quinta-feira, 5 de novembro de 2015

ESTAR COM CRISTO


Estar com Cristo
Eu vou falar de três pontos: um, dois, três, como faziam os antigos jesuítas... um, dois, três!
Antes de tudo, recomeçar com Cristo significa cultivar a familiaridade com Ele, ter esta familiaridade com Jesus: Jesus recomenda, com insistência, aos discípulos na Última Ceia, quando se prepara para viver do mais sublime amor, o sacrifício da cruz. Recorrendo à imagem da videira e dos ramos, Jesus diz: permanecei no meu amor, permanecei ligados a mim, como o ramo está ligado à videira. Se estivermos unidos à Ele, podemos dar fruto, e essa é a familiaridade com Cristo. É permanecer em Jesus! Permanecer ligados a Ele: permanecer em Jesus.  
1.                  A primeira coisa necessária para ser discípulo é estar com o Mestre, ouvi-Lo, aprender Dele. E isso é sempre válido, é um caminho que dura a vida inteira! Recordo que, na diocese (na outra diocese que tinha antes), via muitas vezes, no fim dos cursos de seminário catequético, os catequistas saírem dizendo: “tenho o título de catequistas!”. Isso não adianta, não tens nada, fizeste apenas um pedaço da estrada! Quem te ajudará? Isso, sim que vale sempre! Não um título, mas um procedimento: estar com Ele; dura toda a vida! É estar na presença do Senhor, deixar-se olhar por Ele. Pergunto-vos: Como estais na presença do Senhor? Quando ides ter com o Senhor, enquanto olhais o Sacrário, que fazeis? Sem palavras... Mas eu falo, falo, penso, medito, ouço... Muito bem! Mas tu... deixa-te olhar pelo Senhor? Sim, deixa-se olhar pelo Senhor. Ele olha-nos, e essa é a maneira de rezar. Deixa-te olhar pelo senhor? Mas, como se faz? Olha para o Sacrário e deixas-te olhar... É simples! É um pouco maçante, adormeço... Se adormeceres, adormeces! Ele te olhará igualmente, te olhará igualmente. Mas, teres a certeza de que Ele te olha é muito mais importante do que o título de catequista: faz parte do ser catequista. Isso inflama o coração, mantém aceso o fogo da amizade com o Senhor, te faz sentir que Ele verdadeiramente olha para ti, estar perto de ti e te ama. Numa das saídas que tive, aqui em Roma, por ocasião de uma missa, aproximou-se um Senhor, relativamente jovem, e me disse: “Padre, prazer em conhece-lo; mas eu não acredito em nada! “Não tenho o dom da fé!” Ele entendia que a fé era um dom. “Não tenho o dom da fé!” que me recomenda o Senhor?” não desanime! Deus te ama. Deixa-te olhar por Ele. E basta.” O mesmo vos digo: Deixai-vos olhar pelo Senhor! Compreendo que, para vós, não é tão simples: especialmente para quem é casado e tem filhos, é difícil encontrar um tempo longo de tranquilidade. Mas graças a Deus, não é necessário que todos façam da mesma maneira; na Igreja, há variedades de vocações e variedades de formas espirituais; o importante é encontrar o modo adequado para estar com o Senhor; e isso pode acontecer, é possível que em todos os estados de vida. Nesse momento, cada um pode interrogar-se: Como é que eu vivo este “estar” com o Senhor”? essa é uma pergunta que vos deixo: “como é que vivo esse estar com Jesus, esse permanecer com Jesus?”. Tenho momentos em que permaneço na sua presença, em silêncio, e me deixo olhar por Ele? Deixo que o seu fogo inflame meu coração? Se no nosso coração, não há o calor de Deus, do seu amor, de sua ternura, como podemos nós, pobres pecadores, inflamar o coração dos outros? Pensai nisso!
