O que é Oração
Aquele jovem, ansioso por aprender a rezar, bateu na porta do
Mosteiro e pediu que o abade, famoso mestre de oração, o admitisse no seu
convívio, para que pudesse aprender formas de oração. Durante vários dias,
aquele jovem acompanhava fielmente o mestre e, atento a todas as orações que
ele fazia as anotava cuidadosamente em seu caderninho. Um dia, depois de já se
haver maravilhado bastante com a quantidade de orações que ouvira o mestre
exercitar, aquele jovem assim falou para o abade: “Quer dizer que se eu repetir
essas orações do jeito que o senhor faz... Deus ficará mais perto de mim?!”.
O abade olhou o jovem e perguntou: ”Se você passar a noite
rezando para que o sol nasça de manhã, é por causa da sua oração que o sol vai
nascer?”
“Não”, respondeu o jovem sem entender direito. “O sol nasce
pela manhã, quer eu reze ou deixe de rezar”...
E, quando se deu conta da confusão que ia na sua cabeça,
perguntou desiludido: ”Então o senhor está dizendo que não adianta de nada
rezar?!”
E o abade, pacientemente, explicou: ”Não estou dizendo isso.
Apenas quero dizer que o sol nasce pela manhã, quer você reze, quer você deixe
de rezar para que isso aconteça. Mas, se você não acordar cedo para ver o sol
nascer, ele nasce e você nem percebe!”
Por que rezamos ou para que rezamos? Para que Deus fique mais perto
de nós? Não precisa disso Deus sempre esta perto de nós, ao nosso lado, no meio
de nós, dentro de nós, no mais íntimo de nós mesmos! Mas, “se não acordarmos
cedo para ver o sol nascer, ele nasce e nós nem percebemos”. Se não pararmos
para contemplar, perceber, saborear a presença de Deus em nós... Ele continua
aí, mas nós não O percebemos!
Nossa mente, viciada pela cultura da eficiência, também espera
que a oração nos dê resultados imediatos, como qualquer outra ação onde
recebemos o fruto de nossos esforços. Mas não é assim que funciona esse mundo
da oração é “acordar cedo”, ficar desperto, estar atento, para acolher essa
presença! Ainda nos ressentimos dessa ideia de fazer da oração uma lista de
pedidos de Papai Noel... E esquecemos que orar é sobretudo estar na presença de
Deus. Não é algo que nós fazemos... mas é sobretudo algo que deixamos Deus
fazer em nós.
Uma definição clássica diz que “oração é elevação da mente e
do coração até Deus”. Poderíamos perguntar: “e o corpo, onde fica ou o que vai
fazer, enquanto a mente e o coração vão até Deus?”. Além disso, sabemos que, na
realidade da nossa tradição ocidental, muitas vezes só a mente era elevada até
Deus... ou talvez sendo mais precisos, levada a pensar em Deus. O coração
ficava de fora. Assim, apenas uma parte de nós era elevada até Deus e nossa
oração permanecia como algo fragmentado, incapaz de ajudar a pessoa toda e
saborear a presença de Deus.
“Ficai tranquilos e
sabei que eu sou Deus”, diz o salmista (Sl 46,11). Talvez aí tenhamos uma
boa definição de oração. Acalmar-se, centrar-se, harmonizar-se, serenar... essa
é a nossa parte da oração. O resto... é ação de Deus e nós apenas cabe
experimentar, saborear, curtir. “Sabei que eu sou Deus”... experimentai como Eu
sou, saboreai minha presença, meu jeito de ser...
A meditação responde a esta perspectiva da oração. Unifica o
corpo, o coração e a mente... ajudando a pessoa toda a centrar-se em Deus,
mergulhando no mais profundo de si mesma, aí onde Deus habita e se deixa
encontrar. Não nos detemos pensando em Deus, nem falando com Ele, nem
pedindo... simplesmente permanecemos com Deus! Estar com Deus... é como ir a
praia e deixar-se bronzear pelo sol... ou como saborear a presença silenciosa
da pessoa amada...
Mariano Ballester diz que “a oração mais profunda, mais
pessoal, mais interior, mais mística, não é aquela que usa os artifícios de uma
cultura sofisticada; ela não precisa de conceitos complicados nem de linguajar
enfeitado. Ela não usa métodos refinados acessíveis somente depois de longo
treinamento. Muito pelo contrário, ela é simples, e de uma simplicidade somente
acessível aos simples”.
[CUNHA,
Domingos. Meditação Cristã, uma oração integradora. Paulus, 2006].
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