sexta-feira, 28 de novembro de 2014

MOMENTO FORMATIVO COM A APALAVRA DE DEUS IV


Deus fala na Bíblia e nas histórias que o povo conta
Muitos escritos contemporâneos aos escritos bíblicos não entraram na Bíblia e são considerados apócrifos. Os livros que formaram a Bíblia se tornaram mais conhecidos. Muito cedo foram traduzidos em outras línguas, a começar do grego e do latim; hoje há versões em quase todas as línguas. Parece ter sido um trabalho simples e fácil, mas não foi. Exigiu muito esforço de pessoas e grupos que se dedicaram a copiar, rever, comparar e apresentar sua análise e crítica textual, que aparece na Bíblia e em obras especializadas.
Os Livros Apócrifos
Talvez você nunca tenha ouvido a palavra “apócrifo”. Ela soa estranha e difícil, mas não é. A palavra vem do grego (apókriphos) e significa “escondido, secreto”. Ela aparece por exemplo, em Cl 2,2-3 – “... mistério de Deus, [...] no qual se acham escondidos todos os tesouros [...]” – e em Mc 4,22 – “...nada há de escondidos todos os tesouros [...]”. Ao se contrapor aos livros canônicos, a palavra tomou outro sentido, passando a indicar livro de origem incerta, não inspirado, não canônico.
Existem livros apócrifos do Primeiro e do Segundo Testamentos. Os do Primeiro Testamento surgiram do século II a.E.C. ao século III E.C. Entre os mais importantes, encontram-se o Apocalipse de Moisés, 2 Esdras, 3 e 4 Macabeus, Henoc, Testamento dos Doze Patriarcas, Salmos de Salomão, Assunção de Moisés, e muitos outros. Os apócrifos do Segundo Testamento que chegaram até nós vão do século I até o século V E.C Predominam os livros sobre a infância de Jesus, sua paixão, os pais de Jesus e os apóstolo. Sobre a infância, destaca-se o protoevangelho de Tiago e o livro da Natividade de Maria. Sobre a paixão, o evangelho de Nicodemos e o evangelho de Gamaliel. Sobre a paixão, o evangelho de Nicodemos e o evangelho de Gamaliel. Sobre os pais de Jesus, a Morte de Maria o Trânsito de Maria e a História de José, o carpinteiro.
Os livros apócrifos não foram considerados inspirados. Eles tinham a preocupação de dar maiores informações sobre as pessoas que apareciam na Bíblia, manter viva a esperança no Messias e dar informações sobre o ambiente religioso, cultural e social do período em que surgiram. Esses escritos refletiam às vezes até uma viva e profunda fé, misturada, porém, com uma grande dose de imaginação e fantasia. Muitos deles inspiraram as pinturas e a iconografia (imagens de santos).
Livros de grande valor surgiram e vão surgir. Eles podem ser importantes para ajudar a encontrar o sentido da vida e dar razões para aquilo em que acreditamos. Podem ajudar a entender o que está escrito nos diferentes cânones da Bíblia, tornando mais clara para nós, a vontade de Deus e o caminho da salvação, mas outros livros não podem entrar na lista dos diversos cânones bíblicos.
Muitas pessoas de tempos, lugares e situações diferentes contribuíram para que os livros sagrados e os apócrifos chegassem até nós: as mulheres e os homens que escreveram esses livros e também todas as pessoas que contaram as histórias, copiaram os textos, cuidaram de sua conservação e os traduziram do hebraico, aramaico, grego e latim para a nossa e para outras línguas.
A Bíblia entre nós
A Bíblia levou mais de mil anos para ser escrita. Começou por volta de 1250 a.E.C. e terminou cerca do ano 115 E.C. Dessa última data até hoje, passaram-se quase 2 mil anos. Além da grande distância no tempo, as línguas em que a Bíblia foi escrita não são, normalmente conhecidas entre nós. Era necessário que alguém a traduzisse das línguas originais para as línguas faladas hoje. Por isso, desde cedo começaram a aparecer traduções.
a) Traduções Gregas
A tradução da Bíblia hebraica para o grego ocorreu porque, com o passar dos anos, os descendentes dos judeus não falavam nem liam mais o hebraico, e sim o grego. Nasceu assim a necessidade de traduzir a Bíblia hebraica para o grego. Essa tradução é conhecida como a Septuaginta ou Setenta (LXX).
