A Oração do Nome de Jesus
A oração do nome de Jesus
pode ser considerada como primeiro mantra cristão. Suas raízes vêm lá dos
desertos do Egito onde os monges antigos a praticaram e ensinaram.
“A prece de Jesus era o
esteio da vida de muitos padres do deserto. Para
eles, era a arte das artes e a ciência das ciências. Eles acreditavam que a
meditação sobre essa prece acabava levando o meditador á forma mais alta da
perfeição humana. Para isso, os pré-requisitos eram humildade genuína, sinceridade, persistência e pureza. São Nilo, um
mestre de oração, nos deixou instruções especificas para que possamos atingir a
quietude necessária à eficácia da prece. Ao acordar, o monge deve ficar sentado
por uma hora ou mais num banquinho baixo na solidão de sua cela e recolher a mente de suas perambulações
externas costumeiras e levá-la ao coração através da respiração, que deve se
manter ligada à seguinte prece: Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tende
piedade de mim. Dizia-se, quando praticada corretamente, a prece de Jesus
se tornava espontânea e instintiva como a
respiração, acompanhando e purificando todas as atividades no decorrer do
dia. Acredita-se que aprendendo a rezar
sempre, como foi dito por S. Paulo, mesmo no meio da atividade, os padres
do deserto atingiam a estatura de Cristo
e gozavam de perfeita pureza de coração. Eles conheciam este estado como “quies”
(repouso), a versão cristã do Nirvana, descrita pelo estudioso cristão Thomas
Merton como capacidade de estar aqui e agora sem preocupações. Esse estado
permitia que o eu superficial fosse purgado e favorecia a emergência gradual do eu verdadeiro e secreto, no qual o fiel e Cristo
eram um só espírito. Ou, como diz São Nilo, o praticante seria capaz de abandonar... os muitos e variados e se unir
ao Um, o único e unificante numa união que transcende a razão”.
A tradição cristã oriental
a preservou de modo bem mais carinhoso que o ocidente. Os Relatos de um Peregrino Russo falam desta prática de forma belíssima.
“Resumidamente trata-se de
pronuncia uma fórmula concisa e clara em que entre o nome de Jesus. Ela é
pronunciada com ritmo, para o que ajuda bastante unir a repetição ao ritmo
respiratório ou às batidas do coração. É importante impor-se a disciplina de
não deixar passar um só dia sem praticar, ao menos dentro de um período que
oscile entre os 20 e os 30 minutos, a repetição do Nome, de um modo mais
consciente e sentido em maior profundidade. Recomenda-se não variar a fórmula,
que pode ser a tradicional “Senhor Jesus, Filho de Deus, tende piedade de mim,
pecador” ou então unicamente o nome de Jesus. É preciso procurar que, pouco a
pouco, a pronúncia do santo nome de Jesus se entenda aos diversos momentos da
atividade diária. Prestar-se-ão a isso, em primeiro lugar, os períodos de tempo
mais mecânicos, que requerem menos atividade mental: caminhar de um lugar para
outro, trabalhar manualmente, esperar o ônibus etc.; cada vez mais, o Nome irá
invadindo misteriosamente os tempos restantes da atividade diária até – como já
mostramos – penetrar no próprio repouso noturno. [...] Começará a nascer
espontaneamente uma etapa menos ativa, no sentido ocidental da palavra, em que
a graça age muito mais diretamente. Podemos dizer que o nome de Jesus agora já
não é pronunciado ativamente, porém, muito mais escutado como uma íntima
vibração espiritual, que surge do coração da pessoa, de modo cada vez mais
contínuo e inefável. Já é a atitude de oração contínua que estamos buscando. É
também um modo silencioso de integrar oração e vida. Porque a oração de Jesus,
em sua meta final é muito mais que um simples método repetitivo: é o tesouro
escondido que os Padres do Deserto procuravam ardentemente, empregando por
vezes para isso a vida toda; um tesouro que se torna silencioso orante, ou
solidão sonora, ou música silenciosa; é o que os padres chamavam de hesychía”.
Este é o centro do método hesicasta, muito valorizado na tradição
bizantina. O Peregrino Russo vai praticá-lo de modo admirável. Consiste
essencialmente na descida ao coração por meio do nome de Jesus. “Levar a mente
ao coração” ou “voltar a atenção da mente para o coração”, assim se fala deste
método na tradição hesicasta.
[CUNHA, Domingos. Meditação Cristã, uma oração integradora. Paulus, 2006].
Muita paz interior....
ResponderExcluirObrigado nosso bom Deus!!!
“Levar a mente ao coração” ou “voltar a atenção da mente para o coração”