Terceiro Domingo da Páscoa dia 19 de abril
At
3,13-15.17-19\ 1Jo 2,1-5ª\ Lc 24,35-48
Pedro, nos Atos dos
Apóstolos, depois de recordar a paixão de Jesus, declara na presença de todo o
povo: “Deus o ressuscitou de entre os mortos e nós somos testemunhas”. O
episódio aconteceu na porta do templo e causou profundo impacto tanto naquele
que pedia esmola quanto nas pessoas que transitavam pelo local.
Essa leitura dos Atos
dos Apóstolos também nos convida a olhar um pouco mais de perto a figura de
Pedro. Quando o apóstolo fala desta maneira nem parece aquele Pedro que
fraquejou inúmeras vezes no seu seguimento a Cristo. No entanto, os seus
gestos, atitudes e pregação após a Páscoa de Jesus era um verdadeiro testemunho
de fé para a comunidade nascente, pois viam em Pedro a figura do discípulo que
mergulhou verdadeiramente no mistério da Páscoa, passando da morte do pecado
para a vida na graça.
Na segunda leitura,
João insiste no papel que a ação possui no testemunho: “E nisso sabemos que o
conhecemos: em guardar os seus mandamentos”. O amor de Deus se realiza
plenamente em quem guarda a sua palavra. Não se conhece a Deus teoricamente.
Não é suficiente saber que ele existe. É fundamental vivenciá-lo no cotidiano,
com base na prática de seus mandamentos. A vida de Jesus não pode ser resumida
numa teoria muito menos numa bela história. Discípulos verdadeiros são aqueles
que vivem no cotidiano a pessoa de Jesus Cristo.
João é muito
explicito quando escreve: “O amor de Deus se realiza plenamente em quem guarda
sua Palavra” (v.5). A plenitude de Deus e de seu amor em nós passa pela ação e
neutraliza a passividade. Um amor que nos tira do comodismo e nos leva em
direção ao outo. A observância dos mandamentos tem como ponto mais fundamental
justamente o amor entre os membros da comunidade. Plenificados no amor de Deus,
rompemos com o egoísmo e o isolamento e semeamos solidariedade. No Antigo
Testamento, particularmente nos profetas, o conhecimento de Deus passa pelos
gestos de solidariedade e compromisso com os mais fracos. Pode-se dizer,
portanto, que tantas e quantas vezes fomos em socorro dos mais pobres, também
estaremos indo ao encontro de Deus e de seu conhecimento.
De que valem as
testemunhas? O relato de Lucas sugere, antes de mais nada, a insuficiência do
contato visual somente. A cena impressiona: assustados, os onze e seus
companheiros imaginavam que veem um fantasma. A palavra do ressuscitado é
acrescentada à sua aparência e os discípulos passam a compreender melhor. No
entanto, os que ouvem ficam admirados e surpresos com a ação dele: Jesus como
com os companheiros um pedaço de peixe assado.
Jesus ressuscitado
aparece em meio ao cotidiano dos discípulos. Eles estavam conversando sobre os
últimos acontecimentos quando o mestre se apresenta. Não se tratava de um
delírio ou mera sugestão da mente. Jesus faz questão de que, diante do medo e
da perturbação sentida, eles o toquem. Não, realmente não se tratava de um
espírito. Trata-se, sim, da reconstrução da dignidade plena e total do ser
humano. A morte e ressurreição de Jesus são a leitura que a comunidade dos
discípulos faz de uma solidariedade numa situação limite do ser humano. Um Deus
que não abandona o ser humano numa situação crítica e ainda infunde esperança.
A ressurreição é consequência de Jesus preso à cruz; e a cruz simbolicamente
não está ligada a nenhum bem: nela reside o encontro da dor, do sofrimento e do
fracasso. Entretanto, na ressurreição nasce a promessa da esperança.
A dúvida e o receio a
que Jesus faz referência: “Por que vocês estão perturbados? E por que surgem
duvidas no coração de vocês?” certamente dizem respeito à sua inusitada
presença, mas também podemos refletir sobre os medos que rondam os discípulos
relativamente às ameaças que pairavam no ar por conta do assassinato de Jesus,
bem como sobre as dúvidas que povoam os corações: “Que será de nós e do nosso
movimento? Será que tudo acabou?”
Nota-se algo
fundamental nas palavras de Jesus para entender a qualidade radical do seu
projeto – a presença central das Escrituras: “São estas as palavras que eu lhes
falei quando ainda estava com vocês. Tinha de se cumprir tudo o que sobre mim
está escrito na lei de Moisés, nos profetas e nos salmos’. Então abriu a
inteligência deles, para que compreendessem as escrituras” (Lc. 24,44-45).
Definitivamente, não há como ser discípulo distanciado das Sagradas Escrituras.
Nela nos alimentamos diariamente com o projeto libertador e salvador de Jesus
Cristo, manifestado desde a ação solidária de Javé libertando os escravos no
Egito.