PRIMEIRA
LEITURA
AMBIENTE
O livro de
Ben-Sirac (também chamado “Eclesiástico”) pretende apresentar uma reflexão de
caráter prático sobre a arte de bem viver e de ser feliz. Estamos no início do
séc. II a.C., numa época em que o helenismo tinha começado o seu trabalho
pernicioso, no sentido de minar a cultura e os valores tradicionais de Israel.
Jesus Ben-Sira, o autor deste livro, avisa os israelitas para não deixarem
perder a identidade cultural e religiosa do seu Povo. Procura, então,
apresentar uma síntese da religião tradicional e da sabedoria de Israel,
sublinhando a grandeza dos valores judaicos e demonstrando que a cultura
judaica não fica a dever nada à brilhante cultura grega.
MENSAGEM
O texto
apresenta uma série de indicações práticas que os filhos devem ter em conta nas
relações com os pais. Uma palavra sobressai: o verbo “honrar”. Ele leva-nos ao
decálogo do Sinai (cf. Ex 20,12), onde aparece no sentido de “dar glória”. “Dar
glória” a uma pessoa é dar-lhe toda a sua importância; “dar glória aos pais” é,
assim, reconhecer a sua importância como instrumentos de Deus, fonte de vida.
Ora, reconhecer que os pais são a fonte, através da qual Deus nos dá a vida,
deve conduzir à gratidão; e essa gratidão tem consequências a nível prático.
Implica ampará-los na sua velhice e não os desprezar nem abandonar; implica
assisti-los materialmente quando já não podem trabalhar (cf. Mc 7,10-11);
implica não fazer nada que os desgoste; implica escutá-los, ter em conta as
suas orientações e conselhos; implica ser indulgente para com as limitações que
a idade traz. Dado o contexto da época em que Ben-Sira escreve, é natural que,
por detrás destas indicações aos filhos, esteja também a preocupação com o
manter bem vivos os valores tradicionais, esses valores que os mais antigos
preservam e que passam aos jovens. Como recompensa desta atitude de “honrar” os
pais, Jesus Ben-Sira promete o perdão dos pecados, a alegria, a vida longa e a
atenção de Deus.
SEGUNDA LEITURA
AMBIENTE
Paulo
estava na prisão (possivelmente em Roma, anos 61/63) quando escreveu aos
colossenses. Algum tempo antes, Paulo havia recebido notícias pouco animadoras
sobre a comunidade de Colossos. Essas notícias falavam da perigosa tendência de
alguns doutores locais, que ensinavam doutrinas errôneas e afastavam os
colossenses da verdade do Evangelho. Essas doutrinas misturavam práticas
legalistas, práticas ascéticas, especulações sobre os anjos e achavam que toda
esta mistura confusa de elementos devia completar a fé em Cristo e comunicar
aos crentes um conhecimento superior dos mistérios cristãos e uma vida
religiosa mais autêntica. Sem refutar essas doutrinas de modo direto, Paulo
afirma a absoluta suficiência de Cristo e assinala o seu lugar proeminente na
criação e na redenção dos homens.
MENSAGEM
Em termos
mais concretos, viver como “homem
novo” implica cultivar um
conjunto de virtudes que resultam da união do cristão com Cristo: misericórdia,
bondade, humildade, paciência, mansidão. Lugar especial ocupa o perdão das
ofensas do próximo, a exemplo do que Cristo sempre fez. Estas virtudes são
exigências e manifestações da caridade, que é o mais fundamental dos
mandamentos cristãos: tais exigências resultam da íntima relação do cristão com
Cristo; viver “em Cristo” implica viver, como Ele, no amor total, no serviço,
na disponibilidade e no dom da vida. Às mulheres, recomenda o respeito para com
os maridos; aos maridos, convida a amar as esposas, evitando o domínio tirânico
sobre elas; aos filhos, recomenda a obediência aos pais; aos pais, com intuição
pedagógica, pede que não sejam excessivamente severos para com os filhos, pois
isso pode impedir o desenvolvimento normal das suas capacidades. É desta forma
que, no espaço familiar, se manifesta o Homem Novo, o homem que vive segundo
Cristo.
EVANGELHO (Lc 2,41-52)
AMBIENTE
O
“Evangelho da infância” não é fazer uma reportagem sobre os primeiros anos da
vida de Jesus, mas uma catequese sobre Jesus; nessa catequese, diz-se quem é
Jesus e apresentam-se algumas coordenadas teológicas que vão, depois, ser
desenvolvidas no resto do Evangelho. A “catequese” de hoje situa-nos em
Jerusalém. A Lei judaica pedia que os homens de Israel fossem três vezes por
ano a Jerusalém, por alturas das três grandes festas de peregrinação (Páscoa,
Pentecostes e Festa das Tendas – cf. Ex 23,17-17). Ainda que os rabinos não
considerassem obrigatória esta lei até aos treze, muitos pais levavam os filhos
antes dessa idade. Jesus tem doze anos e, de acordo com o texto de Lucas, foi
com Maria e José a Jerusalém celebrar a Páscoa. É neste ambiente de Jerusalém e
do Templo que Lucas situa as primeiras palavras pronunciadas por Jesus no
Evangelho. Elas são, sem dúvida, o centro do nosso relato.
MENSAGEM
“Por
que me procuráveis? Não sabíeis que Eu devia estar na casa de meu Pai?” O
significado (a catequese) da resposta à pergunta de Maria é que Deus é o verdadeiro Pai de Jesus. Daqui deduz-se que as exigências de Deus
são, para Jesus, a prioridade fundamental, que ultrapassa qualquer outra
exigência. A sua missão vai obrigá-lo a romper os laços com a própria família
(cf. Mc 3,31-35). É possível que haja ainda, aqui, uma referência à
paixão/morte/ressurreição de Jesus: tanto o episódio de hoje, como os fatos
relativos à morte/ressurreição, são situados num contexto pascal; em ambas as situações Jesus é
abandonado – aqui por Maria e
José e, mais tarde, pelos discípulos – por pessoas que não compreendem que a
sua prioridade é o projeto do Pai; em ambas as situações, Jesus é procurado
(cf. Lc 24,5) e tem de explicar que a finalidade da sua vida é cumprir aquilo
que o Pai tinha definido (cf. Lc 24,7.25-27.45-46). Lucas apresenta aqui a
chave para entender toda a vida de Jesus: Ele veio ao mundo por mandato de Deus
Pai e com um projeto de salvação/libertação. Àqueles que se perguntam porque
deve o Messias percorrer determinado caminho, Lucas responde: porque é a vontade do Pai. Foi para cumprir a vontade do Pai
que Jesus veio ao nosso
encontro e entrou na nossa história.
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