A
luz do amor, própria da fé.
Por isso urge recuperar o caráter da luz que é próprio da
fé, pois, quando a sua chama se apaga, todas as outras luzes também por perder
o seu vigor. De fato, a luz da fé possui um caráter singular, sendo capaz de iluminar
toda a existência do homem. Ora, para que a luz seja tão poderosa, não pode
brotar de nós mesmos; tem de vir de uma fonte mais originária, deve provir, em
última análise, de Deus. A fé nasce no encontro com o Deus vivo, que nos chama
e revela seu amor: um amor que nos precede e sobre o qual podemos nos apoiar
para construir solidamente a vida. Transformados por este amor, recebemos olhos
novos e experimentamos que há nele uma grande promessa de plenitude nos abre a
visão do futuro. A fé, que recebemos de Deus como dom sobrenatural, aparece-nos
como luz para a estrada, orientando os nossos passos no tempo. Por um lado,
provém do passado: é a luz de uma memória basilar – a da vida de Jesus -, onde
o seu amor se manifestou plenamente confiável, capaz de vencer a morte. Mas, por
outro lado e ao mesmo tempo, dado que Cristo ressuscitou e nos chama de além da
morte, a fé é luz que vem do futuro, que abre diante de nós horizontes grandes
e nos leva a ultrapassar o nosso “eu” isolado abrindo-o à amplitude da comunhão.
Desse modo, compreendemos que a fé não mora na escuridão, mas é uma luz para as
nossas trevas.
A luz do amor, própria da fé, pode iluminar as perguntas
do nosso tempo acerca da verdade, muitas vezes, hoje, a verdade é reduzida à
autenticidade subjetiva do indivíduo, válida apenas para a vida do individuo.
Uma verdade comum nos dá medo, porque a identificamos com a imposição
intransigente dos totalitarismos; mas, se ela é verdade de amor, se é a verdade
que se mostra no encontro pessoal com o Outro e com os outros, então fica livre
da reclusão do individuo e pode fazer parte do bem comum. Sendo a verdade de um
amor, não é verdade que se impõe pela violência, não é verdade que esmaga o
individuo. Nascendo do amor pode chegar ao coração, ao centro pessoal de cada
homem. Daqui resulta claramente que a fé não é intransigente, mas cresce na
convivência que respeita o outro. A pessoa de fé não é arrogante; pelo
contrário, a verdade o torna humilde, sabendo que, mais do que possui-la, é ela
que nos abraça e possui. Longe de nos endurecer, a segurança da fé nos põe a
caminho e torna possível o testemunho e o diálogo com todos.
[Papa
Francisco. A Igreja da Misericórdia].
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