quarta-feira, 24 de setembro de 2014

A ORAÇÃO DO NOME DE JESUS [TEXTO 05]



A Oração do Nome de Jesus
A oração do nome de Jesus pode ser considerada como primeiro mantra cristão. Suas raízes vêm lá dos desertos do Egito onde os monges antigos a praticaram e ensinaram.
“A prece de Jesus era o esteio da vida de muitos padres do deserto. Para eles, era a arte das artes e a ciência das ciências. Eles acreditavam que a meditação sobre essa prece acabava levando o meditador á forma mais alta da perfeição humana. Para isso, os pré-requisitos eram humildade genuína, sinceridade, persistência e pureza. São Nilo, um mestre de oração, nos deixou instruções especificas para que possamos atingir a quietude necessária à eficácia da prece. Ao acordar, o monge deve ficar sentado por uma hora ou mais num banquinho baixo na solidão de sua cela e recolher a mente de suas perambulações externas costumeiras e levá-la ao coração através da respiração, que deve se manter ligada à seguinte prece: Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tende piedade de mim. Dizia-se, quando praticada corretamente, a prece de Jesus se tornava espontânea e instintiva como a respiração, acompanhando e purificando todas as atividades no decorrer do dia. Acredita-se que aprendendo a rezar sempre, como foi dito por S. Paulo, mesmo no meio da atividade, os padres do deserto atingiam a estatura de Cristo e gozavam de perfeita pureza de coração. Eles conheciam este estado como “quies” (repouso), a versão cristã do Nirvana, descrita pelo estudioso cristão Thomas Merton como capacidade de estar aqui e agora sem preocupações. Esse estado permitia que o eu superficial fosse purgado e favorecia a emergência gradual do eu verdadeiro e secreto, no qual o fiel e Cristo eram um só espírito. Ou, como diz São Nilo, o praticante seria capaz de abandonar... os muitos e variados e se unir ao Um, o único e unificante numa união que transcende a razão”.
A tradição cristã oriental a preservou de modo bem mais carinhoso que o ocidente. Os Relatos de um Peregrino Russo falam desta prática de forma belíssima.
“Resumidamente trata-se de pronuncia uma fórmula concisa e clara em que entre o nome de Jesus. Ela é pronunciada com ritmo, para o que ajuda bastante unir a repetição ao ritmo respiratório ou às batidas do coração. É importante impor-se a disciplina de não deixar passar um só dia sem praticar, ao menos dentro de um período que oscile entre os 20 e os 30 minutos, a repetição do Nome, de um modo mais consciente e sentido em maior profundidade. Recomenda-se não variar a fórmula, que pode ser a tradicional “Senhor Jesus, Filho de Deus, tende piedade de mim, pecador” ou então unicamente o nome de Jesus. É preciso procurar que, pouco a pouco, a pronúncia do santo nome de Jesus se entenda aos diversos momentos da atividade diária. Prestar-se-ão a isso, em primeiro lugar, os períodos de tempo mais mecânicos, que requerem menos atividade mental: caminhar de um lugar para outro, trabalhar manualmente, esperar o ônibus etc.; cada vez mais, o Nome irá invadindo misteriosamente os tempos restantes da atividade diária até – como já mostramos – penetrar no próprio repouso noturno. [...] Começará a nascer espontaneamente uma etapa menos ativa, no sentido ocidental da palavra, em que a graça age muito mais diretamente. Podemos dizer que o nome de Jesus agora já não é pronunciado ativamente, porém, muito mais escutado como uma íntima vibração espiritual, que surge do coração da pessoa, de modo cada vez mais contínuo e inefável. Já é a atitude de oração contínua que estamos buscando. É também um modo silencioso de integrar oração e vida. Porque a oração de Jesus, em sua meta final é muito mais que um simples método repetitivo: é o tesouro escondido que os Padres do Deserto procuravam ardentemente, empregando por vezes para isso a vida toda; um tesouro que se torna silencioso orante, ou solidão sonora, ou música silenciosa; é o que os padres chamavam de hesychía”.
Este é o centro do método hesicasta, muito valorizado na tradição bizantina. O Peregrino Russo vai praticá-lo de modo admirável. Consiste essencialmente na descida ao coração por meio do nome de Jesus. “Levar a mente ao coração” ou “voltar a atenção da mente para o coração”, assim se fala deste método na tradição hesicasta.

[CUNHA, Domingos. Meditação Cristã, uma oração integradora. Paulus, 2006].

Um comentário:

  1. Muita paz interior....
    Obrigado nosso bom Deus!!!
    “Levar a mente ao coração” ou “voltar a atenção da mente para o coração”

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