sábado, 14 de novembro de 2015

REFLEXÃO PARA O 33º DOMINGO DO TEMPO COMUM


33º DOMINGO COMUM – REFLEXÃO DAS LEITURAS
PRIMEIRA LEITURA
O autor do livro anuncia a chegada iminente do tempo da intervenção salvadora de Deus para salvar o Povo fiel. Ele refere-se à intervenção de “Miguel”, o chefe do exército celestial, que Deus enviará para castigar os perseguidores. No imaginário religioso judaico, “Miguel” é concebido como um espírito celeste (uma espécie de anjo protetor) que vela pelo Povo de Deus e opera a libertação dos perseguidos. Essa intervenção iminente de Deus irá, também, ressuscitar os que já morreram, a fim de lhes dar o prêmio pela sua vida de fidelidade ou o castigo pelas maldades que praticaram. Essa vida nova que os espera não será uma vida semelhante à do mundo presente, mas será uma vida transfigurada. É esta a esperança que deve sustentar os justos, chamados a permanecerem fiéis a Deus, apesar da perseguição e da prova. A sua vida não é sem sentido, e não está condenada ao fracasso; mas a sua constância e fidelidade serão recompensadas com a vida eterna. Começa aqui a esboçar-se a teologia da ressurreição.
A mensagem de esperança destinava-se a animar os crentes que sofriam a perseguição. É uma mensagem válida para todas as épocas e lugares. A “perseguição” por causa da fidelidade aos valores em que acreditamos é uma realidade que todos conhecemos e que faz parte da nossa existência comprometida. Hoje, essa “perseguição” nem sempre é sangrenta; manifesta-se, muitas vezes, em atitudes de marginalização ou de rejeição, em ditos humilhantes, em atitudes provocatórias, na colagem de “rótulos” (“conservadores”, “atrasados”, “fora de moda”), em julgamentos apressados e injustos, em preconceitos e oposições… Este texto garante-nos que Deus nunca abandona o seu Povo em marcha pela história e que a vitória final será daqueles que se mantiverem fiéis às propostas e aos caminhos de Deus.
 A certeza da presença de Deus a acompanhar a caminhada dos crentes, permite-nos olhar a história da humanidade com confiança e esperança. O cristão tem de ser uma pessoa alegre e confiante, que olha para o futuro com esperança.
 A certeza de que a vida não acaba na morte liberta-nos do medo e dá-nos a coragem do compromisso.
SEGUNDA LEITURA
Esta “Carta” destina-se a comunidades fragilizadas, cansadas que necessitam de redescobrir o seu entusiasmo inicial com Cristo e de apostar numa fé mais coerente e mais empenhada. Nesse sentido, o autor da “carta” apresenta-lhes o mistério de Cristo, o sacerdote por excelência, cuja missão é pôr os crentes em relação com o Pai e inseri-los nesse Povo sacerdotal que é a comunidade cristã. O objetivo é despertar no coração dos crentes uma resposta adequada ao amor de Deus, manifestado na ação de Jesus.
