quarta-feira, 26 de novembro de 2014

MOMENTO FORMATIVO COM A PALAVRA DE DEUS II



Bíblia, comunicação de Deus em linguagem humana
Muitos homens e mulheres, de lugares, línguas e culturas diversas, contribuíram para que a humanidade tivesse acesso à Bíblia. As narrativas referentes às experiências de Deus vividas pelo povo de Israel em sua história foram, inicialmente, guardadas na memória e transmitidas de viva voz, até serem registradas por escrito, em papiros, pergaminhos e outros materiais conhecidos e disponíveis em cada época.


A Bíblia é a voz de Deus na comunicação do povo
A Bíblia é o registro escrito, sob a luz da fé, de experiências vividas por mulheres e homens em épocas, lugares e situações diferentes. Eram pais e mães de família, gente instruída e gente simples. Muitos não sabiam ler nem escrever, porém contavam e recontavam histórias que tinham ouvido, as quais lembravam sobretudo a presença e ação de Deus, que caminhava com eles. Em todas essas experiências, que progressivamente passaram a ser registradas por escritos, o povo reconheceu a voz de Deus. Muitos homens e mulheres, sacerdotes e profetas, reis e pastores, apóstolos e evangelistas, com suas comunidades, contribuíram para escrever a Bíblia.
Mesmo que muitos livros contidos nela tenham nomes de homens e mulheres, é difícil saber com certeza quem os escreveu. Isto quer dizer que nem sempre um livro da Bíblia que traz o nome de uma pessoa tenha sido escrito por ela. Naquele tempo era costume colocar o nome de alguém importante, para que assim o livro fosse aprovado e lido. Não havia, como hoje, a preocupação com os direitos autorais. Muitos livros são também fruto de vários autores de épocas e lugares diferentes. Como os autores humanos são muitos, também a sua escrita se deu em muitos lugares diferentes.
Lugares onde foi escrita a Bíblia
De fato, os livros da Bíblia foram escritos não só em lugares diferentes, mas às vezes o mesmo livro começou a ser escrito em um lugar e foi completado, copiado ou revisado, muitas vezes recebendo acréscimo, em outros. Grande parte dos livros do Primeiro Testamento foram escritos na terra de Israel, onde se formou e viveu o povo de Israel, lugar onde Jesus nasceu, viveu, ensinou, morreu e, segundo a fé cristã, ressuscitou.
Alguns livros da Bíblia foram escritos fora de Israel: na babilônia, no Egito, na Ásia Menor, na Grécia e na Itália, lugares por onde se espalharam os judeus e as comunidades cristãs primitivas. Pela diversidade de autores e lugares, podemos imaginar a variedade de riquezas, costumes, culturas, situações socioeconômicas, políticas e religiosas que se refletem em cada livro. Esses autores certamente sofreram influência de outros povos na maneira de ver, viver e transmitir a mensagem de Deus à humanidade, com um novo olhar e uma nova forma. Se os autores eram de lugares diferentes, muitos falavam e escreviam em línguas diferentes.

