Bíblia, comunicação de Deus em
linguagem humana
Muitos homens e mulheres, de lugares, línguas e
culturas diversas, contribuíram para que a humanidade tivesse acesso à Bíblia.
As narrativas referentes às experiências de Deus vividas pelo povo de Israel em
sua história foram, inicialmente, guardadas na memória e transmitidas de viva
voz, até serem registradas por escrito, em papiros, pergaminhos e outros
materiais conhecidos e disponíveis em cada época.
A Bíblia é a voz de Deus na
comunicação do povo
A Bíblia é o registro escrito, sob a luz da fé, de
experiências vividas por mulheres e homens em épocas, lugares e situações
diferentes. Eram pais e mães de família, gente instruída e gente simples.
Muitos não sabiam ler nem escrever, porém contavam e recontavam histórias que
tinham ouvido, as quais lembravam sobretudo a presença e ação de Deus, que
caminhava com eles. Em todas essas experiências, que progressivamente passaram
a ser registradas por escritos, o povo reconheceu a voz de Deus. Muitos homens
e mulheres, sacerdotes e profetas, reis e pastores, apóstolos e evangelistas,
com suas comunidades, contribuíram para escrever a Bíblia.
Mesmo que muitos livros contidos nela tenham nomes
de homens e mulheres, é difícil saber com certeza quem os escreveu. Isto quer
dizer que nem sempre um livro da Bíblia que traz o nome de uma pessoa tenha
sido escrito por ela. Naquele tempo era costume colocar o nome de alguém
importante, para que assim o livro fosse aprovado e lido. Não havia, como hoje,
a preocupação com os direitos autorais. Muitos livros são também fruto de
vários autores de épocas e lugares diferentes. Como os autores humanos são
muitos, também a sua escrita se deu em muitos lugares diferentes.
Lugares onde foi escrita a Bíblia
De fato, os livros da Bíblia foram escritos não só
em lugares diferentes, mas às vezes o mesmo livro começou a ser escrito em um
lugar e foi completado, copiado ou revisado, muitas vezes recebendo acréscimo,
em outros. Grande parte dos livros do Primeiro Testamento foram escritos na
terra de Israel, onde se formou e viveu o povo de Israel, lugar onde Jesus
nasceu, viveu, ensinou, morreu e, segundo a fé cristã, ressuscitou.
Alguns livros da Bíblia foram escritos fora de
Israel: na babilônia, no Egito, na Ásia Menor, na Grécia e na Itália, lugares
por onde se espalharam os judeus e as comunidades cristãs primitivas. Pela
diversidade de autores e lugares, podemos imaginar a variedade de riquezas,
costumes, culturas, situações socioeconômicas, políticas e religiosas que se
refletem em cada livro. Esses autores certamente sofreram influência de outros
povos na maneira de ver, viver e transmitir a mensagem de Deus à humanidade,
com um novo olhar e uma nova forma. Se os autores eram de lugares diferentes,
muitos falavam e escreviam em línguas diferentes.
Línguas Bíblicas
A terra de Israel, onde se formou grande parte dos
livros, faz parte do Oriente Próximo, na Ásia. Essa região foi dominada por
diversos povos, culturas e civilizações, desde as épocas mais remotas. Por
isso, na região da terra de Israel, muitas línguas foram faladas e usadas na
escrita, no decorrer desses anos todos. Entre elas destaca-se o grupo das
línguas semíticas. Desse grupo fazem parte o acádico, o assírio, o cananeu, o
fenício, o hebraico, o aramaico, o árabe e outras. Essas línguas possuem
semelhanças na fala, na escrita e no modo de construir o pensamento e as
frases. São como a língua portuguesa, que tem semelhanças com o espanhol, o
italiano, o francês e outras.
Existe
um outro grupo linguístico, o indo-europeu, que abrange outras áreas da Ásia e
da Europa, do qual faz parte o grego. Vamos ver mais de perto o hebraico, o
aramaico e o grego, que costumamos chamar de línguas bíblicas, porque nessas
línguas foi escrita a Bíblia.
a) Hebraico
A língua hebraica faz parte das línguas semíticas.
Ela nasceu no Oriente Próximo e Médio. O primeiro documento conhecido na língua
hebraica é o calendário agrícola de Gazer, por volta do século X a.E.C. Gazer é
uma cidade próxima de Jerusalém situada no território de Efraim. Esse
documento, escrito em hebraico, foi encontrado nas escavações dessa cidade em
1928 E.C. O calendário surgiu aproximadamente em 925 a.E.C., enquanto a língua
hebraica estava em fase de formação. Ela sofreu mudanças que se refletiram no
texto da bíblia hebraica. As mudanças não aconteceram de uma vez, mas em três
fases sucessivas.
A primeira fase vai aproximadamente do ano 1000 até
o ano 100 a.E.C. As palavras eram escritas só com as consoantes. E estas não
eram escritas do mesmo jeito em todos os lugares. Depois do exílio da
Babilônia, por volta do ano 538 a.E.C., a escrita das consoantes começou a
tomar a forma quadrada, como é até hoje no hebraico bíblico.
A segunda fase vai do ano 100 a.E.C. ao ano 500 E.C.
Nesse período é fixada uma forma única de escrever as consoantes.
A terceira e última fase vai do ano 500 ao ano 900
E.C. Nesse período, a língua chega a adquirir sua estabilidade com o acréscimo
e fixação das vogais. O trabalho de unificar as consoantes e acrescentar vogais
foi definitivamente sistematizado no século IX E.C. por um grupo de judeus de
Tiberíades, estudiosos da Bíblia. Eles são chamados massoretas. Esse nome
significa tradicionalistas, porque
eles colocavam por escrito todas as tradições orais que diziam respeito ao
texto bíblico e, em particular, ao modo de lê-lo e escre-vê-lo.