Os “sacrifícios pelo pecado tinham a função de expiar os pecados do Povo e de refazer a comunhão entre os crentes e Deus. Ao oferecer, sobre o altar do Templo, a vida de um animal, o crente pedia a Jahwéh perdão pelo pecado, manifestava a sua intenção de continuar a pertencer à comunidade de Deus e mostrava a sua vontade de reatar essa relação com Deus que o pecado tinha interrompido. O autor da Carta aos Hebreus está convencido que os sacrifícios oferecidos pelo pecado não eram eficazes e não conseguiam restabelecer essa comunhão entre o Povo e Deus. Tratava-se de ritos externos e superficiais, que nunca lograram transformar os corações duros e egoístas dos homens em corações capazes de viverem no amor a Deus e aos irmãos. Jesus, no entanto, com a entrega da sua vida, conseguiu concretizar esse objetivo de aproximar os homens de Deus. Ele obedeceu a Deus em tudo e ofereceu a sua vida em dom de amor aos homens. Com o seu exemplo e testemunho, Ele propôs aos homens um caminho novo, mudou os seus corações e ensinou-os a viverem numa total disponibilidade para com os projetos de Deus, na entrega total aos irmãos. Dessa forma, Jesus venceu a lógica do egoísmo e do pecado e colocou os homens no caminho certo para integrarem a família de Deus. O sacrifício de Jesus, oferecido de uma só vez, libertou os homens de uma dinâmica de egoísmo e de pecado e permitiu-lhes aproximarem-se de Deus com um coração renovado. Assim, ele “tornou perfeitos para sempre os que são santificados”. Cumprida a sua missão na terra, Jesus “sentou-se para sempre à direita de Deus”. Esta imagem de triunfo e de glória mostra, não apenas como o caminho percorrido por Cristo é um caminho que tem a aprovação de Deus mas, sobretudo, qual é a “meta” final da caminhada do homem: a pertença à família de Deus. Se o caminho da fidelidade aos projetos de Deus levou Jesus a sentar-Se à direita do Pai, também aqueles que seguem Jesus chegarão à mesma meta e sentar-se-ão à direita de Deus. Desta forma, o autor da Carta aos Hebreus exorta os cristãos a viverem na fidelidade aos compromissos que assumiram com Cristo no dia do seu Batismo. Quem percorre o mesmo caminho de Cristo, está destinado a sentar-se “à direita de Deus” e a viver em comunhão com Deus.
EVANGELHO
É um “discurso escatológico” (cf. Mt 13,3-37). É um texto difícil, que emprega imagens e linguagens marcadas pelas alusões enigmáticas, bem ao jeito do gênero literário “apocalipse”. Não é uma reportagem jornalística de acontecimentos concretos, mas uma leitura profética da história humana. O seu objetivo é dar aos discípulos indicações acerca da atitude a tomar frente aos acontecimentos que marcarão a caminhada histórica da comunidade, até ao momento em que Jesus vier para instaurar o novo céu e a nova terra. A missão que Jesus (que está consciente de ter chegado a sua hora de partir ao encontro do Pai) confia à sua comunidade não é uma missão fácil. Jesus está consciente de que os seus discípulos terão que enfrentar as dificuldades, as perseguições. Essa comunidade necessitará de estímulo. É por isso que surge este apelo à fidelidade, à coragem, à vigilância… No horizonte último da caminhada, Jesus coloca o final da história humana e o reencontro definitivo dos discípulos com Jesus. O “discurso escatológico” anuncia a vinda definitiva do Filho do Homem e o nascimento de um mundo novo.
Em Is 13,10, o obscurecimento do sol, da lua e das estrelas anuncia o dia da intervenção justiceira de Jahwéh para destruir o império babilônico e para libertar o Povo de Deus exilado numa terra estrangeira. Ora, é esta linguagem que Marcos vai utilizar para descrever a falência dos impérios que lutam contra Deus e contra os seus santos. Trata-se de uma linguagem tradicional para os  leitores de Marcos. No mundo grego o sol e a lua (“Élios”, e “Selénê”) eram adorados como deuses; e, no mundo romano, o imperador identificava-se como “o sol” (Nero, imperador de Roma, fez erigir no palácio imperial uma estátua de bronze com trinta metros de altura que o representava como o deus “sol”). A mensagem é evidente: está para acontecer uma virada na história; a velha ordem religiosa e política, os poderes que se opõem a Deus e que perseguem os santos, irão ser derrubados, a fim de darem lugar a um mundo novo, construído de acordo com os critérios e os valores de Deus. Marcos não se refere, aqui, àquilo que nós costumamos chamar “o fim do mundo”; mas refere-se, genericamente, à vitória de Deus sobre o mal.
A queda desse mundo velho aparece associada à vinda do Filho do Homem. A imagem leva-nos a Dn 7,13-14, onde se anuncia a vinda de um “Filho do Homem” “sobre as nuvens do céu” para afirmar a sua soberania sobre “todos os povos”. O “Filho do Homem, cheio de poder e de glória, que virá “reunir os seus eleitos”, não pode ser outro senão Jesus. Com esta imagem, Marcos assegura o triunfo de Cristo sobre os poderes opressores e a libertação daqueles que continuaram a percorrer com fidelidade os caminhos de Deus.
