Arqueologia
e inspiração divina
A Bíblia é fruto da inspiração divina atuantes nas
pessoas que contribuíram para a sua elaboração, tanto por meio da transmissão
oral como das redações, cópias e revisões. A leitura e compressão da Bíblia,
por sua vez, à luz do Espírito Santo, são bastante ajudadas, hoje, tanto pelas
experiências de vida das comunidades como pelas contribuições de pesquisas
cientificas, particularmente pela arqueologia. Vamos conhecer as técnicas da
arqueologia e alguns lugares em que elas são aplicadas. Essas pesquisas ajudam
a compreender melhor os escritos bíblicos, sua formação e o próprio cânon
bíblico.
Arqueologia,
ciência que revela a vida
A arqueologia (do grego arcaicos+logos: estudo das
antiguidades) encontra-se entre as ciências que oferecem melhores condições
para o estudo do Israel antigo. Ela era uma subciência da história. No século
XX, porem, tornou-se uma ciência formal, com objetivos próprios e métodos
específicos. A história investiga documentos escritos e é apoiada pela
arqueologia que pesquisa monumentos, objetos e fragmentos antigos, perdidos no
tempo e, de alguma maneira, ocultos. No inicio, essa pesquisa limitava-se
àquilo que era encontrado na superfície do solo, mas evoluiu para a busca em
escavações, também. Na arqueologia moderna, temos duas etapas que se completam:
a exploração dos locais históricos de habitação humana, sobretudo mediante as
escavações, e interpretação dos achados. Quando estes contêm textos, são
analisados pela epigrafia, que confronta os textos entre si e procura
reconstruir a cultura e os costumes da época estudada.
A arqueologia tem um ramo mais especifico: a
arqueologia bíblica. Esta contribui para melhor compreensão dos textos
bíblicos, esclarecendo questões duvidosas ou pouco definidas. Uma grande parte
da Bíblia foi esclarecida pelos resultados de pesquisas arqueológicas, que
reconstituiu tanto o amplo fundo histórico do mundo antigo, no qual os hebreus
viviam, como os detalhes concretos da vida e do trabalho naquele mundo, além da
contribuição de textos ou fragmentos de textos encontrados.
As escavações arqueológicas na terra de Israel e em
outras regiões de interesse bíblico começaram no século XIX. Suas técnicas de
pesquisa estão sendo aperfeiçoadas até hoje. Para as escavações, os arqueólogos
escolhem uma colina baixa, chamada tell, lugar habitado no passado e
repetidamente destruído e reconstruído. O modo de estudar este lugar é feito de
forma horizontal e vertical. Durante as escavações, o terreno é observado,
descrito e registrado nesses dois sentidos. Tudo isso para chegar à idade mais
precisa de determinado povo, cultura e objeto, e recompor sua história.
Nas escavações são encontradas camadas sobrepostas
de ruinas com utensílios, moedas jarras de épocas diferentes e ouros objetos.
Tudo que é encontrado é medido, fotografado, estudado e catalogado e conservado
em museus. Normalmente a cerâmica é de grande ajuda para estabelecer datas,
porque ela era diferente na forma e nos desenhos, segundo cada grupo humano e
cada época.
A intervenção dos achados nas pesquisas às vezes é facilitada
quando são encontradas, nomes de pessoas e lugares. Quando isso não ocorre, há
um recurso a outras fontes de Israel ou de povos vizinhos, que permitam
reencontrar o contexto histórico, cultural e religioso dos achados. A bíblia é
uma referência indicativa para a realização das pesquisas arqueológicas e pode
ser também uma fonte elucidativa para a interpretação dos achados.