Outras traduções do texto hebraico para o grego foram surgindo, como a Héxapla (do grego, “seis colunas”). Foi organizada por Orígenes. Ele colocou em seis colunas paralelas quatro traduções dos textos da Bíblia. Na primeira coluna colocou o texto hebraico; na segunda, a transcrição do texto hebraico em grego; na terceira a tradução Áquila; na quarta, a tradução de Símaco; na quinta, a dos Setenta corrigida por Orígenes; e, na sexta, a tradução de Teodocião. A Héxapla era uma coleção de 50 volumes, que não existe mais. Foi destruída pelos árabes, por volta do ano 638 E.C.
b) Traduções para o latim
As primeiras traduções dos textos originaius da Bíblia para o latim levam o nome genérico de Vetus Latina. São Parciais, Anteriores à vulgata e importantes por causa de suas notas explicativas.
No ano 323 E.E, Constantino, imperador romano, emitiu o “Édito de Milão” dando liberdade religiosa e de culta a todos os cidadãos do reino, favorecendo, sem dúvida, os cristãos. Mais tarde, com o imperador Teodósio I em 280 E.C., o cristianismo foi proclamado “religião de estado”. Nessa época do Ocidente, a língua falada popularmente era o latim. Surgiu, então, a necessidade de traduzir a Bíblia para esse idioma, com o intuito de oferecê-la na língua do povo. Essa tradução chamou-se vulgata e significa “popular”. Foi feita por Jerônimo, um estudioso da Bíblia, dos Anos 390 a 405 E.C. Sua importância está nas introduções a cada livro da Bíblia e nos comentários. Ainda hoje é considerada texto oficial da Igreja Católica. A partir do Concílio Vaticano II (1962-1965), foi feita uma nova revisão da Vulgata e publicada com o nome de Neo vulgata (Nova vulgata), na Cidade do Vaticano, em 1976.
c) Traduções para as línguas modernas
A partir de 1500 E.C., o latim não era mais a língua falada pela maioria do povo. Cada país do Ocidente Falava sua língua. Não era mais possível oferecer a Bíblia numa única Língua. Pouco a pouco a Bíblia foi sendo traduzida para diversas línguas: alemão, inglês, francês, espanhol, português e outras. Essa iniciativa de traduzir a Bíblia em línguas modernas deve-se sobretudo a Lutero, Calvino e aos anglicanos.
A primeira tradução dos textos originais da Bíblia para o português de Portugal foi feita pelo calvinista João Ferreira de Almeida em 1680. No Brasil, a Bíblia foi impressa pela primeira vez em 1864, no Rio de Janeiro, por Garnier Livreiro-Editor. Era tradução da Vulgata em português de Portugal, foi feita pelo Pe. Antônio Pereira de Figueiredo. Circulou até a terceira edição, mais foi proibida por Roma, por causa das notas ao pé da página, que não foram aceitas. Em 1904, foi feita uma revisão dessas notas pelo Pe. Santos Farinha, aprovada e editada em 1904.
Em 1943, Edições Paulinas imprimiram a Bíblia traduzida da Vulgata em português de Portugal pelo Pe. Matos Soares. De 1958 em diante, todas as traduções da Bíblia foram feitas das Línguas Originais, e publicadas por várias editoras: Biblia de Jerusalém (Paulus, 1985), Biblia Sagrada (Vozes), Biblia Sagrada (Ave Maria, 1977), Bíblia Sagrada: edição pastoral (Paulus, 1990), a Bíblia TEB (Loyola, 1994), Bíblia do peregrino (São Paulo, Paulus, 200), Bíblia – tradução da CNBB 2001. O trabalho de tradução é muito exigente e difícil, dada a grande quantidade de cópias diferentes que surgiram no decorrer dos anos e que foram conservadas em museus, além das exigências linguísticas atuais.
O texto bíblico e suas dificuldades
As últimas redações originais dos textos bíblicos foram feitas há quase 2 mil anos. Esses textos foram escritos em materiais perecíveis, em línguas antigas e em lugares diferentes, em situações de dominação quase constante, exílios e guerras frequentes. Nessas condições, era impossível que chegassem até nós esses textos originais! Assim, a Bíblia que temos hoje é formas por cópias e cópias desses textos.
As cópias eram feitas por pessoas que sabiam ler e escrever as línguas de origem. Elas eram chamadas copistas ou amanuenses. Muitas delas faziam isso como profissão. A palavra “amanuense” vêm do latim e quer dizer “aquele que copia à mão”. As cópias que os amanuenses faziam recebiam o nome de manuscritos (escritos à mão).
