São João Vianney e o
primado da palavra de Deus
João M. Vianney foi um
presbítero que primou pela palavra de Deus. Ele não só a proclamava aos outros,
na sua melhor forma, com preparação e meditação, mas vivia-a em sua
integridade. Seguindo-lhe o exemplo, a palavra de Deus deve ganhar sentido em
nossa vida de presbíteros pela escuta e sua objetividade. Jesus diz:
“Bem-aventurados os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática”(Lc 11,28).
Estamos num período muito importante em nível social e eclesial, com a V CELAM,
cujo tema foi: Discípulos e missionários de Jesus Cristo para que
nossos povos nele tenham vida. “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”(Jo 14,6).
O tema é bíblico e, ao mesmo tempo, cristológico no discipulado e na
missionariedade com a vida de Jesus Cristo.
Tendo presentes esses dados, em 4 de agosto,
recordaremos João Maria Vianney, o padroeiro dos párocos, dia do
padre(presbítero). É importante resgatar a sua historia e reavivar alguns de
seus pensamentos e como levava em conta a realidade na atuação de pastor e guia
de seu povo. Se um dos pontos frisados, no Vaticano II, e também em Aparecida,
foi o primado da palavra de Deus, vejamos como isso se refletiu na vida do
presbítero João Vianney[1]. Ele diz: “Meus filhos, não é pouca coisa
a palavra de Deus. As palavras de Nosso Senhor, antes de partir para o Pai,
foram estas: Ide e instruí(...), para fazer-nos ver que a instrução passa à
frente de tudo”. João Vianney liga o conhecimento da religião com a escuta da
palavra do Senhor e do próprio pecado: “Que é que nos faz conhecer a nossa
religião? São as instruções que ouvimos. Que é que nos dá o horror do pecado...
nos faz enxergar a beleza da virtude... nos inspira o desejo do céu? As
instruções. Que é que faz conhecer aos pais e às mães os deveres que têm a
cumprir para com seus filhos, e aos filhos os deveres que têm a cumprir para
com seus pais? As instruções, a escuta da palavra de Deus. Meus filhos, por que
se costuma ser tão cego e tão ignorante? Porque não se faz caso da palavra de
Deus. Há alguns que não dizem sequer um Pai-Nosso e uma Ave-Maria para pedir a
Deus a graça de bem ouvi-la e aproveitá-la”.
A salvação está ligada à palavra de Deus e à
consonância com a mesma. Vianney continua afirmando em suas catequeses: “Eu
creio, meus filhos, que uma pessoa que não ouve a palavra de Deus como é
preciso, não se salvará; não saberá o que é preciso fazer para isso. Mas com
uma pessoa instruída há sempre recurso. Por mais que se extravie por toda sorte
de maus caminhos, pode-se sempre esperar que ela torne ao bom Deus, cedo ou
tarde, ainda quando só fosse na hora da morte. Ao passo que uma pessoa que não
é instruída é como uma pessoa que definha, como um doente em agonia que não tem
mais conhecimento: não conhece nem a grandeza do pecado, nem a beleza da sua
alma, nem o preço da virtude; arrasta-se de pecado em pecado como um trapo que
arrastam na lama”.
Jesus, no anúncio do Reino de Deus, teve a
primazia pela palavra de Deus, sendo ele mesmo a Palavra definitiva do Pai para
a humanidade. Diante da mulher que grita: “‘Bem-aventurados os peitos que vos
criaram e o ventre que vos trouxe’. Ele responde: ‘Quão mais felizes aqueles
que escutam a palavra de Deus e a põem em prática’”. “Nosso Senhor, que é a
própria verdade, não faz menos caso da sua palavra que do seu corpo. Eu não sei
se faz mais mal ter distrações, durante a missa, do que durante as instruções:
não vejo diferença. Durante a missa, deixam-se perder os merecimentos da morte
e paixão de Nosso Senhor e, durante a instrução deixa-se perder a sua palavra
que é ele próprio. Santo Agostinho diz que é tão malfeito quanto tomar o
cálice, depois da consagração, e despejá-lo debaixo dos pés”.
