terça-feira, 10 de novembro de 2015

O ABRAÇO DA MISERICÓRDIA DE DEUS


O ABRAÇO DA MISERICÓRDIA DE DEUS

A misericórdia de Deus: como é bela essa realidade da fé para a nossa vida! Como é grande e profundo esse amor de Deus por nós! É um amor que não falha, que sempre segura a nossa mão, nos sustenta, levanta e guia.
No evangelho de João, o apóstolo Tomé experimenta precisamente a misericórdia de Deus, que tem um rosto concreto: o de Jesus, de Jesus ressuscitado. Tomé não confia nos demais apóstolos, quando lhe dizem: “vimos o Senhor”, para ele, não é suficiente a promessa de Jesus que havia anunciado: ao terceiro dia ressuscitarei. Tomé quer ver, quer colocar a sua mão no sinal dos cravos e no peito. E qual a reação de Jesus? A paciência: Jesus não abandona Tomé relutante na sua incredulidade; dá-lhe uma semana de tempo, não fecha a porta, espera. E Tomé acaba por reconhecer a sua própria pobreza, a sua pouca fé. “Meu Senhor e meu Deus”: com essa invocação simples, mas cheia de fé, responde à paciência de Jesus. Deixa-se envolver pela misericórdia divina, vê-a a sua frente, nas feridas das mãos e dos pés, no peito aberto, e readquire a confiança: é um homem novo, já não incrédulo mas crente.
Recordemos também o caso de Pedro: por três vezes renega Jesus, precisamente quando Lhe devia estar mais unido; e quando chega ao fundo, encontra o olhar de Jesus que, com paciência; e, sem palavras, lhe diz: “Pedro, não tenhas medo de tua fraqueza, confia em mim”. E Pedro compreende, sente o olhar amoroso de Jesus e chora... Como é belo esse olhar de Jesus! Quanta ternura! Irmãos e irmãs, não percamos jamais a confiança na paciente misericórdia de Deus!
Pensemos nos dois discípulos de Emaús: o rosto triste, passos vazios, sem esperança. Mas Jesus não os abandona: percorre juntamente com eles a estrada. E não só; com paciência, explica as escrituras que a Si se referiam e para na casa deles, partilhando a refeição. Este é o estilo de Deus: não é impaciente como nós, que muitas vezes queremos tudo e imediatamente, mesmo quando se trata de pessoas. Deus é paciente conosco, porque nos ama; e quem ama compreende, espera, dá confiança, não abandona, não derruba as pontes, sabe perdoar. Recordemos na nossa vida de cristãos: Deus sempre espera por nós, mesmo quando nos afastamos! Ele nunca está longe e, se voltarmos para Ele, está pronto para nos abraçar.
Causa-me grande impressão a releitura da parábola do pai misericordioso; impressiona-me pela grande esperança que sempre me dá. Pensai naquele filho mais novo, que estava na casa do pai, era amado; e, todavia, desejava a sua parte na herança; abandona a casa, gasta tudo, chega ao nível mais baixo, mais distante do pai; e, quando tocou o fundo, sente saudades do calor da casa paterna e regressa. E o pai? Teria esquecido o filho? Não, nunca! Estava lá, avista-o ao longe, tinha esperado por ele todos os dias, todos os momentos: como filho, sempre esteve no seu coração. Apesar de tê-lo deixado e malbaratado todo o patrimônio, isto é, a sua liberdade; com paciência e amor, com esperança e misericórdia, o pai não tinha deixado nem um instante sequer de pensar nele, e logo que o vê, ainda longe, corre ao seu encontro e o abraça com ternura – a ternura de Deus -, sem uma palavra de censura: voltou! Isso é alegria do pai; naquele abraço ao filho, está toda essa alegria: voltou! Deus sempre espera por nós, não se cansa. Jesus mostra-nos essa paciência misericordiosa de Deus, para sempre reencontrarmos confiança, esperança! Um grande teólogo alemão Romano Guardini, dizia que Deus responde à nossa fraqueza com a sua paciência e isso é motivo da nossa confiança, da nossa esperança. É uma espécie de diálogo, que, se entrarmos nele, nos dá esperança.

Gostaria de sublinhar outro elemento: a paciência de Deus deve encontrar em nós a coragem de regressar a Ele, qualquer que seja o erro, qualquer que seja o pecado na nossa vida. Jesus convida Tomé a colocar a mão em suas chagas das mãos e dos pés e na ferida do peito. Nós também podemos encontrar nas chagas de Jesus, podemos tocá-Lo realmente; isso acontece em todos as vezes que recebemos, com fé, os sacramentos. São Bernardo diz numa bela homilia: “Por estas feridas [de Jesus], posso saborear o mel dos rochedos e o azeite da rocha duríssima, isto é, posso saborear e ver como o Senhor é bom”. É justamente nas chagas de Jesus que vivemos seguros, nelas se manifesta o amor imenso do seu coração. Tomé o compreendera. São Bernardo pergunta: Mas, com que poderei contar? Com os meus méritos? Todo “o meu mérito está na misericórdia do Senhor. Nunca serei pobre de méritos, enquanto ele for rido de misericórdia: se são abundantes as misericórdias do Senhor, também são muitos os meus méritos”. É importante a coragem de me entregar à misericórdia de Jesus, confiar na sua paciência, refugiar-me sempre nas feridas do Seu amor. 
Papa Francisco. A Igreja da misericórdia. 

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