2.                  O segundo elemento é este – dois – recomeçar de Cristo significa imitá-Lo ao sair de Si mesmo para ir ao encontro do outro. Trata-se de uma experiência maravilhosa, embora um pouco paradoxal! Por que? Porque, quem coloca Cristo no centro da vida, descentraliza-se! Quanto mais te unes a Jesus e Ele se torna o centro da tua vida, tanto mais Ele te faz sair de ti mesmo, te descentraliza e abre aos outros. Esse é o verdadeiro dinamismo do amor, esse é o movimento do próprio Deus! Sem deixar de ser o centro, Deus é sempre dom de si, relação vida que se comunica... E assim nos tornamos também nós, se permanecermos unidos a Cristo, porque ele nos fez entrar nesse dinamismo do amor. Onde há uma verdadeira vida em Cristo, há abertura ao outro, saímos de nós mesmos para ir ao encontro do outro no nome do Cristo. E o trabalho do catequista é este: por amor, sair continuamente de si mesmo para testemunhar Jesus e falar de Jesus, anunciar Jesus. Isso é importante, porque é obra do Senhor: é precisamente o Senhor que nos impele a sair.  
O coração do catequista vive sempre este movimento de união com Jesus – encontro com o outro. Existe as duas coisas: eu me uno a Jesus e saio ao encontro dos outros. Se falta um desses dois movimentos, o coração deixa de bater, não pode viver. Recebe em dom o querigma e, por sua vez, o oferece em dom. importante essa palavrinha: dom! o catequista está consciente de que recebeu um dom: o dom da fé; e dela faz dom aos outros. Isso é maravilhoso! E não reserva uma porcentagem para si! Tudo aquilo que recebe, dá. Aqui não se trata de negócio! Não é um negócio! É puro dom: dom recebido e dom transmitido. E o catequista está ali, nessa encruzilhada de dom. isto está na própria natureza do querigma: é um dom que gera missão, que impele sempre para além de si mesmo. São Paulo dizia: “o amor de Cristo nos impele”; mas essa expressão “nos impele” também se pode traduzir por “nos possui”. É assim o amor: atrai e envia, toma e dá aos outros. É nessa tensão que se move o coração do cristão, especialmente o coração do catequista. Perguntemos todos: É assim que bate o meu coração de catequista: união com Jesus e encontro com o outro? Com esse movimento de união com Jesus e encontro com o outro? Alimenta-se na relação com Ele, mas para O levar aos outros e não para O reter? Eis o que vos digo: não compreendo como possa um catequista ficar parado, sem esse movimento. Não compreendo!
3.                  E o terceiro elemento – três – se situa também nessa linha: recomeçar de Cristo não significa ter medo de ir com Ele e para as periferias. Isso me traz a mente a história de Jonas, uma figura muito interessante, especialmente nos nossos tempos de mudanças e incertezas. Jonas é um homem piedoso, com uma vida tranquila e bem ordenada; isso o leva a ter bem claros os seus preconceitos e julgar rigidamente tudo e todos segundo os seus preceitos. Vê tudo claro, a verdade é essa. É rígido! Por isso, quando o Senhor o chama e diz para ir pregar à grande cidade pagã de Nínive, Jonas não quer ir lá! Mas eu tenho toda a verdade aqui” não quero ir... Nínive está fora dos seus conceitos, está na periferia de seu mundo. Então escapa, vai para a Espanha, foge, embarca num navio e vai para aqueles lados. Ide ler o Livro de Jonas! É breve, mas é uma parábola muito instrutiva, especialmente para nós que estamos na Igreja.
