sábado, 17 de outubro de 2015

A MISERICÓRDIA DE DEUS





Um dos temas primários e mais fundamentais a se tratar na vida cristã é esse tema da misericórdia de Deus. Haja vista, se observar em nosso cotidiano a falta de relacionamento com este canal tão fundamental da graça de Deus. O encontro com a misericórdia do Senhor nos faz perceber criaturas amadas de Deus, nos faz retirar o fardo da culpa, bem como nos faz olhar com mais misericórdia para os irmãos e irmãs da comunidade. Aproveitemos esse momento para mergulhar com mais afinco nessa grande proposta.

A misericórdia de Deus

Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai. Encontramos nestas palavras uma síntese do mistério cristão. Pois a misericórdia do Pai se tornou viva, visível e atingiu seu clímax em Jesus de Nazaré.
Um pouco da história da salvação temos: Depois de ter revelado o seu nome a Moises como “Deus misericordioso e clemente, paciente, rico em bondade e fiel (Ex 34,6) não deixou de dar a conhecer, de vários modos e de muitos momentos da história, a sua natureza divina. Na plenitude dos tempos mandou seu filho unigênito, para revelar de um modo definitivo o seu amor.
Com os seus gestos e toda a sua pessoa, Jesus revela a misericórdia de Deus.

Porque é necessário contemplar o mistério da misericórdia?

Pois esse mistério é fonte de alegria, serenidade e paz. Misericórdia: é o ato ultimo e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro; Misericórdia: é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado.
Há momento em que somos chamados, de maneira ainda mais intensa, a fixar o olhar na misericórdia, para nos tornarmos nós mesmos sinal do agir do Pai.
O Papa Francisco retomando as palavras do Papa João XXIII no Concílio Vaticano II nos apresenta a profundidade desse tema na prática da igreja nos dias de hoje: “Nos nossos dias, a Esposa de Cristo prefere usar mais o remédio da misericórdia que o da severidade (...) A Igreja Católica, levantando por meio deste Concílio Ecumênico o facho da verdade religiosa, deseja mostrar-se mãe amorosa de todos, benigna, paciente, cheia de misericórdia e bondade com os filhos dela separados”.
A todos, crentes a afastados, possa chegar o bálsamo da misericórdia como sinal do Reino de Deus já presente no meio de nós.

Usar da misericórdia é sinal de fraqueza?

Já nas palavras de São Tomás de Aquino encontramos a expressão: “É próprio de Deus usar de misericórdia e, nisto, se manifesta de modo especial a sua onipotência”. Ainda em uma oração coleta, uma das mais antigas da igreja, rezada no XXVI Domingo do Tempo comum, já utilizada na
igreja por volta do século VIII, se crava a seguinte expressão: “Ó Deus, que mostrais o vosso poder sobretudo no perdão e na misericórdia (...). Estas palavras mostram como a misericórdia divina não seja, de modo algum, um sinal de fraqueza, mas antes de qualidade e onipotência de Deus. Ou seja, Deus permanece para sempre na história humana como aquele que é próximo, providente, santo e misericordioso.
A misericórdia de Deus é uma ideia abstrata?
Para dar respostas a essa indagação devemos recorrer ao Antigo Testamento como fundamento da tradição sobre a misericórdia de Deus. “Paciente e misericordioso” é o binômio que aparece, frequentemente no Antigo Testamento para descrever a natureza de Deus. O fato dele ser misericordioso encontra reflexo em muitas ações da história da salvação onde sua bondade prevalece sore o castigo e a destruição. Vamos pois recorrer aos salmos, experiências concretas de oração de uma comunidade, para compreendermos a ação da misericórdia de Deus.
Os salmos realmente fazem sobressair a grandeza da misericórdia divina: “É ele quem perdoa toda a culpa, que cura todas as tuas doenças, é ele quem salva tua vida do fosso e te coroa com a bondade e sua misericórdia” (103 (102),3-4).
“O senhor livra os prisioneiros, o senhor devolve a vista aos cegos, o senhor levanta quem caiu, o senhor ama os justos, o senhor protege os estrangeiros, ampara os órfãos e as viúvas”. E para terminar encontramos essa pérola do salmista “Ele cura os corações atribulados e enfaixa suas feridas”.
Em suma, a misericórdia de Deus não é uma ideia abstrata, mas uma realidade concreta, pela qual Ele revela o seu amor como o de um pai e de uma mãe que se comove pelo filho até o mais íntimo de suas viveras. É um amor visceral, provem do íntimo como um sentimento profundo, natural, feito de ternura e compaixão, de indulgencia e perdão.
Na vida de Jesus percebemos suas ações movidas pela misericórdia. Em virtude desse amor compassivo curou os doentes (Mt 14,14), com poucos pães e peixes saciou os famintos (Mt 15,37), em todas as circunstâncias o que mais movia Jesus era a misericórdia. A própria vocação de Mateus se insere no horizonte da misericórdia. Ao passar pela banca de impostos, os olhos de Jesus se fixaram no de Mateus. Um olhar capaz de penetrar na vida daquele homem, um olhar de misericórdia capaz de supera os preconceitos.

Qual a incidência da misericórdia de Deus na nossa vida?

Para essa indagação deveremos um primeiro lugar nos reportar as algumas passagens chaves do evangelho sobre a misericórdia. Como ponta pé inicial nos encontramos com as três parábolas da misericórdia no capítulo 15 do evangelho de são Lucas. A parábola da ovelha perdida, da moeda perdida, do filho perdido. Nessas parábolas Deus é apresentado sempre cheio de alegria, sobretudo quando perdoa. Nelas, encontramos o núcleo do Evangelho e de nossa fé, porque a
misericórdia é apresentada como uma força que tudo vence, enche o coração de amor e consola com o perdão.
Outra parábola nos chama muita atenção (Mt 18,21-35). Tudo se inicia com a pergunta de Pedro “Senhor quantas vezes devo perdoar se meu irmão pecar contra mim”, Jesus responde “não até sete vezes, mais setenta vezes sete”. E contou a parábola do “servo cruel”. Sim, aquele homem que devia uma enorme fortuna a seu patrão, como não tendo com que pagar, suplicou ao patrão e este lhe perdoou toda a dívida. Logo em seguida este empregado encontrou um companheiro de trabalho que lhe devia uma pequena quantia, este suplicava de joelhos que tenha piedade, mas aquele recusou-se e o fez colocar na prisão. Então o senhor tendo sabido do fato, irrita-se muito e, convocando aquele servo diz-lhe “não devias tu também ter compaixão do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti” (Mt 18,33).
A parábola contém um ensinamento profundo para cada um de nós, Jesus declara que a misericórdia não é apenas o agir do Pai, mas torna-se o critério para entender quem são os seus verdadeiros filhos. Em suma somos chamados a viver de misericórdia, porque, foi usada de misericórdia para conosco.
Tantas vezes parece difícil perdoar! E no entanto, o perdão é um instrumento colocado nas nossas frágeis mãos para alcançar a serenidade do coração. Deixar de lado o ressentimento, a raiva, a violência e a vingança são condições necessárias para se viver feliz. 



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