Um
dos temas primários e mais fundamentais a se tratar na vida cristã é esse tema
da misericórdia de Deus. Haja vista, se observar em nosso cotidiano a falta de
relacionamento com este canal tão fundamental da graça de Deus. O encontro com
a misericórdia do Senhor nos faz perceber criaturas amadas de Deus, nos faz
retirar o fardo da culpa, bem como nos faz olhar com mais misericórdia para os
irmãos e irmãs da comunidade. Aproveitemos esse momento para mergulhar com mais
afinco nessa grande proposta.
A misericórdia de
Deus
Jesus
Cristo é o rosto da misericórdia do Pai. Encontramos nestas palavras uma
síntese do mistério cristão. Pois a misericórdia do Pai se tornou viva, visível
e atingiu seu clímax em Jesus de Nazaré.
Um
pouco da história da salvação temos: Depois de ter revelado o seu nome a Moises
como “Deus misericordioso e clemente, paciente, rico em bondade e fiel (Ex
34,6) não deixou de dar a conhecer, de vários modos e de muitos momentos da
história, a sua natureza divina. Na plenitude dos tempos mandou seu filho
unigênito, para revelar de um modo definitivo o seu amor.
Com
os seus gestos e toda a sua pessoa, Jesus revela a misericórdia de Deus.
Porque
é necessário contemplar o mistério da misericórdia?
Pois
esse mistério é fonte de alegria, serenidade e paz. Misericórdia: é o ato
ultimo e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro; Misericórdia: é o
caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos
amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado.
Há
momento em que somos chamados, de maneira ainda mais intensa, a fixar o olhar
na misericórdia, para nos tornarmos nós mesmos sinal do agir do Pai.
O
Papa Francisco retomando as palavras do Papa João XXIII no Concílio Vaticano II
nos apresenta a profundidade desse tema na prática da igreja nos dias de hoje:
“Nos nossos dias, a Esposa de Cristo prefere usar mais o remédio da
misericórdia que o da severidade (...) A Igreja Católica, levantando por meio
deste Concílio Ecumênico o facho da verdade religiosa, deseja mostrar-se mãe
amorosa de todos, benigna, paciente, cheia de misericórdia e bondade com os
filhos dela separados”.
A
todos, crentes a afastados, possa chegar o bálsamo da misericórdia como sinal
do Reino de Deus já presente no meio de nós.
Usar
da misericórdia é sinal de fraqueza?
Já
nas palavras de São Tomás de Aquino encontramos a expressão: “É próprio de Deus
usar de misericórdia e, nisto, se manifesta de modo especial a sua
onipotência”. Ainda em uma oração coleta, uma das mais antigas da igreja,
rezada no XXVI Domingo do Tempo comum, já utilizada na
igreja
por volta do século VIII, se crava a seguinte expressão: “Ó Deus, que mostrais
o vosso poder sobretudo no perdão e na misericórdia (...). Estas palavras
mostram como a misericórdia divina não seja, de modo algum, um sinal de
fraqueza, mas antes de qualidade e onipotência de Deus. Ou seja, Deus permanece
para sempre na história humana como aquele que é próximo, providente, santo e
misericordioso.
A
misericórdia de Deus é uma ideia abstrata?
Para
dar respostas a essa indagação devemos recorrer ao Antigo Testamento como
fundamento da tradição sobre a misericórdia de Deus. “Paciente e
misericordioso” é o binômio que aparece, frequentemente no Antigo Testamento
para descrever a natureza de Deus. O fato dele ser misericordioso encontra
reflexo em muitas ações da história da salvação onde sua bondade prevalece sore
o castigo e a destruição. Vamos pois recorrer aos salmos, experiências
concretas de oração de uma comunidade, para compreendermos a ação da
misericórdia de Deus.
Os
salmos realmente fazem sobressair a grandeza da misericórdia divina: “É ele
quem perdoa toda a culpa, que cura todas as tuas doenças, é ele quem salva tua
vida do fosso e te coroa com a bondade e sua misericórdia” (103 (102),3-4).
“O
senhor livra os prisioneiros, o senhor devolve a vista aos cegos, o senhor
levanta quem caiu, o senhor ama os justos, o senhor protege os estrangeiros,
ampara os órfãos e as viúvas”. E para terminar encontramos essa pérola do
salmista “Ele cura os corações atribulados e enfaixa suas feridas”.
Em
suma, a misericórdia de Deus não é uma ideia abstrata, mas uma realidade
concreta, pela qual Ele revela o seu amor como o de um pai e de uma mãe que se
comove pelo filho até o mais íntimo de suas viveras. É um amor visceral, provem
do íntimo como um sentimento profundo, natural, feito de ternura e compaixão,
de indulgencia e perdão.
Na
vida de Jesus percebemos suas ações movidas pela misericórdia. Em virtude desse
amor compassivo curou os doentes (Mt 14,14), com poucos pães e peixes saciou os
famintos (Mt 15,37), em todas as circunstâncias o que mais movia Jesus era a
misericórdia. A própria vocação de Mateus se insere no horizonte da
misericórdia. Ao passar pela banca de impostos, os olhos de Jesus se fixaram no
de Mateus. Um olhar capaz de penetrar na vida daquele homem, um olhar de
misericórdia capaz de supera os preconceitos.
Qual
a incidência da misericórdia de Deus na nossa vida?
Para
essa indagação deveremos um primeiro lugar nos reportar as algumas passagens
chaves do evangelho sobre a misericórdia. Como ponta pé inicial nos encontramos
com as três parábolas da misericórdia no capítulo 15 do evangelho de são Lucas.
A parábola da ovelha perdida, da moeda perdida, do filho perdido. Nessas
parábolas Deus é apresentado sempre cheio de alegria, sobretudo quando perdoa.
Nelas, encontramos o núcleo do Evangelho e de nossa fé, porque a
misericórdia
é apresentada como uma força que tudo vence, enche o coração de amor e consola
com o perdão.
Outra
parábola nos chama muita atenção (Mt 18,21-35). Tudo se inicia com a pergunta
de Pedro “Senhor quantas vezes devo perdoar se meu irmão pecar contra mim”,
Jesus responde “não até sete vezes, mais setenta vezes sete”. E contou a
parábola do “servo cruel”. Sim, aquele homem que devia uma enorme fortuna a seu
patrão, como não tendo com que pagar, suplicou ao patrão e este lhe perdoou
toda a dívida. Logo em seguida este empregado encontrou um companheiro de
trabalho que lhe devia uma pequena quantia, este suplicava de joelhos que tenha
piedade, mas aquele recusou-se e o fez colocar na prisão. Então o senhor tendo
sabido do fato, irrita-se muito e, convocando aquele servo diz-lhe “não devias
tu também ter compaixão do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti” (Mt
18,33).
A
parábola contém um ensinamento profundo para cada um de nós, Jesus declara que
a misericórdia não é apenas o agir do Pai, mas torna-se o critério para
entender quem são os seus verdadeiros filhos. Em suma somos chamados a viver de
misericórdia, porque, foi usada de misericórdia para conosco.
Tantas
vezes parece difícil perdoar! E no entanto, o perdão é um instrumento colocado
nas nossas frágeis mãos para alcançar a serenidade do coração. Deixar de lado o
ressentimento, a raiva, a violência e a vingança são condições necessárias para
se viver feliz.
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