente, bem
sublinhada, bem desenvolvida, no relato da Paixão:
No jardim das Oliveiras, pouco antes de ser preso, Jesus
dirige-Se a Deus (cf. Mc 14,36) e chama-Lhe “Abba” (“paizinho”, “papá”). Esta
apalavra não era usada nas orações hebraicas como invocação de Deus; mas era
usada na intimidade familiar e expressava a grande proximidade entre um filho e
o seu pai. Para a psicologia judaica, teria sido um sinal de irreverência usar
uma palavra tão familiar para se dirigir a Deus. O facto de Jesus usar esta
palavra revela a comunhão que havia entre Jesus e o Pai e revela uma relação marcada
pela simplicidade, pela intimidade, pela total confiança.
Apesar do silêncio digno de Jesus durante o interrogatório no palácio do sumo-sacerdote, há um momento em que Jesus não hesita em esclarecer as coisas e em deixar clara a sua divindade. Quando o sumo-sacerdote Lhe perguntou diretamente se Ele era “o Messias, o Filho de Deus bendito” (Mc 14,61b), Jesus respondeu, sem subterfúgios: “Eu sou. E vereis o Filho do Homem sentado à direita do Todo-poderoso e vir sobre as nuvens do céu” (Mc 14,62). A expressão “eu sou” (“egô eimi”) leva-nos ao nome de Deus no Antigo Testamento (“eu sou aquele que sou” - Ex 3,14)… É, na perspectiva do nosso evangelista, a afirmação inequívoca da dignidade divina de Jesus. A referência ao “sentar-se à direita do Todo-poderoso” e ao “vir sobre as nuvens” sublinha, também, a dignidade divina de Jesus, que um dia aparecerá no lugar de Deus, como juiz soberano da humanidade inteira. O sumo-sacerdote percebe perfeitamente o alcance da afirmação de Jesus (Ele está a arrogar-Se a condição de Filho de Deus e a prerrogativa divina por excelência – a de juiz universal); por isso, manifesta a sua indignação rasgando as vestes e condenando Jesus como blasfemo.
Apesar do silêncio digno de Jesus durante o interrogatório no palácio do sumo-sacerdote, há um momento em que Jesus não hesita em esclarecer as coisas e em deixar clara a sua divindade. Quando o sumo-sacerdote Lhe perguntou diretamente se Ele era “o Messias, o Filho de Deus bendito” (Mc 14,61b), Jesus respondeu, sem subterfúgios: “Eu sou. E vereis o Filho do Homem sentado à direita do Todo-poderoso e vir sobre as nuvens do céu” (Mc 14,62). A expressão “eu sou” (“egô eimi”) leva-nos ao nome de Deus no Antigo Testamento (“eu sou aquele que sou” - Ex 3,14)… É, na perspectiva do nosso evangelista, a afirmação inequívoca da dignidade divina de Jesus. A referência ao “sentar-se à direita do Todo-poderoso” e ao “vir sobre as nuvens” sublinha, também, a dignidade divina de Jesus, que um dia aparecerá no lugar de Deus, como juiz soberano da humanidade inteira. O sumo-sacerdote percebe perfeitamente o alcance da afirmação de Jesus (Ele está a arrogar-Se a condição de Filho de Deus e a prerrogativa divina por excelência – a de juiz universal); por isso, manifesta a sua indignação rasgando as vestes e condenando Jesus como blasfemo.
Marcos põe um
centurião romano a dizer, junto da cruz de Jesus: “na verdade, este homem era
Filho de Deus” (Mc 15,39). Mais do que uma afirmação histórica, esta frase deve
ser vista como uma “profissão de fé” que Marcos convida todos os crentes a
fazer… Depois de tudo o que foi testemunhado ao longo do Evangelho, em geral, e
no relato da paixão, em particular, a conclusão é óbvia: Jesus é mesmo o Filho
de Deus que veio ao encontro dos homens para lhes apresentar uma proposta de
salvação.
3. Apesar de Filho de Deus, o Jesus de Marcos é também homem e partilha da debilidade e da fragilidade da natureza humana: No jardim das Oliveiras, pouco antes de ser preso, o Jesus de Marcos sentiu “pavor” e “angústia” (cf. Mc 14,33), como acontece com qualquer homem diante da morte violenta.
3. Apesar de Filho de Deus, o Jesus de Marcos é também homem e partilha da debilidade e da fragilidade da natureza humana: No jardim das Oliveiras, pouco antes de ser preso, o Jesus de Marcos sentiu “pavor” e “angústia” (cf. Mc 14,33), como acontece com qualquer homem diante da morte violenta.
No
momento da morte, Jesus reza: “meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste” (Mc
15,34). A “oração” de Jesus é a “oração” de um homem que, como qualquer outro
ser humano, experimenta a solidão, o abandono, o sentimento de impotência, a
sensação de falhanço… e do fundo do seu drama, não compreende a ausência e a
indiferença de Deus. Não há dúvida: o Jesus
apresentado por Marcos é, também, o homem/Jesus que Se solidariza com os
homens, que os acompanha nos seus sofrimentos, que experimenta os seus dramas,
fragilidades e debilidades.
4.
Em todos os relatos da paixão, Jesus aparece a enfrentar sozinho (abandonado
pelas multidões e pelos próprios discípulos) o seu destino de morte; mas Marcos
sublinha especialmente a solidão de Jesus, nesses momentos dramáticos.
Abandonado pelos discípulos, escarnecido pela multidão, condenado pelos líderes, torturado pelos soldados, Jesus percorre na solidão, no abandono, na indiferença de todos, o seu caminho de morte. O grito final de Jesus na cruz (“meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste” – Mc 15,34) pode ser o início do Salmo 22 (cf. Sal 22,2); mas é, também, expressão dramática dessa solidão que Jesus sente à sua volta.
Abandonado pelos discípulos, escarnecido pela multidão, condenado pelos líderes, torturado pelos soldados, Jesus percorre na solidão, no abandono, na indiferença de todos, o seu caminho de morte. O grito final de Jesus na cruz (“meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste” – Mc 15,34) pode ser o início do Salmo 22 (cf. Sal 22,2); mas é, também, expressão dramática dessa solidão que Jesus sente à sua volta.