REFLEXÃO PARA O 30º DOMINGO DO TEMPO
COMUM
PRIMEIRA LEITURA (Jr 31,7-9) Jeremias. Isto diz o
Senhor: “Exultai de alegria, cantai e dizei: ‘Salva, Senhor, teu povo, o resto
de Israel’. Eis que eu os trarei e os reunirei desde as extremidades da terra;
entre eles há cegos e aleijados, mulheres grávidas e parturientes: São uma
grande multidão os que retornam. Eles chegarão entre lágrimas e eu os receberei
entre preces; eu os conduzirei por torrentes d’água, por um caminho reto onde
não tropeçarão, pois tornei-me um pai para Israel, e Efraim é o meu
primogênito”.
AMBIENTE – A mensagem poderia situar-se na primeira fase de
Jeremias (reinado de Josias) e dirigir-se-ia aos israelitas do Reino do Norte
que estava sob o domínio assírio. Para outros, será da época de Sedecias,
entre a primeira e a segunda deportação do Povo para a Babilônia (597-586
a.C.). Jeremias começa a refletir sobre um tempo novo que Deus irá oferecer ao
seu Povo uma nova Aliança.
MENSAGEM – É convite à alegria e ao louvor.
Jahwéh vai reunir o seu Povo (disperso na Assíria, Na Babilónia?), vai conduzi-lo
através do deserto e vai fazê-lo retornar à sua pátria. Deste Novo Êxodo farão
parte "o cego e o coxo, a mulher grávida e a que deu à luz". O cego e
o coxo relembram a situação de necessidade e de carência dos exilados. Na
mulher grávida e na mulher que deu à luz, o profeta representa a dor e o
sofrimento, mas também a fecundidade, a alegria, a esperança num futuro novo e
cheio de vida. Jahwéh apresenta-Se como um pai cheio de amor pelo seu
filho/Povo. Esse amor irá traduzir-se no fim do Exílio e no regresso dos
exilados à sua terra. Jahwéh vai oferecer ao seu Povo vida abundante e fecunda.
Mesmo nos momentos mais dramáticos da histórica de Israel, quando o Povo
parecia privado de luz e de liberdade (o "cego" e o
"coxo"), Deus estava lá, preocupando-se em libertar o seu Povo e em
conduzi-lo pela mão, com amor de pai, ao encontro da liberdade e da vida plena.
SEGUNDA LEITURA (Hb 5,1-6) Carta aos Hebreus. - Todo sumo sacerdote é tirado do meio dos
homens e instituído em favor dos homens, para oferecer dons e sacrifícios pelos
pecados. Sabe ter compaixão, porque ele mesmo está cercado de fraqueza. Por
isso, oferece sacrifícios tanto pelos pecados do povo, quanto pelos seus.
Ninguém deve atribuir-se esta honra, senão o que foi chamado por Deus, como
Aarão. Deste modo, também Cristo não se atribuiu a si mesmo a honra de ser sumo
sacerdote, mas foi aquele que lhe disse: “Tu és o meu Filho, eu hoje te gerei”.
Como diz em outra passagem: “Tu és sacerdote para sempre, na ordem de
Melquisedec”.
AMBIENTE- Carta aos Hebreus – uma reflexão
destinada a comunidades desanimadas. O objetivo é redescobrir o entusiasmo
inicial com Cristo. O autor convida a apreciar o mistério de Cristo, o
sacerdote por excelência, que o Pai enviou com a missão de integrar a
comunidade do Povo sacerdotal (pelo batismo). O autor apresenta
Jesus como o sacerdote fiel e misericordioso que o Pai enviou para mudar os
corações dos homens e para os aproximar de Deus.
MENSAGEM - há três elementos à figura do sumo sacerdote. Em
primeiro lugar, ele é um escolhido
de Deus:
Em segundo lugar, é um homem tomado de entre os homens: a sua fragilidade que
resulta da sua humanidade, tornam-no apto para compreender os erros e os
pecados dos outros homens por quem intercede.
Em terceiro, o sumo-sacerdote tem uma função mediadora:
“oferecer dons e sacrifícios pelos pecados”, e trazendo o perdão de Deus. Na
Carta aos Hebreus, Jesus é o sumo-sacerdote por excelência. Em primeiro lugar,
porque Ele foi chamado e destinado por Deus a esta missão; o fato de ser Filho de Deus dá ao seu sacerdócio uma dignidade e
uma qualidade suprema; é íntimo com o Pai. Em segundo lugar, porque Ele foi homem, também. Ele
experimentou a nossa fragilidade e tornou-Se capaz de entender as nossas
fraquezas. A sua intimidade com o Pai e a sua humanidade tornam-no o perfeito mediador e intercessor.