Na terra de Israel, as mais importantes escavações
foram realizadas em Jerusalém e arredores. Foram encontradas ruinas de muros e
de construções de épocas diferentes. Ressaltamos três lugares importantes para
a escavação e pesquisas: a Piscina da Porta das Ovelhas e o Litóstrotos em
Jerusalém; uma sinagoga em Cafarnaum, na Galiléia e Qumram, na Judeia.
a) Piscina
da porta das ovelhas
A parte antiga da cidade de Jerusalém é cercada por
um muro. No tempo de Jesus, existiam no muro muitas portas para saída e entrada
de pessoas e animais. Cada porta tinha um nome, uma das quais era conhecida
como Porta das Ovelhas. Perto dela ficava a piscina, chamada de Betzata (casa
do óleo), conhecida como Betesda, que significa “casa da misericórdia” (Jo
5,2). Nas escavações de 1958, os arqueólogos descobriram restos dessa piscina.
b) O
Litóstrotos
Outro lugar importante é o Litóstrotos (Jo 19,13),
onde Jesus foi condenado por Pilatos, em Jerusalém, na via dolorosa. A palavra
“Litóstrotos” vem do grego e significa “pavimento de pedra”. Foi descoberto nas
escavações dos anos 1931 e 1932.
c) A
sinagoga de Cafarnaum
Outros lugares da Palestina, como Cafarnaum, Jericó,
Gazer, Samaria, são fontes de pesquisas arqueológicas. Cafarnaum, pequena
cidade da Galileia, próxima ao lago de Genesaré, é mencionada muitas vezes nos
evangelhos. Em Cafarnaum havia um posto fiscal (Mc 2,14) e um posto de policia
(Jo 4,46). Jesus morou em Cafarnaum (Mc 1,29-30), pregou na sinagoga (Mc 1,21),
lamentou-se sobre a cidade (Mt 11,23-24).
Em 1905, durante as pesquisas arqueológicas em
Cafarnaum, foi descoberta uma sinagoga construída no século IV E.C. debaixo do
seu piso, encontram-se ruinas de uma construção anterior que remonta ao século
I E.C. Essa descoberta faz supor que se trata das ruinas da sinagoga que foi
frequentada por Jesus (Jo 6,59). Perto dela foram encontrados restos de uma
Igreja Bizantina de formato octogonal, construída ao redor de uma casa mais
antiga, venerada muito cedo pelos cristãos, como sendo a casa de Pedro.
d) Qumram e
os documentos do mar Morto
A cerca de 2km a noroeste do mar Morto encontra-se
uma região montanhosa e deserta, chamada Qumram (lunar), cheia de grutas
naturais nas encostas quase verticais. Em abril de 1947, um pastorzinho de 14
anos, ao entrar em uma das grutas, encontrou, por acaso, alguns objetos: jarros
de cerâmica e dentro das quais havia rolos de pergaminho. Eram textos bíblicos
ou comentários, de grande valor arqueológico. A descoberta motivou uma ampla
pesquisa arqueológica nas grutas e regiões vizinhas, descobrindo-se, até, as
ruínas de um antigo mosteiro de uma comunidade religiosa, próximas ao mar
Morto.
Essa comunidade foi identificada, pela maior parte
dos estudiosos, como sendo de essênios, já mencionado por historiadores do
século I E.C. Os essênios teriam habitado este local do século I a.E.C. até o início
do século II E.C.
Essa posição é questionada pelos estudos mais
recentes, pois, nem mesmo a comunidade se autodenomina como “essênios”, e sim:
“filhos de Sadoc”,” filhos da aliança”, “guardiães da aliança” e outros. Há uma
unanimidade, entre os estudiosos em considerar este movimento multifacetário,
de não conformismo com a situação vigente, de anti-Jerusalém e anti-farisaico
do 2º século a.E.C. até o final do 1º século da E.C. admitem também, que este
movimento era formado por grupos de diferentes tendências.
Essa é a mais importante descoberta, até hoje, de
toda a história da arqueologia bíblica palestinense. Em 11 cavernas da região,
foram encontrados mais de 600 rolos, completos ou em fragmentos, bíblicos e não
bíblicos. A arqueologia bíblica concluiu que os rolos foram colocados pelos
monges nas cavernas por volta do ano 70 E.C., durante confrontos com o império
romano, para preservá-los da destruição. Por meio do estudo das ruinas do
mosteiro foram colhidas muitas informações sobre o estilo de vida da
comunidade, suas regras, sua espiritualidade e sua visão de mundo.
