CINCO
DISCURSOS DA OBRA DE SÃO MATEUS
Esse
texto é um resumo breve de uma seção que estudamos na Escola São Lucas de
Animação Bíblica da Pastoral. Um pequeno resumo dos cinco grandes discursos da
obra de São Mateus. Espero que possa ajudar despertando a curiosidade de estudo
nessa área tão rica para o alimento da nossa fé, a saber, os evangelhos
sinóticos.
Estudando
um pouco e evangelho de São Mateus em seu conjunto percebemos com clareza que a
trama narrativa desenvolve antes de tudo – como no evangelho de Marcos – o
aspecto cristológico, mas também outro eclesiológico e histórico-salvíficos. Os
discursos vão interpretando essa trama com intenções atualizante e
fundamentalmente eclesial. É, pois,
sobre a leitura da Igreja que gostaria de convidar a fazer essa leitura do
evangelho de São Mateus.
No
transcorrer de todo o relato de Mateus percebe-se um grande afã doutrinal. Quer
instruir sua comunidade sobre os diversos aspectos do Reino dos Céus. Inclusive
nas seções narrativas em comum com Marcos, Mateus é mais esquemático e conciso,
buscando normalmente explicar ensinamentos doutrinais.
O
interesse doutrinal revela-se, sobretudo, nos cinco grandes discursos que balizam
toda a obra e demonstram sua grande capacidade para compor a síntese por meio
da combinação das fontes. Ao final de cada um dos discursos, encontra-se a
mesma fase estereotipada, o que é boa prova de sua identidade e importância: “e
sucedeu quando terminou Jesus estas palavras...” Esta
frase, além da função de conclusão do discurso, tem uma função de transição à
narração a seguir.
Isso
é de suma importância: os discursos não são corpos estranhos que rompem o
relato, mas enxertam-se nele, conectam as seções narrativas e proporcionam o
sentido da ação. Cada discurso contém sua própria unidade literária e temática;
apresentam diversos aspectos do Reino dos Céus e há uma progressão entre eles.
Como podemos ver no quadro abaixo:
OS CINCO GRANDES
SERMÕES DE MATEUS:
1) O
SERMÃO DA MONTANHA – Jesus proclama o Reino dos céus e suas exigências.
2) O
DISCURSO MISSIONÁRIO – A extensão do Reino dos céus.
3) O
DISCURSO EM PARÁBOLAS – A natureza do Reino dos céus.
4) O
DISCURSO ECLESIOLÓGICO – A comunidade que aceita o Reino dos céus.
5) O
DISCURSO ESCATOLÓGICO – Preparados para a vinda do Reino dos céus.
a) Mateus
5,1-7,29 O Sermão da montanha: Jesus proclama o Reino dos céus e suas
exigências
Do
ponto de vista sincrônico, o plano do Sermão da Montanha é o seguinte:
-
Introdução (4,23-5,2)
I.
exórdio: as bem-aventuranças do Reino dos céus (5,3-12) e a missão dos
discípulos (5,13-16).
II.
a justiça do Reino dos céus (5,17-7,12).
·
A
lei cumprida pela justiça mais perfeita de Jesus (5,17-48).
·
A
justiça feita em segredo (6,1-18).
·
O
compromisso total exigido pela justiça do Reino (6,19-7,12).
III.
Final: colocar em prática a palavra (7,13-27).
Na
introdução, afirma-se que Jesus se dirige aos discípulos, com passo de fundo
uma grande multidão e num contexto de especial solenidade (5,1). Jesus proclama
as exigências vitais do Reino dos céus. Uma palavra, característica do
vocabulário de Mateus, repete-se nos momentos chave, “justiça” (5,6. 10.20;
6,1.33): trata-se da perfeição moral que corresponde ao discípulos de Jesus. As
bem-aventuranças que encabeçam o discurso, e que são originalmente a
proclamação da alegria da chegada do Reino, foram interpretadas por Mateus como
chave moral. Preocupam-no a perseguição (5,11-12), a manutenção da radicalidade
cristã quando o ferver decai (5,21-48; 6,19-7,12), a missão (5,13-16), a
coerência prática (7,13-27) e as relações com o judaísmo (6,1-18; 5,17-48).
b) Mateus
9,35-10,42: O discurso missionário: a extensão do Reino dos céus
O
discurso é dirigido aos discípulos e na introdução (9,35-38) dá-se a razão da
missão: a misericórdia de Jesus pelo povo e o premio escatológico (“a messe é
grande e poucos os operários”). Nesse discurso se distingue três partes: 1ª 10,1-5, o envio e alista dos doze; 2ª 10,5-16 instruções referente a
missão no tempo de Jesus; 3ª
10,17-42 instruções que refletem a situação da missão pós-pascal.
O
Reino dos céus que é proclamado no Sermão da Montanha deve ser entendido apesar
da perseguição, contando com assistência do Pai. É muito clara a atualização
eclesial dessas palavras de Jesus. É um discurso particularmente bem inserido
na trama narrativa.
c) Mateus
13,3-52: O discurso em parábolas: A natureza do Reino dos céus
O
discurso consta de sete parábolas e é bem estruturado.
Introdução
(13,1-2). Multidão.
·
À
multidão. Parábola do semeador (13,3-9).
Três
parábolas de crescimento:
·
Joio
(13,24-30);
·
Mostarda
(13,31-32);
·
Fermento
(13,33).
Aos
discípulos
Duas
explicações: razão das parábolas (13,34-35)
Explicação
da parábola do joio (13,36-43).
Três
parábolas:
·
tesouro
(13,44);
·
Pérola
(13,45-46);
·
Rede
(13,47-52).
Conclusão
(13,51-52). Discípulos.
d) Mateus
18,3-34: o discurso eclesiológico: a comunidade que aceita o Reino dos céus.
Todo
material de marcos e da fonte Q foi reelaborado por Mateus e colocado a serviço
de um discurso unitário, dirigido aos discípulos (18,1-2). Está em jogo como
deve viver a comunidade que aceita o Reino dos céus. Concretamente preocupam as
divisões internas da comunidade, o pecado e a situação fraca dos irmãos. A
igreja local adota um procedimento para solucionar os conflitos (18,15-20),
porém, tem como paradigma ultimo da atuação a misericórdia infinita de Deus; o
comportamento cristão deve procurar identificar-se com a misericórdia do Pai
(18,21-35).
e) Mateus
23,1-25,46: O discurso escatológico: preparados para a vinda do Reino dos céus.
É um
discurso longo com duas partes nitidamente diferenciadas: o capítulo 23 faz uma
retrospectiva, e uma ruptura com o judaísmo; os capítulos 24 e 25 projetam para
o futuro, até a vinda definitiva do Reino. Contudo trata-se de um só discurso.
Referências:
Bíblia do Peregrino. Paulus 2002.
Evangelhos sinóticos. Editora Ave Maria.
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