B) Aramaico
O aramaico é língua-irmã do hebraico, muito parecida
com este na escrita e na pronúncia. Começou a ser falado pelo povo da Bíblia no
tempo do exílio da Babilônia, por volta do ano 587 a.E.C., quando muitos
judeus, fora da própria terra, começaram a falar a língua dos babilônios. Mesmo
assim, o hebraico continuou – e continua ainda hoje – a ser usado na leitura
dos textos bíblicos, na literatura das sinagogas e como língua falada em
Israel. A sinagoga, na tradição judaica, é o lugar privilegiado de oração e
estudado dos escritos sagrados, assim como é a igreja para os cristãos e a
mesquita para os muçulmanos. Poucos são os escritos na língua aramaica: apenas
alguns capítulos do livro de Esdras (Esd 4,8-6,18; 7,12-26), alguns capítulos
do livro de Daniel (Dn 2,4b-7,28) e um versículo do livro de Jeremias (Jr
10,11). Quanto ao segundo testamento, alguns padres da igreja afirmam que o
evangelho de Mateus foi escrito originalmente em aramaico e traduzido para o
grego chegando até nós só na versão grega. Hoje é discutida a hipótese de um
original do evangelho de Mateus em aramaico.
C) Grego
O grego é a terceira língua em que foram escrito
alguns livros do primeiro testamento chegaram até nós, na língua grega, os
livros: Tobias, Judite, 1 e 2 Macabeus, Baruc, Sabedoria, Eclesiástico, Partes
do livro de Daniel (Dn 3,24-25.52-90;13-14) e de Ester (Est 10,4-16,24). Esses
capítulos do livro de Ester encontram-se nessa ordem na vulgata, seguida pela
tradução do padre Matos Soares. As Bíblias católicas modernas seguem a ordem da
versão dos Setenta e a numeração do texto hebraico. A Tradução Ecumênica da
Bíblia (TEB) traz o texto hebraico separado do texto grego. A Bíblia de
Jerusalém fundiu os dois num único, trazendo o texto grego em itálico, para
distingui-lo do hebraico.
A língua e a cultura gregas já conhecidas no Oriente
Próximo e Médio, mesmo antes da sua dominação sobre a terra de Israel. A partir
de Alexandre Magno, em 333 a.E.C., a língua e a cultura helênicas se impuseram
em todo o seu domínio.
O grego era falado principalmente nas cidades. Daí,
surgiu a necessidade de traduzir a Bíblia do hebraico para o grego, para ser
utilizada no culto religioso. O grego bíblico não era o grego clássico dos
filósofos, mas o popular, chamado koiné. Havia uma mistura de línguas por causa
das sucessivas dominações ocorridas na região. Por isso, o povo falava o
aramaico em casa, usava o hebraico na liturgia e o grego no comércio e na
política.
Havia outras línguas conhecidas na época, mas o
hebraico, o aramaico e o grego são consideradas línguas bíblicas. Com elas
foram escritos os textos originais e as cópias do Primeiro e do Segundo
testamentos.
Materiais utilizados para escrever
a Bíblia
A Bíblia, muito antes de ser escrita, foi vivida. Os
fatos e as experiências do povo foram guardados na memória e recontados pelos
pais filhos aos filhos, de geração em geração. Isso ocorreu no chamado período das tradições orais. Durou
aproximadamente mil anos.
Quando a Bíblia foi escrita, ainda não existia o
papel como nós o conhecemos hoje, pois ele é uma descoberta do século XV da
nossa era. A Bíblia foi escrita sobre os materiais que eram usados naquela
época: o papiro e o pergaminho.
a) O papiro
papiro já era
conhecido no Egito 3 mil anos a.E.C. Seu uso não se restringia à escrita, pois
era utilizado também para fabricar cestos e até barcos (Ex 2,3; Is 18,2). O que
é o papiro? É uma planta que cresce na água, em regiões quentes. Ele era
cortado em tiras, as quais depois eram coladas, prensadas e alisadas para haver
melhor firmeza na escrita.
O papiro era usado na forma de rolos e depois de
livro. A escrita sobre ele era feita com pincel ou pena, utilizando-se de tinta
preta ou em cores variadas. A disposição das páginas era feita em sucessivas
colunas verticais. Sobre o papiro foram escritos alguns pequenos textos da
Bíblia Hebraica.
b) O pergaminho
O pergaminho foi inventado na cidade de Pérgamo, na
Ásia Menor, da qual derivou seu nome. Era feito com couro de animais, sobre
tudo de ovelhas ou cordeiros. Depois de seco era preparado para a escrita, na
forma de rolo. Grande parte dos livros da Bíblia foi escritos nesse material.
Na segunda carta a Timóteo (2 Tm 4,13), Paulo refere-se aos pergaminhos.
c) Outros Materiais
No tempo em que a Bíblia foi escrita, existiam
outros materiais usados para a escrita, como as tabuinhas de argila, chapas de
pedras, paredões de rochedos, paredes de pedras, jarros de cerâmica. Os povos
antigos registravam nesses materiais os fatos importantes de sua história. O
povo israelita também fez uso de pedras para gravar nelas a memória de alguns
fatos importantes (cf. Js 8,32).
Matéria necessária ào crescimento espiritual!
ResponderExcluirEm orações.