Fora da terra de Israel também foram feitos estudos
sobre documentos de grande interesse para o estudo bíblico. No Egito foram
encontrados papiros bíblicos importantes.
Inspiração
divina: Deus e as pessoas escrevendo a Bíblia
A Bíblia é a Palavra de Deus. Como essa Palavra de
Deus se tornou a palavra escrita da Bíblia?
A tradição afirma que a Bíblia contém palavras
inspiradas por Deus. Tal afirmação foi entendida por muitos como se os textos
bíblicos tivessem sido escritos por um autor que simplesmente anotasse palavras
ditadas por Deus. Contudo sabemos que os textos bíblicos estão relacionados a
fatos históricos e que intervalos de tempo mais ou menos longos separam esses
fatos e suas respectivas redações. Além disso, os livros que hoje consideramos inspirados,
livros canônicos, são textos copiados das redações originais, que se perderam
ao se passar do tempo. Portanto, só podemos entender que a inspiração divina
atua em todas as pessoas fiéis que, em sua história de vida, tiveram a
experiência de presença de Deus junto a seu povo, compreenderam essa
experiência e a transmitiram oralmente, a qual, posteriormente, foi registrada
por escrito, revista, copiada, interpretada, ao longo do tempo.
O cânon
bíblico
A palavra cânon é de origem grega e significa
“medida, norma”. O cânon, em relação à Bíblia, é a norma que estabelece a lista
dos livros considerados inspirados por Deus. Judeus de língua hebraica e grega,
samaritanos e cristãos usam o mesmo livro sagrado, a Bíblia. Entretanto, cada
uma delas possui sua lista de livros inspirados.
a) O cânon
da Bíblia hebraica
A primeira Bíblia foi escrita na língua hebraica e
(uma pequena parte) na língua aramaica. Ela recebe três nomes diferentes:
Bíblia hebraica, cânon palestinense ou ainda texto massorético. Ela é usada
pelos judeus. Traz 39 livros. A lista dos 39 livros foi aprovada entre os anos
80 e 100 E.C., na cidade de Jâmnia, ao sul da terra de Israel e a cerca de 50km
de Jerusalém. Os judeus aceitam como livros sagrados os que forame escritos na
língua hebraica e aramaica, na terra de Israel e até o tempo de Esdras. Eles não
aceitam na lista sete livros que foram incluídos pelos judeus na diáspora (fora
da Palestina). Esses sete livros forame scripts fora de Israel, provavelmente
na língua grega e depois do período de Esdras (398 aE.C.); são chamados
deuterocanônicos (segunda lista). São eles: Tobias, Judite, 1 e 2 Macabeus,
Eclesiástico, Baruc, Sabedoria, e partes de Ester e Daniel.
A Bíblia hebraica não traz os livros do Segundo
Testamento. Ela é organizada em três grandes blocos. O primeiro bloco é chamado
Torá; significa ensinamento, caminho. A Torá é formada por cinco livros de
valor máximo, indiscutível para o judeu: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e
Deuteronômio.
O segundo bloco é formado pelos livros dos profetas
anteriores e posteriores. Esses escritos também tem um grande valor, mais não
igual ao do primeiro bloco. São usados para explicar a Torá. Os livros dos
profetas anteriores são: Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, e 1 e 2 Reis.
Os livros dos profetas posteriores são: Isaias,
Jeremias, Ezequiel, Oseias, Joel, Amós, Sofonias, Habacuc, Jonas, Miqueias,
Naum, Abdias, Ageu e Malaquias.
O terceiro bloco é formado pelos livros chamados de
escritos: Salmos, Provérbios, Jó, Cântico dos Cânticos, Rute, Lamentações,
Eclesiastes, Ester, Daniel, Esdras, Neemias, 1 e 2 Crônicas. Ganha destaque o
livro dos Salmos, ele é usado para a oração pessoal, familiar e nas sinagogas.
