Ao autor da carta se atribui o ilustre título “Servo de Deus
e do Senhor Jesus Cristo. Esse autor parece uma personalidade destacada, chefe
judeu cristão que defendeu uma linha conservadora no que se refere as decisões
legais.
A carta menciona a apalavra Cristo três vezes (1,1; 2,1;
5,7). Contem assuntos bem cristãos como a debatida questão da relação fé e
obras, a regeneração pela palavra/mensagem e a lei da liberdade.
Apesar de ter o nome de carta esse escrito não tem muitas características
de carta, tampouco é uma homilia ou tratado. Parece mais um escrito sapiencial
do AT. São verdadeiros imperativos sapienciais, de conselho e não de mandato.
Para início de estudo apresenta uma
exposição viva e espontânea da mensagem no ambiente das primitivas comunidades
cristãs de origem judaica e revela uma série de contrastes que despertam a
atenção. Além de não ter
sido estudada muito por alguns motivos como: seu forte carácter de exortação moral e pelo seu sabor
judaico e, propõe como modelos apenas figuras do Antigo Testamento: Abraão, Joab,
Raab, Elias;
A
carta recorre muito, de forma implícita, ao evangelho de Mateus, pode se
constar pelo menos 29 dependências do sermão da montanha (Mt 5-7). Não podemos
de todo estranhar esse estilo, pois assim como Mateus a carta tem uma forte
intenção destinada às primeiras comunidades vindas do judaísmo. Daí o constante
convite à perfeição.
O
texto contém muitos hebraísmos: construções hebraicas (1,22; 2,12; 4,11),
paralelismo, parataxe, genitivo de qualidade (1,25; 5,15). O autor exprime-se
num grego de alto nível, apenas comparável ao de Hebreus; de fato, tem um
vocabulário rico (63 palavras não aparecem no resto do NT, 45 encontram-se nos
Setenta e 4 estão ausentes do grego helenístico) e utiliza os recursos
retóricos da diatribe cínico-estóica, pequenos diálogos com um interlocutor
imaginário (2,14-26), perguntas retóricas (2,4.5b.14.16; 3,11-12; 4,4-5) e
interpelações incisivas (1,16.19; 4,13; 5,1), imperativos (mais de 60),
paradoxos e contrastes (1,26; 2,13.26; 3,15; 4,12), bem como frequentes
exemplos e comparações. Tudo isto dá à Carta uma grande vivacidade.
A teoria desta
Carta sugere que este seja um escrito judaico retocado por cristãos. Este
argumento é destituído de base sólida; toda a Carta tem um cunho cristão. A
Tradição da Igreja é unânime em atribuí-la a um Apóstolo do Senhor, de nome
Tiago; e, se a perfeição do grego utilizado não condiz com um Tiago palestino,
isto poderia dever-se à redação cuidada de um secretário judeu-cristão muito
culto ligado àquele Apóstolo.
A hipótese
de um escrito posterior pseudo-epigráfico também não oferece probabilidade,
pois um estranho que se quisesse servir de um nome notável não deixaria de
apelar para os títulos tão importantes de “Apóstolo” ou “Irmão do Senhor”,
coisa que o autor não faz, limitando-se a apresentar-se modestamente como “servo
de Deus e do Senhor Jesus Cristo” (1,1).
Mas o autor
também não deve ser Tiago Maior, o Apóstolo irmão de João, pois foi martirizado
muito cedo (em 42 ou 44). E alguns pensam que tampouco é o outro Apóstolo do
mesmo nome, o filho de Alfeu (ver Mc 3,18 par.), mas um terceiro Tiago, “o
irmão do Senhor”, homem de grande prestígio, ligado aos Apóstolos e chefe da
comunidade de Jerusalém (At 12,17; 15,13-21; 21,18-25; Gl 1,19; 2,9.12), o
qual, após a Ressurreição, passou a crer em Jesus. A identificação habitual
destes dois Tiagos (o Menor, “filho de Alfeu” e “o Irmão do Senhor”) só se
teria dado no correr dos séculos, a partir do que se diz em Gl 1,19: “Não vi
nenhum outro Apóstolo, exceto Tiago, irmão do Senhor.” Trata-se de uma questão
discutida, pois este texto de Gálatas pode entender-se de outra maneira,
traduzindo, em vez de “exceto Tiago”: “mas somente Tiago”.
Como escrito tipicamente didático
e moral, a Carta não obedece a um plano doutrinal previamente elaborado. Os
temas sucedem-se ao correr da pena, sempre com a preocupação dominante de apelar
a que os fiéis vivam o espírito cristão em todas as circunstâncias de um modo
coerente com a fé, em perfeita unidade de vida: o comportamento dos cristãos
tem de ser um reflexo da sua fé. Sublinhamos os temas das principais
exortações:
A atitude cristã perante as
provações: 1,2-18;
Pôr em prática a Palavra: 1,19-27;
Caridade para com todos: 2,1-13;
Fé com obras: 2,14-26;
Domínio da língua: 3,1-12;
Verdadeira sabedoria: 3,13-18;
Origem das discórdias: 4,1-12;
Evitar a presunção: 4,13-17;
Advertências aos ricos: 5,1-6;
Exortações finais: 5,7-20.
Como foi dito, esta Carta é o
único escrito do NT a referir expressamente o Sacramento da Unção dos Doentes
(5,13-15), que não aparece como um piedoso costume, mas como um dos Sacramentos
instituídos por Cristo. De fato, a unção é feita apenas pelos presbíteros da
Igreja, em nome do Senhor e obtém efeitos sobrenaturais, como o perdão dos
pecados.
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