Línguas Bíblicas
A terra de Israel, onde se formou grande parte dos livros, faz parte do Oriente Próximo, na Ásia. Essa região foi dominada por diversos povos, culturas e civilizações, desde as épocas mais remotas. Por isso, na região da terra de Israel, muitas línguas foram faladas e usadas na escrita, no decorrer desses anos todos. Entre elas destaca-se o grupo das línguas semíticas. Desse grupo fazem parte o acádico, o assírio, o cananeu, o fenício, o hebraico, o aramaico, o árabe e outras. Essas línguas possuem semelhanças na fala, na escrita e no modo de construir o pensamento e as frases. São como a língua portuguesa, que tem semelhanças com o espanhol, o italiano, o francês e outras.
Existe um outro grupo linguístico, o indo-europeu, que abrange outras áreas da Ásia e da Europa, do qual faz parte o grego. Vamos ver mais de perto o hebraico, o aramaico e o grego, que costumamos chamar de línguas bíblicas, porque nessas línguas foi escrita a Bíblia.
a) Hebraico
A língua hebraica faz parte das línguas semíticas. Ela nasceu no Oriente Próximo e Médio. O primeiro documento conhecido na língua hebraica é o calendário agrícola de Gazer, por volta do século X a.E.C. Gazer é uma cidade próxima de Jerusalém situada no território de Efraim. Esse documento, escrito em hebraico, foi encontrado nas escavações dessa cidade em 1928 E.C. O calendário surgiu aproximadamente em 925 a.E.C., enquanto a língua hebraica estava em fase de formação. Ela sofreu mudanças que se refletiram no texto da bíblia hebraica. As mudanças não aconteceram de uma vez, mas em três fases sucessivas.
A primeira fase vai aproximadamente do ano 1000 até o ano 100 a.E.C. As palavras eram escritas só com as consoantes. E estas não eram escritas do mesmo jeito em todos os lugares. Depois do exílio da Babilônia, por volta do ano 538 a.E.C., a escrita das consoantes começou a tomar a forma quadrada, como é até hoje no hebraico bíblico.
A segunda fase vai do ano 100 a.E.C. ao ano 500 E.C. Nesse período é fixada uma forma única de escrever as consoantes.
A terceira e última fase vai do ano 500 ao ano 900 E.C. Nesse período, a língua chega a adquirir sua estabilidade com o acréscimo e fixação das vogais. O trabalho de unificar as consoantes e acrescentar vogais foi definitivamente sistematizado no século IX E.C. por um grupo de judeus de Tiberíades, estudiosos da Bíblia. Eles são chamados massoretas. Esse nome significa tradicionalistas, porque eles colocavam por escrito todas as tradições orais que diziam respeito ao texto bíblico e, em particular, ao modo de lê-lo e escre-vê-lo.
B) Aramaico
O aramaico é língua-irmã do hebraico, muito parecida com este na escrita e na pronúncia. Começou a ser falado pelo povo da Bíblia no tempo do exílio da Babilônia, por volta do ano 587 a.E.C., quando muitos judeus, fora da própria terra, começaram a falar a língua dos babilônios. Mesmo assim, o hebraico continuou – e continua ainda hoje – a ser usado na leitura dos textos bíblicos, na literatura das sinagogas e como língua falada em Israel. A sinagoga, na tradição judaica, é o lugar privilegiado de oração e estudado dos escritos sagrados, assim como é a igreja para os cristãos e a mesquita para os muçulmanos. Poucos são os escritos na língua aramaica: apenas alguns capítulos do livro de Esdras (Esd 4,8-6,18; 7,12-26), alguns capítulos do livro de Daniel (Dn 2,4b-7,28) e um versículo do livro de Jeremias (Jr 10,11). Quanto ao segundo testamento, alguns padres da igreja afirmam que o evangelho de Mateus foi escrito originalmente em aramaico e traduzido para o grego chegando até nós só na versão grega. Hoje é discutida a hipótese de um original do evangelho de Mateus em aramaico.
C) Grego
O grego é a terceira língua em que foram escrito alguns livros do primeiro testamento chegaram até nós, na língua grega, os livros: Tobias, Judite, 1 e 2 Macabeus, Baruc, Sabedoria, Eclesiástico, Partes do livro de Daniel (Dn 3,24-25.52-90;13-14) e de Ester (Est 10,4-16,24). Esses capítulos do livro de Ester encontram-se nessa ordem na vulgata, seguida pela tradução do padre Matos Soares. As Bíblias católicas modernas seguem a ordem da versão dos Setenta e a numeração do texto hebraico. A Tradução Ecumênica da Bíblia (TEB) traz o texto hebraico separado do texto grego. A Bíblia de Jerusalém fundiu os dois num único, trazendo o texto grego em itálico, para distingui-lo do hebraico.
A língua e a cultura gregas já conhecidas no Oriente Próximo e Médio, mesmo antes da sua dominação sobre a terra de Israel. A partir de Alexandre Magno, em 333 a.E.C., a língua e a cultura helênicas se impuseram em todo o seu domínio.
O grego era falado principalmente nas cidades. Daí, surgiu a necessidade de traduzir a Bíblia do hebraico para o grego, para ser utilizada no culto religioso. O grego bíblico não era o grego clássico dos filósofos, mas o popular, chamado koiné. Havia uma mistura de línguas por causa das sucessivas dominações ocorridas na região. Por isso, o povo falava o aramaico em casa, usava o hebraico na liturgia e o grego no comércio e na política.
Havia outras línguas conhecidas na época, mas o hebraico, o aramaico e o grego são consideradas línguas bíblicas. Com elas foram escritos os textos originais e as cópias do Primeiro e do Segundo testamentos.
Materiais utilizados para escrever a Bíblia
A Bíblia, muito antes de ser escrita, foi vivida. Os fatos e as experiências do povo foram guardados na memória e recontados pelos pais filhos aos filhos, de geração em geração. Isso ocorreu no chamado período das tradições orais. Durou aproximadamente mil anos.
Quando a Bíblia foi escrita, ainda não existia o papel como nós o conhecemos hoje, pois ele é uma descoberta do século XV da nossa era. A Bíblia foi escrita sobre os materiais que eram usados naquela época: o papiro e o pergaminho.
a) O papiro
 papiro já era conhecido no Egito 3 mil anos a.E.C. Seu uso não se restringia à escrita, pois era utilizado também para fabricar cestos e até barcos (Ex 2,3; Is 18,2). O que é o papiro? É uma planta que cresce na água, em regiões quentes. Ele era cortado em tiras, as quais depois eram coladas, prensadas e alisadas para haver melhor firmeza na escrita.
O papiro era usado na forma de rolos e depois de livro. A escrita sobre ele era feita com pincel ou pena, utilizando-se de tinta preta ou em cores variadas. A disposição das páginas era feita em sucessivas colunas verticais. Sobre o papiro foram escritos alguns pequenos textos da Bíblia Hebraica.
b) O pergaminho
O pergaminho foi inventado na cidade de Pérgamo, na Ásia Menor, da qual derivou seu nome. Era feito com couro de animais, sobre tudo de ovelhas ou cordeiros. Depois de seco era preparado para a escrita, na forma de rolo. Grande parte dos livros da Bíblia foi escritos nesse material. Na segunda carta a Timóteo (2 Tm 4,13), Paulo refere-se aos pergaminhos.
c) Outros Materiais

No tempo em que a Bíblia foi escrita, existiam outros materiais usados para a escrita, como as tabuinhas de argila, chapas de pedras, paredões de rochedos, paredes de pedras, jarros de cerâmica. Os povos antigos registravam nesses materiais os fatos importantes de sua história. O povo israelita também fez uso de pedras para gravar nelas a memória de alguns fatos importantes (cf. Js 8,32).

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