“Alguém que eu amava morreu!”
“Alguém que eu amava morreu” é o título
de um livro – sem querer fazer propaganda, recomendo a todos que o leiam – do
autor Earl A. Grollman. Ao mesmo tempo, é um livro sobre a morte e sobre a
vida. Uma verdadeira chacoalhada na nossa postura com relação à morte de um
ente querido. Foi escrito para ajudar as pessoas que estão sofrendo com a perda
de um ser amado – parceiro(a), filho(a), mãe, pai, irmão(a), amigo(a) – a
lidarem com as emoções da dor da morte e do luto e a experimentar, com
sabedoria, esperança e fé, novamente a alegria. Para além da literatura, esta
é, afinal, a experiência de vida, pela qual todos nós passamos ou passaremos. O
desejo mais profundo do coração humano é a imortalidade. Saber e sentir-se
finito é um dos maiores dramas do ser humano. Morrer, nem pensar! Nossa vida é
medida pelo tempo. Poucos são os que acham que já viveram demais. Todos se
acham no direito de esticar, o mais que puder, a sua vida aqui na terra. O que
fazer então para matar esta sede de infinito? Basta ler um livro, ou há algo
mais profundo para meditar?
O cristianismo vem em socorro desta
angústia humana, ao apresentar o maior presente que Deus nos dá: a vida eterna.
A morte entrou no mundo pelo pecado. A vida eterna começa no batismo, atravessa
a morte e não tem fim. Crer na ressurreição é um elemento essencial da fé
cristã. Crendo na ressurreição, somos cristãos. Não crendo, não somos cristãos
(cf. Tertuliano, em Catecismo da Igreja Católica, n. 991), pois, “se Cristo não
ressuscitou, vã é a nossa pregação, e vã também é a vossa fé” (1Cor 15,14). Foi
Jesus quem disse: “quando eu for levantado da terra, atrairei todos a mim” (Jo
12,32). Ele já foi levantado da terra, na cruz. E já nos atraiu a Ele. Jesus é
a nossa páscoa, nossa ressurreição e nossa vida: “Eu sou a ressurreição e a
vida. Quem crê em mim, ainda que tenha morrido, viverá. E todo aquele que nele
que vive e crê em mim, não morrerá jamais. Crês nisto?” (Jo 11,25-26). A fé na
ressurreição é a base da fé em Deus. A vida, vista nesta ótica, é como o amor,
nunca termina (1Cor 13,8). “Não morro, entro na vida” (Santa Teresinha). Quem
crê em Deus crê na vida eterna. Quem tiver comido do seu corpo e bebido do seu
sangue terá a vida eterna (Jo 6,54).
Por que ir ao cemitério do dia de
Finados? O que a Igreja indica litúrgico e espiritualmente para este dia de
Finados? Ela indica três motivos para se rezar pelos defuntos: a comunhão que
existe entre todos os membros de Cristo, vivos e mortos; consolar, confortar e
prestar ajuda espiritual a quem ainda está vivo; e, por fim, ajudar
espiritualmente a pessoa que morreu a se purificar e chegar a Deus. Para este
dia de Finados, destacaremos cinco atitudes que podemos ter e devemos fazer:
Visitar o cemitério: para meditar sobre o mistério da
vida, da morte e da ressurreição. Ele guarda os corpos que serviram à vida, até
a chegada da morte, à espera da ressurreição, no dia final. Foi nos cemitérios
(catacumbas) que a Igreja se escondia das perseguições em Roma. Ali ela cresceu
e aprendeu a respeitar a vida dos mártires da fé e a rezar por eles. Ir ao
cemitério é lembrar-se da Palavra do Senhor de que todos somos pó, mas em
Cristo voltaremos à vida. A visita ao cemitério desperta em nós a fé na
ressurreição.
Rezar pelos defuntos: é uma obra de misericórdia. Santo
Agostinho dizia: “uma lágrima se evapora, uma flor murcha, só a oração chega ao
trono de Deus”. Oferecer a Deus o sacrifício de seu Filho, Jesus, feito uma vez
por todas, mas renovado liturgicamente em nossos altares, suplicando a Deus a
remissão dos pecados dos mortos que ainda poderão passar pela purificação.
Levar flores: simbolizam a saudade e o pedido de
oração para que estejam na glória de Deus. Elas mostram que respeitamos os
sepulcros dos mortos, em consideração à fé de que ressuscitarão no último dia.
E que, vivos ou mortos, pertencemos ao Senhor, somos um só corpo. O que fazemos
de bom redunda em benefício para todos, nesta ou na outra vida. Não leve ao
cemitério apenas flores materiais, mas também flores espirituais da oração, da
fé e do amor.
Acender vela: é um holocausto em miniatura. A
vida é como uma vela acesa que se derrete diariamente até a consumação total na
morte. Acenda velas, mas não esqueça que elas são o símbolo do Senhor
Ressuscitado e da fé na vida eterna. Enquanto a sua vela se queimar, eleve uma prece
a Deus por seus irmãos que já partiram. Ela substitui, perante a Deus, a pessoa
que a acende e se consome como um holocausto oferecido a Deus.
Receber indulgência: para aqueles ou aquelas que
visitarem o cemitério e rezarem pelos defuntos, de primeiro a oito de novembro,
é concedida a Indulgência Plenária, nas condições costumeiras: a confissão
sacramental, a comunhão eucarística e as orações nas intenções do papa (cf.
Anotações para o dia de Finados, Diretório Litúrgico da CNBB 2015, p. 184).
Portanto, visitando o cemitério,
limpando os túmulos, colocando flores, acendendo velas e rezando pelos entes
queridos falecidos, mesmo depois de admitirmos a morte de alguém querido,
haverá um salto de qualidade na nossa vida. Na visita ao cemitério reserve um tempo
para a oração pessoal; acenda velas e peça que seus entes queridos cheguem à
plena luz de Cristo; cubra suas sepulturas com flores que falam do seu amor;
ajude na limpeza do ambiente dos túmulos; participe da celebração eucarística
ou da Palavra e comungue, se puder; professe sua fé na ressurreição e na vida
eterna. Cristo ressuscitado estará lá, neste dia, para enxugar nossas lágrimas,
fortalecer nossa fé e aumentar a nossa esperança (cf. padre Francisco Sehnem,
SJC, Revista Brasil Cristão, novembro / 2013).
“É melhor para nós, entregues à
morte pelos homens, esperar, da parte de Deus, que seremos ressuscitados por
Ele (2Mc 7,14). São José, padroeiro da boa morte, e sua esposa, a Virgem Maria,
intercedam a Deus, agora e na hora da nossa morte. Que as almas dos fiéis
defuntos, pela misericórdia de Deus, descansem em paz. Amém!
Por Dom Pedro Brito Guimarães –
Arcebispo de Palmas (TO)
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