Já
parou para pensar que dificilmente uma pessoa te abraça? Há quem se contenta
com um “tudo bem?”, outros com um “oi” e não passa disso. Já pensou se com
todas as pessoas que encontrássemos tivéssemos a bondade de cumprimentá-la com
um abraço ou, se preferir, um amasso?
No
contexto bíblico, o abraço significa misericórdia. Vale recordar aqui o abraço
do Pai no filho pródigo. As mazelas, as decepções, os pecados, a arrogância, a
precariedade, a soberba, se dissolveu no abraço do Pai misericordioso.
Não
tenho dúvida de que aquele sujeito sem nome (pode ser eu ou você) que pegou a
parte da herança e partiu para o mundo, contemplou a verdade interpretada por
Martha Medeiros: “Tudo o que você pensa e sofre, dentro de um abraço se
dissolve”. O abraço esmagante do Pai devolveu a aquele filho desgraçado o dom
da vida, da eternidade.
O
abraço, segundo alguns especialistas, faz bem para a saúde psíquica e física.
Ele tem o poder de aumentar os níveis de uma substância chamada oxitocina, que
tem a particularidade de reduzir os estados de stress e ansiedade, aumentando a
felicidade e o bem-estar das pessoas. Pessoas com um nível elevado de oxitocina
têm a probabilidade de desenvolverem um comportamento maior de ligação entre as
pessoas. Você sabia disto?
Mário
Quintana faz questão de aludir o abraço a um laço. Diz ele: “Meu Deus! Como é
engraçado! Eu nunca tinha reparado como é curioso um laço… uma fita dando
voltas. Enrosca-se, mas não se embola, vira, revira, circula e pronto: está
dado o laço. É assim que é o abraço: coração com coração, tudo isso cercado de
braço”.
Penso
que nos tempos hodiernos nossos casais precisam se abraçar. Precisam encostar
um coração no outro (Rita Apoena). Já imaginou acalmar os corações atribulados
por uma discussão, encostando um coração no outro? Corações atribulados se
entendem e se acalmam no compasso da vida, que se renova dento de um abraço.
Certa
vez, havia um casal de idade mediana, locado nas dependências de uma Praça.
Daí, viram quando ali estava uma menina, baixinha, com cabelos de fios
dourados, muito pacífica. Passavam-se minutos e minutos, e ela ali persistia.
Quando menos esperava, salta de um ônibus um menino com trajes de viajante,
mochilas nas costas, e apressadamente se direciona até a menina. Em fração de
segundos, um atracou o outro num abraço e ficaram por um bom tempo sem trocar
palavras. Certamente fazia-se muito tempo que o casal de namorados não se
encontrava.
O
normal seria trocar belas saudações, nobres palavras, ricas frases, mas eles
optaram pelo abraço. Pois o abraço permitia que eles se sentissem. Quando vemos
uma sociedade (famílias, grupos, religiões) machucada, triste, sem rumo, sem
esperança, nós podemos dizer que estamos vendo (e vivenciando) uma sociedade
que perdeu a capacidade de se sentir. O poeta português Fernando Pessoa já
dizia: “quem sente muito, cala; quem quer dizer quanto sente, fica sem alma nem
fala, fica só, inteiramente”!
Já
Drummond se atreve dizer que “se você sabe explicar o que sente, não ama, pois
o amor foge de todas as explicações possíveis”.
Traduzindo:
amar não é teoria, é sentir. Abraçar é amar. Abraçar é discursar sem palavras.
Abraçar é poder entrar no outro sem pisar no seu terreno. Abraçar é ser mais
gente. Abraçar é uma forma de teologar… pois até Deus quis morar no abraço!
Por Vinícius
Figueira e Fernanda Venturim Vantil via A12
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