Surgiam muitos erros de uma cópia para outra, por vários motivos. O copista às vezes não enxergava bem o que estava copiando, ou não ouvia bem quando alguém ditava, ou entendia uma coisa, mas era outra, ou tinha muita pressa, ou não tinha boa memória. Havia tantas causas! Por isso, existem cópias de livros da Bíblia em que faltam palavras, ou há palavras invertidas, trocadas... Às vezes os copistas não entendiam uma abreviação ou uma palavra e cometiam erros sem querer.
Aconteceram outras mudanças no texto copiado porque o copista fez algumas correções de gramática, de estilo e até de conteúdo. As diferenças ou erros no mesmo texto ou entre um texto e outro são chamadas de “lições” ou “variantes”. Essas diferenças entre as cópias fizeram nascer um estudo importante chamado crítica textual.
Critica textual da Bíblia
Crítica textual é a arte de descobrir e corrigir os erros de um texto transmitido. Aplicada à Bíblia, procurar extrair dos diversos manuscritos bíblicos, disponíveis atualmente – que são copias – o texto que, por deduções, se aproxime o máximo possível do original. No exame que faz desses textos manuscritos, a crítica textual está atenta às mudanças feitas pelos copistas entre uma cópia e outra, examinando também outros aspectos correlatos, tais como a estrutura do texto e o que ele diz ou deixa de dizer.
Como saber se esta ou aquela cópia (manuscrito) é a mais parecida com o texto original, quando este não existe mais? É difícil acertar cem por cento. Os estudiosos da Bíblia seguem algumas regras que ajudam a saber qual das cópias se parece mais com o texto original. Primeiro, escolhem a variante (ou lição) que ajuda a entender e explicar outras variantes. Segundo, escolhem a variante mais difícil e a mais curta, e não a mais fácil e a mais longa, porque esta seria a redação de alguém que já teria tentado explicá-la. Terceiro, escolhem a que é diferente dos outros textos paralelos.
            A crítica textual não é mais importante do que o texto da Bíblia. Apenas quer ajudar a entender melhor o texto, no ponto em que há problema para compreendê-lo. Quer ajudar a tirar as mensagens de acordo com o que o texto quer dizer, e não com o que nós queremos que ele diga.
Formação da Bíblia hebraica
As cópias dos textos originais, ou manuscritos, da Bíblia hebraica – a qual corresponde ao Primeiro Testamento para os cristãos – levam o nome da cidade onde eles se encontram ou foram achados. Assim, temos os seguintes manuscritos:
·         Manuscrito de Leningrado, do ano 1008 E.C.; encontra-se na Rússia.
·         Manuscrito de Alepo, na Síria, do início do século X E.C. Foi levado para a Biblioteca de Israel.
·         Manuscrito Cairense, da cidade do Cairo, no Egito. É do ano 885 E.C.
·         A esses manuscritos se acrescenta, também, um códice, do ano 847 E.C., descoberto recentemente na coleção do Instituto para os Povos Asiáticos de Leningrado.
Merece destaque o trabalho de crítica textual que os massoretas realizaram com muita seriedade no estudo comparativo das diferentes cópias de textos da Bíblia Hebraica, de que dispunham. Quando encontravam cópias de textos ou livros inteiros da Bíblia com erros de transcrição ou palavras trocadas, eles respeitavam o texto sem o corrigir. Indicavam ao pé da página, em duas colunas horizontais e em uma coluna da margem lateral vertical as palavras que eram escritas e lidas de forma diferente do texto e em qual documento se encontravam. Foi um trabalho de grande responsabilidade e muito importante para os estudos bíblicos.

Formação do Segundo Testamento
Do Segundo Testamento, escrito na língua grega aproximadamente entre os anos 50 e 115 E.C., também não existe mais nenhum texto original. As cópias eram feitas com dois tamanhos de letras, maiúsculas e minúsculas. As cópias ou manuscritos de letras maiúsculas também levam o nome da cidade onde se encontram hoje. Os manuscritos mais importantes que serviram de base para formar o Segundo Testamento são:
·         Manuscrito do Vaticano(B), do século IV E.C. É um dos manuscritos mais autorizados.
