quarta-feira, 18 de maio de 2016

MOMENTO FORMATIVO - A CARTA DE TIAGO


Ao autor da carta se atribui o ilustre título “Servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo. Esse autor parece uma personalidade destacada, chefe judeu cristão que defendeu uma linha conservadora no que se refere as decisões legais.
A carta menciona a apalavra Cristo três vezes (1,1; 2,1; 5,7). Contem assuntos bem cristãos como a debatida questão da relação fé e obras, a regeneração pela palavra/mensagem e a lei da liberdade.
Apesar de ter o nome de carta esse escrito não tem muitas características de carta, tampouco é uma homilia ou tratado. Parece mais um escrito sapiencial do AT. São verdadeiros imperativos sapienciais, de conselho e não de mandato. Para início de estudo apresenta uma exposição viva e espontânea da mensagem no ambiente das primitivas comunidades cristãs de origem judaica e revela uma série de contrastes que despertam a atenção. Além de não ter sido estudada muito por alguns motivos como:  seu forte carácter de exortação moral e pelo seu sabor judaico e, propõe como modelos apenas figuras do Antigo Testamento: Abraão, Joab, Raab, Elias;
A carta recorre muito, de forma implícita, ao evangelho de Mateus, pode se constar pelo menos 29 dependências do sermão da montanha (Mt 5-7). Não podemos de todo estranhar esse estilo, pois assim como Mateus a carta tem uma forte intenção destinada às primeiras comunidades vindas do judaísmo. Daí o constante convite à perfeição.
O texto contém muitos hebraísmos: construções hebraicas (1,22; 2,12; 4,11), paralelismo, parataxe, genitivo de qualidade (1,25; 5,15). O autor exprime-se num grego de alto nível, apenas comparável ao de Hebreus; de fato, tem um vocabulário rico (63 palavras não aparecem no resto do NT, 45 encontram-se nos Setenta e 4 estão ausentes do grego helenístico) e utiliza os recursos retóricos da diatribe cínico-estóica, pequenos diálogos com um interlocutor imaginário (2,14-26), perguntas retóricas (2,4.5b.14.16; 3,11-12; 4,4-5) e interpelações incisivas (1,16.19; 4,13; 5,1), imperativos (mais de 60), paradoxos e contrastes (1,26; 2,13.26; 3,15; 4,12), bem como frequentes exemplos e comparações. Tudo isto dá à Carta uma grande vivacidade.
A teoria desta Carta sugere que este seja um escrito judaico retocado por cristãos. Este argumento é destituído de base sólida; toda a Carta tem um cunho cristão. A Tradição da Igreja é unânime em atribuí-la a um Apóstolo do Senhor, de nome Tiago; e, se a perfeição do grego utilizado não condiz com um Tiago palestino, isto poderia dever-se à redação cuidada de um secretário judeu-cristão muito culto ligado àquele Apóstolo.
A hipótese de um escrito posterior pseudo-epigráfico também não oferece probabilidade, pois um estranho que se quisesse servir de um nome notável não deixaria de apelar para os títulos tão importantes de “Apóstolo” ou “Irmão do Senhor”, coisa que o autor não faz, limitando-se a apresentar-se modestamente como “servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo” (1,1).
Mas o autor também não deve ser Tiago Maior, o Apóstolo irmão de João, pois foi martirizado muito cedo (em 42 ou 44). E alguns pensam que tampouco é o outro Apóstolo do mesmo nome, o filho de Alfeu (ver Mc 3,18 par.), mas um terceiro Tiago, “o irmão do Senhor”, homem de grande prestígio, ligado aos Apóstolos e chefe da comunidade de Jerusalém (At 12,17; 15,13-21; 21,18-25; Gl 1,19; 2,9.12), o qual, após a Ressurreição, passou a crer em Jesus. A identificação habitual destes dois Tiagos (o Menor, “filho de Alfeu” e “o Irmão do Senhor”) só se teria dado no correr dos séculos, a partir do que se diz em Gl 1,19: “Não vi nenhum outro Apóstolo, exceto Tiago, irmão do Senhor.” Trata-se de uma questão discutida, pois este texto de Gálatas pode entender-se de outra maneira, traduzindo, em vez de “exceto Tiago”: “mas somente Tiago”.
Como escrito tipicamente didático e moral, a Carta não obedece a um plano doutrinal previamente elaborado. Os temas sucedem-se ao correr da pena, sempre com a preocupação dominante de apelar a que os fiéis vivam o espírito cristão em todas as circunstâncias de um modo coerente com a fé, em perfeita unidade de vida: o comportamento dos cristãos tem de ser um reflexo da sua fé. Sublinhamos os temas das principais exortações:
A atitude cristã perante as provações: 1,2-18;
Pôr em prática a Palavra: 1,19-27;
Caridade para com todos: 2,1-13;
Fé com obras: 2,14-26;
Domínio da língua: 3,1-12;
Verdadeira sabedoria: 3,13-18;
Origem das discórdias: 4,1-12;
Evitar a presunção: 4,13-17;
Advertências aos ricos: 5,1-6;
Exortações finais: 5,7-20.
Como foi dito, esta Carta é o único escrito do NT a referir expressamente o Sacramento da Unção dos Doentes (5,13-15), que não aparece como um piedoso costume, mas como um dos Sacramentos instituídos por Cristo. De fato, a unção é feita apenas pelos presbíteros da Igreja, em nome do Senhor e obtém efeitos sobrenaturais, como o perdão dos pecados.






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