A mensagem proposta por Marcos é clara: espera-vos um caminho de sofrimento e perseguição; no entanto, não vos deixeis afundar no desespero porque Jesus vem. Com a sua vinda gloriosa, cessará a escravidão e nascerá um mundo novo, de alegria e de felicidade plenas. O quadro destina-se não a amedrontar, mas a abrir os corações à esperança: quando Jesus vier com a sua autoridade soberana, o mundo velho do egoísmo e da escravidão cairá e surgirá o dia novo da salvação/libertação sem fim.
Na segunda parte do nosso texto (28-32), Jesus responde à questão posta pelos discípulos: “Diz-nos quando tudo isto acontecerá e qual o sinal de que tudo está para acabar”.
Para Jesus, mais importante do que definir o tempo exato da queda do mundo velho é ter confiança na chegada do mundo novo e estar atento aos sinais que o anunciam. O aparecimento nas figueiras de novos ramos e de novas folhas acontece, sem falhas, cada ano e anuncia ao agricultor a chegada do Verão e do tempo das colheitas; da mesma forma, os crentes são convidados a esperar, com confiança, a chegada do mundo novo e a perceber, nos sinais de desagregação do mundo velho, o anúncio de que o tempo da sua libertação está chegando. Certos da vinda do Senhor, atentos aos sinais que O anunciam, os crentes podem preparar o seu coração para O acolher, para aceitar os desafios que Ele traz, para agarrar as oportunidades que Ele oferece.
Não há uma data marcada para o advento dessa nova realidade. De uma coisa os crentes podem estar certos: as palavras de Jesus são a garantia de que esse mundo novo, de vida plena e de felicidade sem fim, irá surgir.
A guerra, a opressão, a injustiça, a miséria, a escravidão, o egoísmo, a exploração, o desprezo pela dignidade do homem atingem-nos. Feridos e humilhados, duvidamos de Deus, da sua bondade, do seu amor, da sua vontade de salvar o homem. A Palavra de Deus hoje nos abre a porta à esperança. Reafirma que Deus não abandona a humanidade e está determinado a transformar o mundo do egoísmo e do pecado num mundo novo de vida e de felicidade para todos os homens. A humanidade não caminha para a destruição; mas caminha ao encontro da vida plena, ao encontro desse mundo novo.
Deus tem um projeto de vida para o mundo e os Cristãos têm de ser testemunhas da esperança. Eles vêem os momentos de tensão e de luta como sinais de que o mundo velho irá ser transformado e renovado, até surgir um mundo novo e melhor. Para o cristão, não faz qualquer sentido deixar-se dominar pelo medo, pelo pessimismo, pelo desespero. O mundo tem de ver em nós gente a quem a fé dá uma visão otimista da vida e da história e que caminha ao encontro desse mundo novo que Deus nos prometeu.
É Deus, o Senhor da história, que irá fazer nascer um mundo novo; contudo, Ele conta com a nossa colaboração desse projeto. Os cristãos não podem ficar de braços cruzados à espera que o mundo novo caia do céu; mas são chamados a anunciar e a construir, com a sua vida, com as suas palavras, com os seus gestos, esse mundo que está nos projetos de Deus. Isso implica um processo de conversão que nos leve a suprimir em nós e nos outros, o egoísmo, o orgulho, a prepotência, a exploração, a injustiça (mundo velho); isso implica, também, testemunhar com gestos concretos, os valores do mundo novo – a partilha, o serviço, o perdão, o amor, a fraternidade, a solidariedade, a paz.
Deus não abandona os homens na sua caminhada histórica. Da nossa parte, precisamos estar atentos à sua proximidade e reconhecê-lo nos sinais da história, no rosto dos irmãos, nos apelos dos que sofrem e que buscam a libertação. O cristão não pode fechar-se no seu canto e ignorar Deus, os seus apelos e os seus projetos; mas tem de estar atento e de notar os sinais através dos quais Deus Se dirige aos homens e lhes aponta o caminho do mundo novo.
É preciso, ainda, ter presente que este mundo novo nunca será uma realidade plena nesta terra. O mundo novo sonhado por Deus é uma realidade escatológica, cuja plenitude só acontecerá depois de Cristo ter destruído definitivamente o mal que nos torna escravos.


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