segunda-feira, 22 de setembro de 2014

O QUE É ORAÇÃO [TEXTO 04]




O que é Oração
Aquele jovem, ansioso por aprender a rezar, bateu na porta do Mosteiro e pediu que o abade, famoso mestre de oração, o admitisse no seu convívio, para que pudesse aprender formas de oração. Durante vários dias, aquele jovem acompanhava fielmente o mestre e, atento a todas as orações que ele fazia as anotava cuidadosamente em seu caderninho. Um dia, depois de já se haver maravilhado bastante com a quantidade de orações que ouvira o mestre exercitar, aquele jovem assim falou para o abade: “Quer dizer que se eu repetir essas orações do jeito que o senhor faz... Deus ficará mais perto de mim?!”.
O abade olhou o jovem e perguntou: ”Se você passar a noite rezando para que o sol nasça de manhã, é por causa da sua oração que o sol vai nascer?”
“Não”, respondeu o jovem sem entender direito. “O sol nasce pela manhã, quer eu reze ou deixe de rezar”...
E, quando se deu conta da confusão que ia na sua cabeça, perguntou desiludido: ”Então o senhor está dizendo que não adianta de nada rezar?!”
E o abade, pacientemente, explicou: ”Não estou dizendo isso. Apenas quero dizer que o sol nasce pela manhã, quer você reze, quer você deixe de rezar para que isso aconteça. Mas, se você não acordar cedo para ver o sol nascer, ele nasce e você nem percebe!”
Por que rezamos ou para que rezamos? Para que Deus fique mais perto de nós? Não precisa disso Deus sempre esta perto de nós, ao nosso lado, no meio de nós, dentro de nós, no mais íntimo de nós mesmos! Mas, “se não acordarmos cedo para ver o sol nascer, ele nasce e nós nem percebemos”. Se não pararmos para contemplar, perceber, saborear a presença de Deus em nós... Ele continua aí, mas nós não O percebemos!
Nossa mente, viciada pela cultura da eficiência, também espera que a oração nos dê resultados imediatos, como qualquer outra ação onde recebemos o fruto de nossos esforços. Mas não é assim que funciona esse mundo da oração é “acordar cedo”, ficar desperto, estar atento, para acolher essa presença! Ainda nos ressentimos dessa ideia de fazer da oração uma lista de pedidos de Papai Noel... E esquecemos que orar é sobretudo estar na presença de Deus. Não é algo que nós fazemos... mas é sobretudo algo que deixamos Deus fazer em nós.
Uma definição clássica diz que “oração é elevação da mente e do coração até Deus”. Poderíamos perguntar: “e o corpo, onde fica ou o que vai fazer, enquanto a mente e o coração vão até Deus?”. Além disso, sabemos que, na realidade da nossa tradição ocidental, muitas vezes só a mente era elevada até Deus... ou talvez sendo mais precisos, levada a pensar em Deus. O coração ficava de fora. Assim, apenas uma parte de nós era elevada até Deus e nossa oração permanecia como algo fragmentado, incapaz de ajudar a pessoa toda e saborear a presença de Deus.
Ficai tranquilos e sabei que eu sou Deus”, diz o salmista (Sl 46,11). Talvez aí tenhamos uma boa definição de oração. Acalmar-se, centrar-se, harmonizar-se, serenar... essa é a nossa parte da oração. O resto... é ação de Deus e nós apenas cabe experimentar, saborear, curtir. “Sabei que eu sou Deus”... experimentai como Eu sou, saboreai minha presença, meu jeito de ser...
A meditação responde a esta perspectiva da oração. Unifica o corpo, o coração e a mente... ajudando a pessoa toda a centrar-se em Deus, mergulhando no mais profundo de si mesma, aí onde Deus habita e se deixa encontrar. Não nos detemos pensando em Deus, nem falando com Ele, nem pedindo... simplesmente permanecemos com Deus! Estar com Deus... é como ir a praia e deixar-se bronzear pelo sol... ou como saborear a presença silenciosa da pessoa amada...
Mariano Ballester diz que “a oração mais profunda, mais pessoal, mais interior, mais mística, não é aquela que usa os artifícios de uma cultura sofisticada; ela não precisa de conceitos complicados nem de linguajar enfeitado. Ela não usa métodos refinados acessíveis somente depois de longo treinamento. Muito pelo contrário, ela é simples, e de uma simplicidade somente acessível aos simples”.
[CUNHA, Domingos. Meditação Cristã, uma oração integradora. Paulus, 2006].


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