A estrutura e divisão da Bíblia hebraica pode ser
conhecida e verificada mediante a recente Tradução Ecumênica da Bíblia (TEB)
para a língua portuguesa.
b) O cânon
samaritano
São chamados de samaritanos os moradores da região
da Samaria, situada na parte central da terra de Israel. A lista dos livros da
Bíblia aprovada pelos samaritanos contém apenas os cinco primeiros livros:
Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Quando os samaritanos se
separaram da comunidade judaica, por volta do ano 300 a.E.C., preferiram ficar
só com os cinco livros da Bíblia, a Torá.
c) O cânon
alexandrino
Alexandria é uma cidade do Egito, no continente
africano. Lá moravam muitos judeus que aceitavam a língua e a cultura gregas.
Surgiu então a necessidade de traduzir a Bíblia do hebraico e aramaico para o
grego. Essa tradução leva o nome de Bíblia grega ou Setenta, do latim
Septuaginta. Ela contém 53 livros. Essa tradução traz os 39 livros da Bíblia
hebraica, mais os sete livros chamados deuterocanônicos.
d) O cânon
da vulgata
“Vulgata” é uma palavra que vem da língua latina e
significa popular. A vulgata traz ao todo 73 livros. O Primeiro Testamento traz
46 livros e o Segundo Testamento, 27. As outras denominações cristãs aceitam
apenas os 39 livros do Primeiro Testamento da Bíblia hebraica e os 27 do
Segundo Testamento, mas não aceitam os sete livros deuterocanônicos que se
encontram na Bíblia grega. Daí a diferença do número de livros na Bíblia usada
pelos cristãos católicos e não católicos.
Na
Bíblia usada pelos católicos, os livros do Primeiro Testamento são
classificados em quatro blocos:
Pentateuco:
Gênesis
Êxodo
Levítico
Números
Deuteronômio.
Históricos:
Josué
Juízes
Rute
Samuel
Reis
Crônicas
Esdras
Neemias
Tobias
Judite
Ester
Macabeus
Poéticos ou Sapienciais
Jó
Salmos
Provérbios
Eclesiastes
Cântico dos Cânticos
Sabedoria
Eclesiástico
Proféticos
Isaias
Jeremias
Lamentações
Baruc
Ezequiel
Daniel
Oseias
Joel
Amós
Abdias
Jonas
Miqueias
Naum
Habacuc
Sofonias
Ageu
Zacarias
Malaquias
c) Cânon do
Segundo Testamento
Tanto
os livros do Primeiro quanto os do Segundo Testamento não surgiram com os
livros “canônicos”, mas recebeu essa denominação muito depois. Muitos textos do
Segundo Testamento não foram escritos, desde o inicio, para serem usados em
toda Igreja, pois alguns tratam de assuntos específicos ligados a determinadas
comunidades. Mas desde cedo foram considerados “escritos sagrados e
inspirados”. O cânon porém, levou muitos anos para ser aprovado como nós o
conhecemos hoje. Entre os motivos, encontram-se o grande número de evangelhos
que haviam surgido e as discussões em torno da ordem ou sequencia dos livros da
Bíblia. Por volta do século IV, ele foi reconhecido por todos os cristãos.
O número dos livros considerados inspirados e sua
ordem foram aprovados oficial e definitivamente, par ao uso dos cristãos
católicos, durante o Concilio de Trento, em 1546. Porém, essa lista dos livros
do Primeiro e do Segundo Testamentos já fazia parte da tradição católica há
mais de mil anos.
Os escritos do cânon do Segundo Testamento são
classificados em Evangelhos, Atos, Cartas, Hebreus e Apocalipse.
Evangelhos
Mateus
Marcos
Lucas
João
Cartas:
Cartas de
Paulo:
Romanos
Coríntios
Gálatas
Filipenses
Filemon
1
Tessalonicenses
Cartas
atribuídas a Paulo:
2
Tessalonicenses
Efésios
Colossenses
Cartas
pastorais:
Tito
Timóteo
Cartas
Católicas:
Tiago
Pedro
João
Judas
Hebreus
Apocalipse
O número de livros em cada cânon bíblico é fixo e
não muda mais.
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