No
último domingo dia 22, na comunidade São Pedro em Repartição, vivemos um
momento litúrgico muito especial na Iniciação à Vida Cristã. Uma turma de 14
jovens que estão buscando os sacramentos da Iniciação Cristã, por meio desse
rito chamado de “Rito de Entrada no Catecumenato” adentrou no segundo tempo do
itinerário catequético chamado de “Catecumenato. Por meio desse texto podemos
compreender um pouco a natureza desse processo, a natureza da Iniciação à Vida
Cristã. Um caminho antigo e tão novo que pode muito nos ajudar na maturação de
um processo de fé que tem a centralidade no mistério de Jesus Cristo.
Frente
ao discurso de Pedro (At 2,14-26), os ouvintes perguntam: “O que temos de
fazer, irmãos?”, e recebem a resposta: “Convertei-vos que cada um de vós seja
batizado em nome de Jesus Cristo; e recebereis o dom do Espírito Santo” (At
2,37-41).
Os livros neotestamentários não nos falam expressavemente de
iniciação cristã, porém oferecem,
principalmente nos Atos dos Apóstolos e nos escritos paulinos, dados
significativos sobre a entrada na comunidade dos discípulos de Jesus Cristo. A
seguir ocorre um itinerário que integra os seguintes elementos essenciais[1]:
a)
A pregação do Evangelho,
b)
A acolhida da fé e a conversão,
c)
A catequese,
d)
A verificação das
condições do candidato,
e)
O batismo,
f)
O dom do Espírito Santo,
g)
A incorporação ao povo de Deus e
h)
A participação no corpo de Cristo.
A relação destes elementos expressa e conserva em entre si a
realidade superior da participação e da incorporação ao mistério de Cristo na
Igreja.
Junto a esses elementos essenciais, encontramos também em At
2,42-47 uma ampliação complementar, em forma de sistema educativo, para aqueles
primeiros batizados que começaram a fazer parte da primeira comunidade; segundo
o livro dos Atos, esta aprendizagem de vida cristã, realizada no seio da
comunidade, compreende quatro dimensões básicas:
1-
O
ensinamento dos apóstolos, que supõe o conhecimento como a
adesão à mensagem do evangelho, atestada pelos apóstolos;
2-
A
vida em comunhão, que compreende a fraternidade como novo estilo de vida,
conforme o evangelho;
3-
A
assiduidade na fração do pão e na celebração do dom da
salvação de Deus;
4-
A
perseverança na oração e no louvor de Deus.
A iniciação cristã era de
grande importância na Igreja primitiva, como atesta a presença direta dos
bispos nela ou na influência que teve essa preparação na estruturação do ano
litúrgico.
A iniciação na fé e na vida cristã constitui nos inícios o
centro de interesse da Igreja, que chegou a institucionalizar o catecumenato
primitivo e a fazer dele o caminho ordinário para se chegar a ser cristão. Este
caminho constava das seguintes etapas:
a)
A
etapa missionária, destinada aos pagãos. Centrava-se nos preâmbulos da fé
o primeiro anúncio de Jesus e se dirigia a suscitar a fé e a conversão. Quando,
depois da primeira prova ou exame avaliavam-se positivamente as motivações e
disposições do candidato, este era admitido ao catecumenato. Esta incorporação ia acompanhada em algumas
Igrejas da assinalação na fronte e da
imposição das mãos. Para os filhos de famílias cristãs esta primeira etapa
realizava-se na família e ordinariamente ficava ao cargo dos pais.
b)
A segunda etapa era
o tempo do catecumenato propriamente dito. Esta etapa tinha duração
aproximada de três anos e supunha um tempo de formação e de prova sob a guia de
um catequista. Os catecúmenos podiam participar da liturgia da Palavra junto à
comunidade dos fiéis. Ao concluir este período era previsto novo exame para
comprovar a autenticidade das atitudes do catecúmeno, seu progresso no
conhecimento do evangelho e na vida conforme a ele, e, deste modo, decidir sua
admissão na etapa seguinte.
c)
A
terceira etapa, que compreendia o tempo
da quaresma, era de preparação imediata aos sacramentos
da iniciação. No começo da quaresma, em cerimônia litúrgica especial, o
bispo inscrevia os eleitos e pronunciava a homilia, chamada também protocatequese. Esta preparação imediata
compreendia três aspectos:
1- O ensinamento ou iniciação: durante as primeiras
semanas, em reunião diária, o bispo explicava a Sagrada Escritura; a partir da
quarta semana da quaresma (sexta no oriente) desenvolvia-se a catequese propriamente
doutrinal, que se iniciava com a traditio
Symboli, como ato de tradição, de transmissão oficial da fé da Igreja, e
que era explicada em seus distintos artigos pelo bispo durante as duas semanas
seguintes; finalizava-se com a redditio
Symboli (proclamação pública da fé).
2- A formação espiritual. Implica a superação do pecado, o exercício
da vida no Espírito e a iniciação nos costumes cristãos; por isso, a quaresma é
entendida como tempo de luta, de penitência, de retiro espiritual e de oração.
3- A
formação litúrgica e ritual: a preparação imediata é, pois, tempo de prova
e de combate contra o príncipe deste mundo; o catecúmeno exercitar-se-á no
combate espiritual, na renúncia a Satanás e na adesão a Cristo; para isso
encontrará ajuda na vida litúrgica: os ritos, exorcismos e escrutínios serão
freqüentes. Esta terceira etapa culminará na vigília pascal com a celebração
dos sacramentos do batismo, da confirmação e da eucaristia.
d)
A
última etapa do catecumenato corresponde
ao tempo pascal. Durante a semana de páscoa terá lugar a catequese mistagógica
para os neófitos, e nela se explicará o simbolismo dos ritos, as figuras
bíblicas dos sacramentos e se exortará a viver em Cristo.
Em
síntese, podemos dizer que a iniciação cristã no catecumenato primitivo supõe
um caminho ou processo de formação por etapas no qual se integram a instrução
catequética, a conversão e a mudança radical da vida, a experiência litúrgica
e de oração, a formação espiritual, a celebração dos sacramentos do batismo,
confirmação e eucaristia, pelos quais os candidatos são incorporados ao
mistério de Cristo e a sua Igreja.
O
catecumenato concebe-se como aprendizagem ou noviciado da vida cristã, que se nutre da catequese e da escuta da
Palavra; é apoiado por celebrações litúrgicas e fortalecido por exercícios
ascéticos e penitenciais, sob a ajuda da comunidade eclesial que acolhe o
catecúmeno, acompanha-o e o forma e, finalmente, incorpora-o em seu seio.