Ele veio ao nosso encontro, mostrou-nos o amor do Pai, convidou-nos a eliminar
o egoísmo e o pecado que nos afastavam da comunhão com Deus, chamou-nos a
integrar a família de Deus e ensinou-nos o que fazer para sermos filhos de
Deus.
10.
EVANGELHO (Mc 10,46-52)
Marcos. Jesus saiu com seus discípulos e uma grande multidão. O filho de Timeu,
Bartimeu, cego e mendigo, estava sentado à beira do caminho. Quando ouviu dizer que Jesus estava passando, começou a gritar: “Jesus, filho
de Davi, tem piedade de mim!” Muitos
o repreendiam para que se
calasse. Mas ele gritava mais ainda. Então Jesus
parou e disse: “Chamai-o”.
Eles o chamaram e disseram:
“Coragem, levanta-te, Jesus te
chama!” O cego jogou o manto, deu um pulo e foi até Jesus. Então Jesus lhe
perguntou: “O que queres que
eu te faça?” O cego respondeu: “Mestre, que eu veja!” Jesus disse: “Vai, a tua fé te curou”. No mesmo
instante, ele recuperou a vista e seguia
Jesus pelo caminho.
AMBIENTE - Bartimeu ("filho de Timeu"). Os
"cegos" eram excluídos. A cegueira era considerada o resultado de um
pecado grave. Os cegos não eram testemunhas e não entravam no Templo.
MENSAGEM - Marcos construiu uma catequese. O cego representa
todos os pecadores, impuros, marginais, longe de Deus e da sua proposta de
salvação. O cego está
sentado à beira do caminho,
significa acomodação, conformismo. Ele está privado da luz e da liberdade e
está conformado com a situação, sabendo que, por si só, é incapaz de sair dela.
O pedir esmola indica escravidão e dependência. Contudo, a passagem de
Jesus dá ao cego a consciência da sua miséria. A passagem de Jesus na vida de
alguém é sempre um momento de tomada de consciência, de questionamento, de
desafio. Bartimeu está consciente da sua debilidade e sente que, sem a ajuda de
Jesus, continuará na dependência, na escravidão. Por isso, pede: "Jesus,
filho de David, tem misericórdia de mim". Bartimeu vê em Jesus esse
Messias libertador que havia de vir para dar vida em plenitude ao Povo de
Deus. Os discípulos repreendiam o cego e queriam fazê-lo calar. Quando
alguém encontra Jesus encontra sempre resistências (familiares, amigos,
colegas). Jesus parou e mandou
chamar o cego. Os mediadores
dizem-lhe: "coragem, levanta-te que Ele chama-te". Ou seja: deixa
a tua miséria, escravidão e dependência, porque Jesus chama-te. O chamamento é
sempre a tornar-se discípulo, a seguir Jesus no caminho do amor e do dom
da vida.
Em resposta, o cego atirou fora a capa, deu um
salto e foi ter com Jesus. A capa é tudo o que um mendigo possui, a única coisa
de que ele pode separar-se (outros deixaram o barco, as redes ou a banca onde
recolhiam impostos). O deitar fora a capa significa, portanto, o deixar tudo o
que se possui para ir ao encontro de Jesus. É um corte radical com o passado, a
fim de começar uma vida nova ao lado de Jesus. Jesus perguntou ao cego:
"que queres que te faça?". É a mesma pergunta que, pouco antes, Jesus fizera a João
e Tiago (cf. Mc 10,36). A pergunta acentua, contudo, a diferença da resposta
... Os dois irmãos queriam sentar-se ao lado de Jesus e ver concretizados os
seus sonhos de grandeza e de poder; o cego Bartimeu, ao contrário, cansado de
estar sentado numa vida de escravidão e de cegueira, quer encontrar a luz para
seguir Jesus. Jesus responde a Bartimeu: "vai, a tua fé te
salvou". A fé é a adesão a Jesus e à sua proposta de salvação. Por isso,
Marcos termina a sua história dizendo que o cego recuperou a vista e seguiu Jesus - isto é, fez-se discípulo. Bartimeu
encontrou a salvação. Bartimeu representava os pecadores que viviam longe
de Deus e à margem da salvação. Depois de encontrar Jesus, Bartimeu
transforma-se e torna-se o protótipo do verdadeiro discípulo. É com Bartimeu
que os discípulos de Jesus são convidados a identificar-se.
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