O que ele nos ensina? Ensina-nos a não ter medo de sair de nossos preconceitos para seguir a Deus, porque Deus sempre vai além. Sabeis uma coisa? Deus não tem medo! Sabeis disso! Não tem medo! Ultrapassa sempre os nossos esquemas! Deus não tem medo de periferias. Se fordes às periferias, o encontrareis lá. Deus é sempre fiel, é criativo. Mas, por favor, não se permita um catequista que não seja criativo. A criatividade é como a coluna de ser catequista. Deus é criativo, não se fecha, e por isso nunca é rígido. Deus não é rígido! Acolhe-nos, vem ao nosso encontro, compreende-nos. Para sermos fiéis, para sermos criativos, é preciso saber mudar. Saber mudar. E porque devo mudar? É para me adequar às circunstancias em que devo anunciar o Evangelho. Para permanecermos com Deus, é preciso saber sair, não ter medo de sair. Se um catequista se deixar tomar pelo medo, é um covarde; se um catequista se fecha tranquilo, acaba por ser uma estátua de museu: temos muitos! Temos muitos! Por favor, estátuas de museu, não! Se um catequista é rígido, se torna enrugado e estéril. Pergunto-vos: alguém de vós quer ser covarde, estátua de museu ou estéril? Algum de vós tem vontade de o ser? Não? Tem certeza? Está bem! Aquilo que vou dizer agora, já disse muitas vezes; mas sinto no coração o que deve dizer. Quando nós, cristãos, estamos fechados em nosso grupo, no nosso movimento, na nossa paróquia, no nosso ambiente, permanecemos fechados; e nos acontece o que sucede a tudo aquilo que está fechado: quando um quarto está fechado, começa a cheirar a mofo. E se uma pessoa está fechada naquele lugar, adoece! Quando um cristão está fechado no seu grupo, na sua paróquia, no seu movimento, está fechado, adoece. Se um cristão sai pelas estradas, vai às periferias, pode acontecer o mesmo que qualquer pessoa que anda na estrada: um acidente. Quantas vezes vimos acidentes nas estradas! Mas eu digo: prefiro mil vezes uma igreja acidentada a uma igreja doente! Prefiro uma igreja, um catequista que corra corajosamente o risco de sair, que um catequista que estude, saiba tudo, mas sempre fechado: este está doente. E as vezes está doente da cabeça...
Atenção, porém! Jesus não diz: Ide arranjai-vos. Não, não diz isso! Jesus diz: Ide, Eu estou convosco! Nisso está o nosso encanto a nossa força: se formos, se sairmos para levar o seu Evangelho com amor, com verdadeiro espírito apostólico, com franqueza, Ele caminha conosco, nos precede – digo em espanhol – nos primereia. O Senhor sempre nos premerea! Decerto já aprendeste o significado dessa palavra! E isso é a Bíblia que diz, não eu. A Bíblia diz, ou melhor, o Senhor diz na Bíblia: eu sou como a flor da emendoeira. Por que? Porque é a primeira flor que desabrocha na primavera. Ele é sempre o primeiro! Para nós isso é fundamental: Deus sempre nos precede! Quando pensamos que temos de ir longe, para uma periferia externa, talvez nos assalte um pouco de medo, mas na realidade, ele já está lá: Jesus nos espera no coração daquele irmão, na sua carne ferida, na sua vida oprimida, na sua alma sem fé. Vós sabeis de uma das periferias que me faz tão mal, que me faz doer? Senti na diocese que tinha antes. É a das crianças que não sabem fazer o sinal da cruz. Em Buenos Aires, há muitas crianças que não sabem fazer o sinal da cruz. Essa é uma periferia! É preciso ir lá! E Jesus está lá, esperando por ti para ajudares aquela criança a fazer o sinal da cruz. Ele sempre nos precede.
Amados catequistas, acabam-se os três pontos. Recomeçar sempre de Cristo! Agradeço-vos pelo que fazeis, mas, sobretudo, porque estais na Igreja, povo de Deus em caminho, porque caminhais com o povo de Deus. Permaneçamos com Cristo – permanecer em Cristo – procuremos cada vez mais ser um só com Ele; sigamo-Lo, imitemos o seu movimento de amor, o seu sair ao encontro do homem, e saiamos, abramos as portas, tenhamos a audácia de traçar estradas novas para o anúncio do Evangelho.  
   
[Papa Francisco. A Igreja da misericórdia].   


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