·         Sinaítico (S), do fim do século IV E.C. Encontra-se no mosteiro de Santa Catarina na península do monte Sinai. Além de trazer o Primeiro e o Segundo Testamentos, traz outros livros que não entraram na lista dos aprovados na Bíblia usada pelos cristãos católicos, como o quarto livro de Macabeus, carta de São Barnabé e a carta ao Pastor de Hermas.
São igualmente importantes o Reescrito de Santo Efrém (C), o Manuscrito Alexandrino (A), o Manuscrito de Beza (D 05) e o Manuscrito de Clermont (D 06).
O Manuscrito de Santo Efrém é conhecido também por Reescrito, porque o texto original “foi raspado para ser escrito novamente”, processo conhecido como palinsesto, nos estudos bíblicos. O primeiro texto do Segundo Testamento foi escrito no Século IV E.C., raspado no século VI e substituído por um texto de santo Efrém. A leitura do texto de santo Efrém. A leitura do texto primitivo que havia sido raspado tornou-se possível mediante um processo fotográfico com raios infravermelhos.
Os quatro documentos mais importantes – Vaticano, Sinaítico, Reescrito de Santo Efrém e Alexandrino – contêm o Primeiro e o Segundo Testamentos, mas serviram principalmente para formar o Segundo Testamento. Além dos manuscritos em letra maiúscula, existem os manuscritos em letra minúscula, os papiros e os lecionários. São classificados por números e não por nomes e letras.
O manuscrito mais importante em letra minúscula é o número 461. Traz os quatro evangelhos; foi copiado por volta do ano 835 E.C. e encontra-se na Biblioteca de Leningrado, na Rússia.
O papiro mais antigo é o 52. Ele traz alguns versículos do evangelho de João (Jo 18,31-38). Encontra-se na Biblioteca de J. Ryland, na Inglaterra. O lecionário (1) mais antigo é o de número 1596. Foi escrito no século V e encontra-se em uma biblioteca, em Viena.
Esses manuscritos são agrupados em famílias, identificadas por uma letra maiúscula do alfabeto. No grupo H, encontram-se os manuscritos mais importantes e antigos: o vaticano (B), o Sinaítico (S), o Lecionário 1596 (1) e muitos papiros.

A contagem do tempo
Cada povo conta o tempo do seu jeito. Uns contam os anos a partir do movimento do Sol, outros, da Lua, outros, ainda, do Sol e da Lua. Essas formas de contar o tempo recebem o nome de calendário solar, lunar e lunissolar. O calendário determina o inicio do ano, divide-o em períodos de meses, semanas, dias e horas. A princípio, ele servia para indicar as festividades ou celebrações rituais – religiosas, do plantio e da colheita na agricultura. Aos poucos o calendário foi sendo usado para marcar outros fatos da vida civil. Muitos povos antigos e modernos têm um calendário religioso e um civil. Também hoje existe um ano civil, um ano escolar e um ano litúrgico. Cada um deles começa e termina em época diferente. O nosso ano civil tem 365 dias, 12 meses, sete dias na semana e 24 horas ao dia. Começa em 1 de janeiro e termina em 31 de dezembro. Será que era feita assim a contagem dos anos pelo povo da Bíblia?
Como entender quando a Bíblia fala que algumas pessoas viveram mais de 200 anos e matusalém chegou até 969 anos? (Gn 5,27). Muita gente pensa que a contagem dos anos era muito diferente da nossa. Não era, Não! O povo da Bíblia, no início, adotava o calendário dos povos que o dominaram, como os egípcios e os babilônios. Depois, elaborou seu próprio calendário. Ora, o calendário egípcio, há 4 mil anos a.E.C, já conhecia o ano de 365 dias, 12 meses de 30 dias, mais cinco suplementares. Muito Parecido com este era o calendário da Babilônia. O povo da Bíblia seguia esses calendários.
A Bíblia atribui um grande número de anos a um de seus personagens para indicar a qualidade de vida dos anos, e não sua quantidade. O autor da Bíblia não estava preocupado em dizer com quantos anos morreu matusalém, mas em dizer que a vida dele foi bem vivida. Uma forma de avaliar a intensidade de vida de um personagem Bíblico era lhe atribuir um elevado número de anos. Este, porém, tinha um valor simbólico e não real.
O antigo calendário judaico foi organizado pelo patriarca Hillel II, no ano 358 E.C. O ano consiste em 12 meses lunares, alguns com 29 dias e outros com 30 dias, sendo acrescentado um mês de 30 dias a cada três anos, para que corespondam às festas litúrgicas em suas respectivas estações

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