"Meus filhos, sai-se durante as
instruções, passa-se a instrução a rir, não se escuta, acredita-se ser sábio
demais para vir ao catecismo... acreditais, meus filhos, que isso passará
assim? Oh! não, por certo! Deus disporá as coisas bem diversamente. Repare como
é triste: pais e mães ficaram fora, durante as instruções; entretanto, eles são
obrigados a instruir os filhos, mas que quereis que eles lhes ensinem? Eles
próprios não são instruídos. É pena”.
O presbítero é visto como um instrumento de
Deus para o anúncio de sua palavra. “Escuta-se ainda um padre que convém; mais
se é um padre que não convém, metem-no a ridículo... Não se deve agir tão
humanamente. Não é ao cadáver que se deve olhar. Seja qual for o padre, é
sempre o instrumento de que Deus se serve para distribuir a sua santa palavra.
Suponde que fazeis passar licor por um funil; seja o funil de ouro ou de cobre,
se o licor for bom, será sempre bom”.
Vianney valorizava a pregação ligada ao
Evangelho de Jesus e à tradição eclesial, que segue, tanto para o presente como
para o futuro. “‘Há uns que se vão embora, repetindo em todos os tons: os
padres dizem bem o que querem’”. Não, meus filhos, os padres não dizem o que
querem; dizem o que há no Evangelho... os padres que vieram antes de nós
disseram o que nós dizemos; os que vierem depois de nós dirão a mesma coisa. Se
nós disséssemos coisas que não estivessem no Evangelho, o senhor bispo logo nos
proibiria de pregar. Nós só dizemos o que Nosso Senhor ensinou”.
“Eis o que é preciso fazer; é preciso sempre
nos comportarmos do modo que deve dar mais glória a Deus. Uma pessoa sabe de
outra que está na miséria, e tirará de seus pais para aliviar essa miséria.
Certamente ela faria muito melhor em pedir do que em tirar. Uma pessoa
instruída tem sempre dois guias que marcham na sua frente: o conselho e a
obediência”. Quanto ao discipulado e à missionariedade, temas tão em voga na
vida eclesial, no presente momento, alguns aspectos no pensamento de Vianney[2] podem servir de iluminação em nossa
vida presbiteral:
- Padre: “O padre possui as
chaves dos tesouros do céu: é ele a abrir a porta; ele é o ecônomo de Deus, o
administrador dos seus bens”. “O sacerdócio é o amor do Coração de Jesus.
Quando olhais o padre, pensai em Nosso Senhor”.
- Graça: “A graça de Deus nos ajuda a
caminhar e nos sustém. Essa é necessária como as muletas para quem tem mal nas
pernas”.
- Dom de si mesmo: “Quanta docilidade
provamos em esquecer-nos de nós mesmos para procurar a Deus. Sobre o caminho da
abnegação aquilo que custa fadiga é o primeiro passo. Uma vez iniciada a
estrada, o resto vem por si e, quando a gente tem esta virtude, se tem tudo”.
Queremos parabenizar os presbíteros: novos,
os da meia-idade, os idosos, os doentes, o bispo diocesano. Que Deus Pai, Deus
Filho e Deus Espírito Santo, Trindade Una e Santa, ilumine a todos, para que
demos o primado à palavra de Deus, sejamos discípulos e missionários de Jesus
Cristo, neste momento histórico, teológico, salvífico, assim como foi São João
Maria Batista Vianney, no seu tempo.
* Pe. Vital é Diocese de Caxias do Sul- RS,
doutor em Teologia e Ciências Patrísticas
[2] Cf. SANTO CURATO d’ARS, Pensieri
scelti e fioretti, a cura de J. FROSSARD.Prefazione de Michel de
Saint-Pierre. Milano: San Paolo, 1999, p. 91-109.
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